capítulo 17

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AVISO DE CONTEÚDO: álcool, menção de sexo, crise.

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A iluminação da lâmpada branca fluorescente do bar refletia nos espelhos da parede atrás das prateleiras e acentuava as diferentes cores dos líquidos e garrafas dispostas em uma ordem que não parecia nada específica ou organizada. A bartender misturava os líquidos de maneira hábil e performática, chamando a atenção de todas as pessoas que circundavam o balcão.

Na pista de dança os corpos ignoravam a batida da música, muito mais ocupados em tentarem desafiar as leis da física e ocupar um mesmo espaço. Havia algo estranho no ar naquela noite. Taehyung tomou o resto de sua Coca Cola em um só gole e se alongou, desencostando do balcão e sentindo-se extremamente entediado por qualquer coisa que não fosse a forma fascinante que a mulher de terninho do outro lado bar fazia e servia os drinks.

Taehyung checou seu celular, esperando por algo que nem ele mesmo sabia o que, e encontrou absolutamente nenhuma resposta. Nenhuma mensagem, nenhuma propaganda ou evento de festa mais interessante. Ele suspirou, se despediu da bartender com um aceno de cabeça e foi em direção à saída. Talvez algo chamasse sua atenção no caminho, pensou. Mas nada parecia interessante. E havia algo estranho no ar.

Fora da boate o ar da noite não estava frio nem quente. A temperatura era simplesmente agradável. Simplesmente um dado factual. Taehyung andava pela calçada com as mãos nos bolsos prestando pouca atenção na paisagem à sua volta. Seu olhar permanecia à sua frente, fixado em não esbarrar em nada nem ninguém pelo caminho. Seu coração parecia pesado, apertado dentro de seu peito.

Pouco a pouco a rua parecia cada vez menos iluminada. O neon dos letreiros era substituído gradativamente por luzes alaranjadas advindas de postes com metros e metros de altura; as músicas, risadas e vozes aos poucos davam espaço para o silêncio. E Taehyung continuava seu caminho, sem rumo certo, sem pensar, apenas caminhando. Seu coração cada vez mais pesaroso, mais dolorido, ao ponto que suas costelas pareciam prestes a implodir.

As luzes dos postes pareciam a cada metro percorrido mais iridescentes e a rua cada vez mais escura. Taehyung tinha a impressão de que se olhasse para baixo não veria mais a diferença do que era asfalto e o que era cimento da calçada. Não fazia mais diferença. No escuro tudo parecia o mesmo.

Vazio.

Absoluto vazio.

Taehyung olhou em volta para a escuridão que o cercava. Em seu peito um buraco negro tentava se alimentar de si mesmo, como se cada parte de seu corpo estivesse sendo sugada em direção ao seu coração. Taehyung gritou. Tentou gritar. Mas nenhum som saía de sua garganta. Taehyung correu. E a cada passo Taehyung parecia sentir mais dor, mais desespero.

Sua respiração já ofegante tornava cada vez mais difícil manter a velocidade. Há quanto tempo Taehyung corria? Minutos? Horas? Dias? Há quanto tempo Taehyung fugia.

Taehyung fugia.

Olhou para trás de si, de onde ecoava o silêncio mais fúnebre, mais persecutório que Taehyung já presenciara em todos os seus anos de existência. Nada. Não havia nada lá. Sozinho. Taehyung estava sozinho. O chão debaixo de seus pés parecia tremer. Taehyung já não era capaz de correr. Seu rosto estava quente; molhado. Taehyung permanecia tentando gritar, sem ser capaz de emitir qualquer som.

Primeira batida. Taehyung sentiu algo molhado escorrer por suas bochechas.

Segunda batida. Suas pernas falharam e Taehyung caiu ajoelhado no chão.

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