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tempo depois - fevereiro de 2019

*Lucas Paquetá's point of view*

Já estamos no segundo mês do ano; janeiro foi um mês meio sem graça, nada de muito importante ou diferente da minha rotina aconteceu nesse começo de ano...

Acabei de ver na internet, enquanto via algumas notícias aleatórias, uma notícia que me deixou em choque e sem acreditar, não tenho certeza se é verdade, então resolvo ligar para Diego Ribas, sabendo que ele estaria no treino nesse momento, provavelmente o último treino antes do jogo contra o Fluminense pela Taça Guanabara, afim de saber se é verdade ou não

- Oi, Paquetá - uma voz feminina soa ao atender a ligação

- Bruna? - questionei e ela assentiu - Tudo bom por aí?

- Sim, e com você?

- Bem. Onde o Diego está?

- Com os meninos, por quê? - falou referindo-se aos seus filhos

- Não teve treino hoje?

- Foi suspenso... - falou e minha ficha começou a cair

- Então é verdade...? - questionei

- Infelizmente... Estamos muito mal por isso - falou e eu me desliguei por um momento

- Os meninos estavam lá? - questionei e ela concordou - Puta que pariu! - exclamei - Algum ficou ferido? - perguntei

- Nem todos estavam lá, mas não sabemos ainda, te avisamos se soubermos de mais alguma coisa, não é muito bom confiar nesses sites...

- Tudo bem, obrigado - falei

- Tchau, Lucas - falou

- Tchau, Bruna. Avisa o Diego que eu liguei, por favor

- Aviso sim - falou e desliguei a chamada

Não era possível que aquilo estava, ou esteve, em chamas. O Ninho do Urubu. O Centro de Treinamento do Flamengo. O lugar onde eu passei momentos únicos. O lugar onde sonhos se tornam realidade para muitos meninos e meninas. Onde só os melhores jogadores passam. Onde eu já estive no lugar desses meninos que jogam no sub-14, sub-17... Onde eu, e muitas outras pessoas, conhecemos desde que éramos apenas crianças que jogavam futebol na rua com os amigos...

Depois de algumas horas, que se pareceram dias por sinal, recebo uma das piores, se não a pior, notícia da minha vida.

Haviam vítimas do acidente.

O fogo deixou feridos, deixou marcas físicas em quem se machucou, e psicológicas em quem sentiu. Causou dor naqueles garotos de apenas 14, 15, 16 anos, que ainda tinham um futuro pela frente. Causou dor nos amigos que não terão mais uma amizade. Causou dor nos familiares que não terão mais um filho, neto, irmão, sobrinho, primo ou afilhado presente fisicamente. Mas não apenas nas pessoas próximas desses menino durante sua vida, o fogo causou, e causará eternamente, dor em uma nação. Em milhões de torcedores.

Eram apenas dez adolescentes, que por um descuido de alguém ou por qualquer que tenha sido o motivo, perderam a vida tão novos, tão rápido...

Eles estavam, provavelmente, em um dos lugares preferidos deles. No Centro de Treinamento do time em que jogavam, do time para o qual provavelmente torciam desde pequenos.

Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Pablo Henrique, Vitor Isaías, Gedson Santos, Áthila Paixão, Christian Esmério, Rykelmo Viana, Jorge Eduardo e Samuel Thomas, serão nomes lembrados eternamente. Não do jeito que o mundo queria que fosse, muito menos do jeito que eles queriam ser lembrados, mas será assim, infelizmente...

Lembro de ter visto nos status do Arthur, no WhatsApp, que ele postou falando sobre lembrarmos seu aniversário de quinze anos, que seria amanhã... É uma das coisas mais tristes de se lembrar, ninguém nunca imagina que na véspera de seu aniversário, vá acontecer uma tragédia tão grande como essa e acabar com o que seria um dia importante. Provavelmente esse aniversário não será esquecido nunca mais, muito mais gente do que ele imaginaria vai lembrar dessa data; só não lembraremos de uma forma feliz como deveria ser, mas sim de uma forma completamente contrária...

Infelizmente, agora não podemos fazer mais nada para reverter a situação, o pior já aconteceu e não tem como ser mudado, mesmo que quiséssemos mudar tudo isso... Só nos resta lamentar o ocorrido e, no mínimo, ter empatia e não sair falando porcarias sobre os meninos ou sobre o acidente...

∞∞∞

duas semanas depois - 24 de fevereiro de 2018

As notícias e homenagens aos dez meninos continuam rolando pela internet, não só no Brasil, mas em outros países, inclusive alguns companheiros de time vieram falar comigo sobre isso, sabendo que eu jogava no Flamengo...

Não só torcedores flamenguistas, mas outros clubes e outros torcedores também estão fazendo homenagens, e até se colocando no lugar da nossa torcida, afinal não é fácil perder quase metade de um time; por mais que não tenha sido o time principal, eram jogadores da mesma forma e mereciam respeito e reconhecimento.

Mas como nem tudo são flores, não que o acidente seja "flores", ainda há pessoas usando o acidente para falar mal do Flamengo, para provocar o time em partidas de futebol, ou até mesmo para fazer piadas toscas por aí... Qual a dificuldade das pessoas de se colocar no lugar dos outros, de ter um pouco de empatia? Porque se fosse com seus respectivos times, tenho certeza que não estariam falando e fazendo esse tipo de coisa, então por quê fazer quando é com o time dos outros?

Enfim, depois do almoço recebi uma mensagem de Chiara pedindo para nos encontrarmos, pois ela queria falar comigo sobre algo importante; não entendi muito bem mas concordei, me arrumei e, no momento, acabei de chegar no Starbucks onde combinamos

Eu e Chiara acabamos nos aproximando desde quando vim morar aqui; e ela, assim como seu namorado, Federico, é uma das únicas amizades que tenho aqui com pessoas que não são do time...

- Oi, Chiara - a cumprimento ao chegar na mesa onde ela estava sentada, no fundo do estabelecimento

- Oi, Lucas - me abraçou e voltou a se sentar, logo em seguida eu me sentei à sua frente

- Tudo bem? - perguntou e assenti, perguntando o mesmo e recebendo uma resposta positiva - Como estão indo as coisas no Milan?

- Muito bem - sorri - E seu trabalho?

- Está indo bem...

- Mas enfim, sobre o que você queria conversar? Você disse que era importante... - questionei e ela suspirou

- Ah sim... Sobre isso que precisamos falar - falou como se quisesse adiar o assunto mas não pudesse

- Chiara? - falei após ela ficar parada por alguns segundos sem reação nenhuma

- Oi, desculpa! Primeiro de tudo: me desculpa por estar te falando isso, e principalmente desse jeito

- Você está me assustando...

- Eu juro que entendo se você não acreditar no que eu vou dizer, ou não quiser arcar com as consequências

- Chiara, fala logo por favor...

- A gente pode fazer um teste se você quiser comprovar tudo também

- Eu confio em você, não precisa de nenhum teste para qualquer que seja a tal "coisa" que você quer falar! Pode falar, Chiara

- Eu estou grávida de dois meses e uma semana, é exatamente o tempo que a gente ficou... E eu não fiquei com outra pessoa tão perto dessa data; eu estava me sentindo meio mal nessas últimas duas semanas, eu fui fazer um exame de sangue dois dias atrás e deu positivo, e.... - ela falou e logo começou a dar uma explicação tão rápido, que era praticamente impossível de entender, até porque ela começou a falar italiano muito rápido e eu ainda tinha algumas dificuldades para entender

- Puta que pariu!

∞∞∞

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More Than This [L Paquetá]Onde histórias criam vida. Descubra agora