capítulo 27

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AVISO DE CONTEÚDO: menção de conteúdo sexual, dirty talking, tretah, temas hereges???

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Taehyung não acreditava que havia sido convencido de fazer terapia. Era desconfortável e, sinceramente, grande parte da sessão consistia no moreno com sentado em alguma posição estranha e em absoluto silêncio apenas encarando seu terapeuta sem dizer uma palavra sequer. E, aparentemente, seu terapeuta não tinha problema algum com aquilo, pois sustentava o silêncio melhor que ninguém.

Claro, não era de tudo ruim; a terapia ajudava muito. Mesmo. Mas os momentos desconfortáveis eram gritantes.

O terapeuta simplesmente o encarava com olhos sem expressão e um sorriso leve nos lábios - ele sempre tinha aquele sorriso nos lábios, Taehyung hipotetizou que era impossível que o senhor Kang ficasse bravo, incomodado, irritado ou qualquer sentimento negativo; mas talvez fosse simplesmente o formato natural de sua boca. Era incômodo. Taehyung estava incomodado. E, ah! O senhor Kang sabia. Ele sabia e não fazia nada sobre isso. Porque o silêncio era importante, ele dizia. O silêncio revelava muito. Pro inferno com o silêncio, Taehyung pensava, mas não tentava preenchê-lo por medo do que poderia sair de sua boca.

Senhor Kang cruzou uma perna em cima da outra e Taehyung sentiu-se impelido a mudar de posição em sua poltrona também, coçando sua nuca e olhando em volta de si, tentando fugir do olhar analítico de seu terapeuta. O consultório era estranhamente colorido e animado e não combinava com a idade aparente do psicólogo - mas, afinal, a idade aparente do senhor Kang não era sua idade real, assim como a de Taehyung. Talvez Taehyung tivesse passado muito tempo na Terra e estivesse muito acostumado com as expectativas aparentes das idades humanas. Ele não se importava em chamar Yoongi de hyung, sendo que ele era existencialmente infinitamente mais velho que Yoongi, ou o senhor Kang de senhor, quando eles tinham basicamente a mesma idade.

As paredes branco-gelo eram complementadas por estantes, em formatos de quadrados, coloridas. Sete ao todo distribuídas em três das paredes do consultório, sendo que a quarta - a imediatamente atrás de Taehyung - dava espaço para uma grande janela. Cada uma correspondente a uma cor do arco-íris. Dentro delas livros, plantas, objetos de decoração que representavam diversas culturas. O senhor Kang claramente seguia a linha Junguiana de psicologia, sempre retomando com Taehyung seus sonhos e os simbolismos por trás deles. A decoração do consultório ia de encontro com sua teoria, com símbolos de diversas culturas, de diversas crenças. Taehyung gostava disso, ele gostava da pluralidade.

"O senhor já foi pro Egito?" Taehyung perguntou despretensiosamente. O senhor Kang assentiu. "É legal? Foi um dos países que eu nunca fui... "

"Você viajou muito após a queda, certo?" Senhor Kang perguntou e Taehyung murmurou. "Sente falta disso?"

"Ah... Na verdade não muita." Taehyung deu de ombros. "Não do mesmo jeito, sabe? Tipo... Agora eu tenho vontade de conhecer os lugares, mas não é a mesma coisa... Eu acho que eu só queria fugir, sabe? Agora... Eu não sinto vontade de fugir. Pelo menos não sempre." Senhor Kang assentiu. "Às vezes sim... Mas a ideia de abandonar meus amigos e o Yoongi não me agrada muito, sabe? Não por eu sentir que é uma obrigação, mas porque... Estar com eles me faz bem."

"Taehyung, como você se sente agora em comparação a antes de cair?" Senhor Kang perguntou e Taehyung franziu o cenho. "Se você tivesse que fazer uma comparação de sua existência pré e pós queda, atribuir valores, designar sentimentos... Quais seriam?" Taehyung hesitou por um instante, abraçando suas pernas contra o peitoral.

"Acho que eu me sinto mais vivo hoje. Como se... antes eu só existisse. Meio sem propósito, sabe? Eu fui criado e por isso eu existia." Taehyung disse. "Não que eu tenha encontrado um propósito pra minha existência depois de cair, mas... Eu não tenho buscado mais tanto por um também. Principalmente hoje em dia... Eu mais vivo do que busco um motivo pra isso. E eu acho que de modo geral eu sou mais feliz também. Eu não preciso ficar me preocupando com tantas coisas, minhas ações têm consequências, mas não são consequências severas e desproporcionais, sabe? Se eu arranjo uma briga eu sei pelo que esperar, se eu faço sexo eu sei pelo que esperar, se eu faço alguma coisa boa pra alguém eu sei pelo que esperar. Antes de cair as minhas ações podiam ter quaisquer consequências que o Conselho julgasse apropriadas."

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