Não me importaria se você sumisse

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Chegamos em casa, eu entrei com passos rápidos para dentro da casa mas de longe eu podia ver minha motorista e agora cuidadora vir caminhando calmamente até a porta.

Paro no pé da escada.- Isso é sério mesmo?

- Calma aí meu chefinho, até parece que você vai odiar passar um tempinho comigo.

- Eu vou odiar sim! Inclusive já estou odiando! Eu odeio todo mundo nessa casa, meus pais, os funcionários e você também! Eu não ligaria se você sumisse! - Grito e subo as escadas até o meu quarto .

- Garotinho mal humorado... pois é lá vamos nós de novo. - ela sorri e sai da sala indo em direção a cozinha.

Uma mulher um pouco mais velha estava na cozinha preparando alguma coisa, ela era uma das poucas empregadas da casa que não foi dispensada dos serviços. Assim que a mulher a viu ela se curvou e comprimentou Cler com receio.

- B-boa tarde senhora! O que a traz a minha cozinha? - a mulher tinha um certo nervosismo na voz.

- Ah! Eu vim ver essa espelunca aqui que você chama de cozinha! A senhora Montrenez me disse que seus serviços estão de péssima qualidade! - disse cruzando os braços.

A mulher parecia suar frio e arregalou os olhos com medo.
Ela ouviu um riso bem alto vindo de Cler e ficou completamente confusa.

- Desculpa! Eu só tava te zoando!

- O-oh...

- Não precisa ficar assim tão tensa! Eu sou uma pessoa bem legal sabia? Não tem nenhum motivo pra ter medo de mim. Sou a Cler e você? - disse agora com um sorriso.

- Ahn... sou a Eliza... senhora.

- Vou te chamar de Eli, e aí Eli! Tá fazendo o que?

- Ahn, bem eu estou preparando o almoço senhora, já está quase no ponto.

- Uhum, entendi, mas não precisa me chamar de senhora, só Cler já está bom.

- Como quiser, Cler.

- Você já trabalha aqui a algum tempo? - falou apoiando os braços no balcão.

- Sim, creio que já irão fazer 17 anos.

- Poxa, você viveu tanto tempo aqui no meio dessa família maluca... o garoto também implica com você?

- Senhor Ícaro? Bem, ele era bem difícil de se lidar desde criança mas mesmo assim ele não é tão ruim depois que ele o conhece, na verdade ele é um amorzinho de rapaz..

- Amorzinho de rapaz? Estamos falando do mesmo cara?

Eliza sorri genuinamente.- Acho que sim, ele só fica chateado por conta dos pais controladores e acaba descontando isso em qualquer um... mas ele não quer ser ruim entende?

- ... É, eu acho que entendo.

A panela fazia um barulho indicando que o conteúdo já estava pronto. Eliza voltou a concentrar-se em seu trabalho desligando as panelas, Cler já estava se virando para sair.

- Por favor, avise ao senhor Ícaro que o almoço está pronto. - Eliza sorriu simpática.

- Pode deixar! Esse é meu trabalho.- Cler sorri de volta e sai da cozinha.

Cler sobe as escadas e para em frente a porta do quarto de Ícaro e bateu sutilmente.

- Quem é? - saiu uma voz abafada de dentro do quarto.

- Sua querida companheira, Cler. Posso entrar?

- Não!

Cler entra no quarto e fecha a porta.

- Obrigada já entrei.

- Você é doida? Não te dei permissão para entrar! - ele falou com o travesseiro no rosto.

- Que pena, bom eu só vim avisar que o almoço está pronto.

- ... - ele se vira de costas na cama.- Eu não quero comer...

- É? Por que não?

- Por nada... só me deixa.

Ela se deita ao lado dele na cama. Ele se vira assustado.

- Hey! O que pensa que está fazendo?

- Te fazendo companhia! Se você não vai descer para almoçar eu vou ficar aqui com você.

- O-o quê? Não! Por quê?

- Ah... sei lá

- Olha aqui garota, eu não sei o que está tentando fazer mas eu não estou com vontade nenhuma de entrar no seu joguinho! Eu estou com problemas maiores agora!

Ele falou e Cler pode ver seu rosto melhor agora, estava vermelho e um pouco inchado, parecia que estava chorando.

- Não estou fazendo joguinho nenhum... só estou tentando ser legal..

- Bom não tá funcionando! Eu não confio em você, e mesmo que você não esteja do lado dos meus pais isso não faz de você minha amiga! Agora me deixa sozinho! - Ele gritou e virou o rosto, tentou ficar quieto o máximo que pode mas Cler sabia que ele estava chorando de novo.

- Sinto muito.. eu..eu vou indo.- Ela sai do quarto e fecha a porta.

Ela desce as escadas a passos lentos refletindo um pouco, Ícaro Montrenez era mesmo só um garoto mimado ou era algo mais complexo que isso? Talvez nada do que ele diga seja o que realmente esteja sentindo... talvez ele esteja tão perdido e sozinho quanto ele tentava não parecer.
Cler vai até o jardim na parte do pátio da casa/ mansão, era um lugar bem cuidado e com flores de vários tipos inclusive a sua favorita: tulipas, Cler gostava de todas as cores mas as tulipas roxas eram as que ela mais amava, ela se abaixa e sente o aroma leve das plantas super bem cuidadas.

- " Apesar de todo o mal e desconfiança da família que vive nessa casa, uma coisa bela e gentil pode florescer aos arredores de todo esse caus".- Disse Cler em seu momento de reflexão.

- É uma boa frase.. - Disse um senhor de idade já bem avançada, que usava um avental e uma boina cinza.

- Oh, obrigada. Quem é o senhor?

- Eu sou o jardineiro responsável daqui, me chamo Miguel, e o que uma jovem tão bonita faz aqui?

Cler da uma risada.- O senhor é um cavalheiro, não precisa exagerar. Eu sou a Cler, a nova cuidadora e motorista particular do senhor Ícaro.

- Entendo, você me parece muito jovem para ocupar cargos desse porte.

- Ah imagina! Eu me viro muito bem.

- Não duvido não, mas olhe só se o pequeno Ícaro ficar muito agitado com você, você pode mostrar uma borboleta a ele, ele adora as borboletas amarelas.

- Ahn, valeu pela dica, eu acho.

- Ou você pode mostrar uma galinha! Ele morre de medo de galinhas. - o senhor da uma risada e Cler o acompanha.

- Gostei! Valeu mesmo senhor Miguel.

- Não há de que madame! Sempre estarei aos seus serviços! - ele se vira e começa a regar as plantas.

Cler continua a caminhar pelo pátio e fica pensando em como essa família pode parecer tão horrível mas ter pessoas tão gentis e de bom coração trabalhando aqui? Bom talvez sejam por isso que foram os únicos que restaram.
Ela volta para dentro da casa e pensa em alguma estratégia para tirar seu chefinho triste do quarto.


Minha motorista particularOnde histórias criam vida. Descubra agora