Mestre Shisui - De Liara a Katara

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O que é exatamente crescer? Quando que chegamos a conclusão que podemos fazer coisas perigosas? Quando deixamos de ser crianças?

A vila da folha inteira sabia o que meu pai havia feito, todos aqueles homens e mulheres sabiam exatamente como era difícil para o quarto Hokage  ter selado uma besta de cauda dentro de seu próprio filho. No entanto, sempre fomos esquisitos, fracos, e ao olhar da maioria da aldeia, duas crianças problema. 

Shisui me deu uma nova chance, me treinou para ser uma ninja, para me defender, para sobreviver ao mundo shinobi. E como retribuição aceitei fazer uma missão em nome dele. 

Haviam se passado quase dois anos desde que saí de Konoha, embora quisesse, Shisui não podia negar que eu havia me esforçado muito para conseguir evoluir, e conforme a missão fosse se encaminhando eu me tornaria ainda mais forte. Todavia, para o começo dela, eu precisava antecipar os passos de um Akatsuki e não podia ter a aparência da filha do quarto Hokage. 

— Lembre-se de não molhar o cabelo na frente de ninguém. — as mãos dele estavam nas pontas do meu cabelo, deslizava a tinta branca pelos fios transformando o vermelho em branco. — Me prometa que não confiará em ninguém... 

— Posso tentar. — sorri levemente, fazia muito tempo que ele não se permitia brincar, mas acabou rindo comigo. — Minha vida é mais importante que qualquer outra, não?

— Se eu estiver certo, você ainda tem muito para ensinar ao mundo ninja. — seus dedos deslizavam suavemente obrigando a tinta a penetrar. — Seja fiel a sua consciência. 

Eu não sabia se isso queria dizer que eu devia ser fraca ou sempre me subestimar, mas acolhi como um bom conselho. Depois daqueles tempo ali, eu não poderia ser mais a mesma Liara, precisava mostrar ao mundo a ninja que eu havia me tornado — mesmo que para eles isso não significasse o mesmo que significava para mim. 

Fizemos uma última refeição juntos, Shisui cozinhou meu prato favorito, um delicioso Gyudon com carne de coelho — era a única carne que consumíamos naquele ponto da floresta — e pela primeira vez na vida pude sentir que sentiria falta de alguma coisa, afinal, muito diferente da minha mãe, eu não sabia cozinhar quase nada que realmente ficasse comestível. Sentiria falta da comida do Uchiha, não podia negar. 

No entanto, tudo aquilo foi breve, não quis me despedir porque jurei a ele que voltaria bem e traria comigo o amigo que ele perdeu há nove anos, mesmo que aquilo custasse minha vida, todavia, jurei que se tivesse que morrer, seria diante seus pés, para provar que nossa dívida estava paga. Minha insistência em pagar por aquele treinamento deixou meu mestre apreensivo, ele sabia que eu procuraria uma forma de fazer isso — mesmo que ele não concordasse — então achou melhor me ajudar, desta forma eu poderia me machucar menos. 

Conforme meus passos me levavam para longe de Shisui, eu sentia que minha visão piorava, a selva não era nada além de borrões, uma mistura de verde e branco que eu insistia em seguir. Sabia exatamente onde precisava ir e enquanto meus pés guiavam-me ao caminho do desconhecido, minha mente trabalhava numa abordagem a altura da pessoa que eu encontraria: Konan. 

A máscara de gato estava presa a meu rosto e tudo que podia ser visto eram meus olhos, redondos e parecidos com os de minha mãe, meu cabelo estava maior, tingido de branco, e sobre meu corpo uma capa negra me protegia dos raios de sol. Era inicio do ano, eu ainda tinha tempo, tinha calma, e tinha uma informação. Pouca coisa Shisui sabia sobre a Akatsuki, mas todas suas informações estavam confiadas a mim, e eu não podia desperdiçá-las.

Na lápide o nome Yahiko estava escrito com uma caligrafia trêmula, não havia data de chegada ou partida neste mundo, mas eu sabia que hoje era seu aniversário e ela estaria aqui para presenteá-lo com um buque de flores de papel. Pouco sabia da importância daquele tumulo, no entanto, precisava da confiança daquela que choraria em cima dele, mesmo que isso, em outro momento de minha vida, parecesse cruel. Fiquei ali por horas, esperando, o chakra camuflado exatamente como Shisui me ensinara; o sol quente esquentava o tecido da manta negra e isso me fazia lembrar de Sunagakure e como daqui anos alguns meu casamento com o atual Kazekage deveria ser a festa mais esperada da pequena aldeia, se é que ela vá existir. Não tinha nada contra a aliança, apenas contra o monstro selado dentro do noivo. 

Ladrões atravessaram o portão do pequeno cemitério munidos com pás e materiais para escavar, já havia os observado dias antes, roubavam possíveis joias enterradas com os cadáveres. Ousei sair de onde estava e caminhar para ganhar a visão deles, sem máscara, com uma expressão inocente e assustada, atraente para homens que foram pegos fazendo algo de errado. O primeiro a notar minha presença era alto, imensamente alto, trazia em seu ombro uma pá de cabo mais longo e sua expressão era choque e perversão. 

— O que faz aqui, mocinha? 

A pergunta era retorica, pouco importava o que eu fazia ali, na cabeça deles não poderia sair viva para  dizer aos outros o que faziam. Tive um misto de ansiedade e dor, eu sabia o que eles pensavam e tinha certeza que para eles seria fácil se livrar de um corpo pequeno como o meu. Não demorou muito para eu sentir o chakra dela, sútil, mas ferroz, ela estava longe mas tinha visão suficiente para me ver brilhar.

— Os mortos deviam poder descansar. — falei desatando o nó de minha capa, ela foi ao chão revelando minha katana e meus cabelos brancos. 

— Crianças não deveriam se meter no que não é da conta delas. 

O mais alto segurou a pá, meus dedos lançaram para cima uma kunai e o olhar deles fora atraído para ela, como um raio meu corpo costurou o ar, teletransportando-se para os pontos que a kunai passara, quando voltei a pisar no chão, ao lado do túmulo de Yahiro, os homens despencaram e voltei a guardar a arma no bolso em minha pochete. 

— Sei que está ai. — minha voz era firme, mas meus dedos tremiam levemente. — Não irei atrapalhar seu luto. 

Eu esperava um combate, mas a Akatsuki caminhou em minha direção, segurando as flores, e quando se aproximou me mostrou um sorriso gentil. O topo de minha cabeça batia em seu ombro e mesmo que eu não pudesse contemplar com meus próprios olhos sua beleza, tinha certeza que ela era linda. Deixei de camuflar meu chakra quando ela começou caminhar para longe, a energia nada sútil que saía de mim chamou sua atenção. 

— Qual o seu nome? — Konan me olhou por cima dos ombros.

— Katara... — aquele era meu nome daquele dia em diante. 

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