v. winter.

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TIFFANY

Inverno de 2014.

Eu sempre odiei o inverno, não havia pior estação que essa. Por mais que as roupas fossem lindas, eu não gostava do frio. Talvez seja o signo, talvez seja a importância do verão para mim, mas a minha vontade de fazer as coisas durante o inverno era, praticamente, nula. E, ao que me parecia, desde que voltei da Coreia, o inverno nunca havia me deixado. O verão já não fazia mais sentido, a primavera não era mais tão bonita, e o outono deixou de ser confortável. Restou somente o frio e inacabável inverno.

Sete anos se passaram desde a última vez que vi Jessica. Sete anos desde que nos falamos pela última vez. Sete longos anos que eu não possuía notícias suas, ou de sua família, e tudo o que me restou foi nossa polaroid e a carta, já tão acabadinha que quase não se conseguia ler o que estava escrito. Mas eu cuidei bem, pois quando eu estava estupidamente triste, eu gostava de lê-la. Além disso, havia também o colar de pedrinha. Eu nunca o tirava, e me perguntava se ela também ainda possuía o dela. Se ainda tinha o mesmo significado para ela que havia para mim.

Quando chegamos aqui, eu fiquei um bom tempo sem poder sair de casa, sem ter contato com o mundo exterior. Tanto pela falta de vontade, quanto por meu pai ter me proibido. Talvez, na cabeça dele, eu fosse fugir de volta para a Coreia. Não que eu não houvesse pensado nisso milhares de vezes, mas eu não tinha dinheiro e muito menos saberia como me virar até encontrar a casa da família de Jessica. E o que eu diria? Que amava a filha deles e que queria ficar com ela? Talvez eles surtassem também e expulsassem nós duas. Então, estaríamos perdidas de vez.

Yoona e Sooyoung só ficaram sabendo que eu havia voltado para São Francisco um ano depois de ter acontecido, porque eu havia entrado em um estado depressivo tão grande que demorei tudo isso para querer sair de casa. E não pensem que isso comoveu meu pai quanto a me deixar falar com a Jessica, pois ele provavelmente achava que assim era a melhor maneira de me curar da suposta "doença" que ele achava que eu tinha.

Quando nos encontramos de novo, foi provavelmente o dia mais feliz desde que cheguei lá. Nós conversamos muito, eu tanto desabafei que não parei de chorar por meia hora ou mais, mas quem estava contando, não é?

E vocês podem me perguntar: Tiffany, você não tentou se comunicar com Jessica assim que estava livre daquela prisão domiciliar?

Eu tentei. Eu juro, do fundo do meu coração, que eu tentei. Mas talvez ela já não o usasse mais. Ela nunca respondeu, e eu também não o faria se fosse comigo, pois quem em sã consciência abandona o suposto amor de sua vida logo após uma declaração tão linda quanto a de Jessica? Sem se despedir? Sem dizer adeus?

Ela tinha total razão em não querer me ver nem pintada de ouro, e eu não poderia culpa-la por isso. Pelo contrário, se existia algum culpado nessa história, era eu. Somente eu. Se eu não houvesse sido tão burra, talvez estivessemos juntas hoje. Se eu não houvesse sido tão submissa ao meu pai, talvez nunca nem tivéssemos saído da Coreia. Eu fiz tudo errado e sei disso, mas não posso mudar o passado.

O tempo passou e eu nunca esqueci a minha menina. Eu nunca esqueci aquele sorriso que me fazia suspirar, o abraço quentinho que fazia meu coração bater agitado e as mãos, menores que as minhas, que me aqueciam e me causavam a melhor de todas as sensações. Mas me obriguei a seguir em frente. Eu entendi que, com o chegar da vida adulta e de problemas que significavam mais do que um coração partido, estava obrigada a tentar superar. Ainda doía, eu não posso negar que sim. Mas eu também aprendi a lidar com a dor, mesmo que ela me consumisse mais e mais a cada dia que passava.

Eu até havia me envolvido com algumas pessoas, nada que não passasse de uma noite. Ninguém me fazia sentir completa, por mais que eu tentasse me dar ao luxo de relacionamentos novos, eu nunca conseguia retornar para a pessoa no dia seguinte.

A verdade era que eu nunca deixaria de amar Jessica, mesmo que ela já estivesse com outras pessoas e nem sequer pensasse em mim, eu nunca deixaria de pensar nela.

Eu estava em meu pequeno apartamento no centro da cidade. Há muito eu havia deixado a casa de meu pai, para que pudesse morar sozinha e viver minha própria vida. Ainda o visitava aos fins de semana, mas nossa relação havia esfriado. Eu não o odiava, eu entendia que seu pensamento era completamente baseado em sua criação e no preconceito firmado em nossa sociedade, e muito dificilmente eu mudaria isso. Mas eu só queria um pedido de desculpas, eu só queria que ele demonstrasse se importar com o fato de eu estar feliz ou não, pois eu nitidamente não estava. Nenhum pouco.

Enquanto estava deitada encarando o teto de meu quarto, pude ouvir o barulho de notificação do meu computador. Sempre que isso acontecia, aquela pequena chama de esperança surgia, me fazendo acreditar, mesmo que só um pouquinho, que pudesse ser ela, mesmo depois de tanto tempo.

Eu me levantei rapidamente e fui até o meu laptop, abrindo-o na mesma velocidade. O estranho era que não havia sido uma mensagem ou qualquer coisa do tipo, mas sim a solicitação de uma chamada de vídeo de um ID desconhecido. Eu atendi, talvez fosse ela, talvez fosse importante, eu nunca saberia se não atendesse.

E a coisa mais inusitada do meu dia havia acabado de acontecer.

- KIM HYOYEON???

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