Um turbilhão de emoções me atingiu em cheio, meus olhos arderam, meu coração bateu de forma irregular e senti certa dificuldade para respirar. Lentamente mudo a mira da minha arma para o homem bem vestido a minha direita, eu cerrei os olhos e literalmente vi vermelho.
— Wowww! Calma Macarena, calma! - Ele pediu já percebendo que eu o tinha reconhecido e não havia esquecido do que ele havia feito para mim no passado.
Magda sentindo que a tensão era maior que o normal já que nunca havia me visto tão nervosa nessas situações, interferiu:
— Senhor saia com seus amigos por favor!
— Vamos sair! - Ele disse a ela e, ainda sem tirar os olhos dos meus, dirigiu a palavra aos amigos. - Raul saia agora com o pessoal, vou acertar a conta e encontro vocês lá fora.
— Senhor não precisa nem pagar nada, somente saia por favor antes que alguém perca a cabeça, ou saia com um buraco enorme em alguma parte do corpo. - Magda pediu.
— Ah não! Ele vai pagar, vai pagar cada centavo e depois vai desaparecer. - Eu praticamente cuspi as palavras e me assustei ao perceber que eu realmente queria puxar o gatilho e não era somente por ele ter me enganado no passado, era por medo, um imenso medo do que a presença dele ali poderia causar e por mais absurdo que pudesse parecer, me peguei debatendo quantos problemas eu teria se eu o matasse bem aqui na frente de todos, ou se lhe desse ao menos um tiro nas partes íntimas, e se esses problemas seriam maiores ou menores do que o que eu poderia arranjar se ele descobrisse.
Bill colocou uma das mãos em meu ombro e a outra delicadamente no cano da arma tentando baixá-la.
— Me acompanhe por favor senhor! - Pediu minha funcionária.
Os cinco encrenqueiros saíram do pub e Pedro finalmente desviou o olhar do meu e seguiu Magda até o caixa, meu olhar de fúria o acompanhou atentamente, praticamente queimando suas costas. Ele retirou o cartão e entregou a moça que tremia, os olhos dele se voltaram para mim novamente, seu olhar parecia mais suave porém o maxilar estava visivelmente tenso.
Pedro concluiu o pagamento, o restante do bar estava alheio a isso tudo, já que conheciam minha maneira de espantar os clientes que faltam com o respeito para com os outros, Pedro caminhou em direção a porta que ficava pouco atrás de mim e ao alcançá-la se voltou para mim novamente, com o olhar intenso no meu e murmurando:
— Desculpe!
Aquela única palavra dirigida a mim, ao menos no meu âmago, me pareceu mais carregada de significado do que simples desculpas pela gafe cometida por seus colegas, então ele se foi.
Um peso inimaginável recaiu sobre mim e o desespero começou a tomar conta de todo o meu ser. Minha mente trabalhava a mil por hora, eu precisava tirar meus filhos de perto dele, quanto antes melhor, eu não conseguia pensar direito, só em meus filhos, meus filhos e meus filhos. O que eu faria?? Não posso perdê-los; não quero nem pensar.
— Magda fecha para mim hoje! - Eu pedi a minha funcionária e corri para minha casa.
Sei que o Pub está cheio e elas precisam de ajuda, mas no momento não consigo raciocinar direito.
Corri. Corri tanto, tão desesperadamente, que quando entrei pela porta da cozinha Carol se assustou. Meu peito e garganta ardiam, minhas pernas e pés reclamavam insistentemente do esforço absurdo que fiz.
— Mas o quê?! - Carol começou mas eu nem a ouvi, corri diretamente para o quarto dos meus filhos, onde eles dormiam tranquilamente. - Maca! Macarena o que está acontecendo? - Perguntou ela aflita.
— Ele está aqui! Preciso ir embora, não posso deixá-lo colocar os olhos nos meus filhos porque eles são meus! Eles são só meus Carol, só meus! - Eu respondi desesperada.
Ela me puxou para fora do quarto, encostou a porta para que eu não acordasse as crianças e me conduziu até o sofá da sala.
— Maca se acalma! Do que você está falando? Quem está aqui amiga? Eu acho que você precisa de um chá!
— Pedro! Pedro está aqui, esteve no bar agorinha pouco! - Eu consegui dizer e minha amiga ficou atônita.
— Ahn... esquece o chá, vou pegar o whisky! - Ela disse e se levantou seguindo em direção a cozinha.
Meu cérebro trabalhava a mil por hora, precisava tirar meus filhos da cidade o mais rápido possível. Quando Carol retornou, trazia com ela a garrafa e dois copos com gelo, ela serviu da garrafa para os copos e eu observei o líquido âmbar fazer sua linda dança ao se misturar ao gelo no fundo até chegar quase à borda do copo transparente enquanto isso eu batia freneticamente o pé esquerdo no chão e simultaneamente mordia o interior das minhas bochechas, reflexos do pânico que eu estava sentindo. Peguei o copo e entornei de uma só vez deixando também o gelo escorregar para dentro de minha boca e mastigando-os sem nem perceber, então pousei o copo na mesinha de centro.
— Certo! - Disse minha amiga com certo receio. - Que tal agora você me contar o que de fato aconteceu?!
Então eu contei tudo nos mínimos detalhes e o rosto dela transparecia um misto de preocupação e diversão ao mesmo tempo, se é que isso é possível.
— Apontou mesmo a arma para ele? - Ela perguntou e pressionou seus lábios um no outro na tentativa falha de esconder o riso e eu coloquei as duas mãos no rosto.
— Sim, e por Deus Carol eu realmente ponderei quais seriam as consequências se eu sucumbisse ao desejo de puxar o gatilho.
Então ela explodiu em uma gargalhada e eu acabei relaxando um pouquinho mais e ela me abraçou.
— Eu preciso tirá-los daqui Ca, não posso correr esse risco, eles são tudo o que eu tenho. - Eu falei.
— Que isso? Você tem a mim também, posso te dar mais trabalho do que eles dois juntos. - Ela tentou aliviar o mais clima.
— Ah isso você já faz! - Eu afirmei e nós duas rimos.
— Maca se acalma está bem?! Pode ser que ele estava só de passagem e foi apenas uma coincidência ele ter ido ao seu pub.
— Mas e se não for Ca?!
— Bom faremos assim então, amanhã bem cedo levaremos eles para minha casa, avisaremos a babá que por uns dias ela irá cuidar deles lá em casa e como estou de férias vou ficar 24 horas por dia com eles para garantir a segurança deles, e você pode ir trabalhar tranquila. - Disse Carol.
— Sério?
— Claro amiga, você sabe que eu te amo e amo aqueles dois anjinhos mais que tudo nesse mundo!
— Ok então, obrigado! - Eu concordei e agradeci me sentindo um pouco mais leve.
E os próximos dias foram assim, as crianças ficavam na casa de Carol e eu ia todos os dias para lá, dormir com eles. Então no sexto dia, um antes dos meus filhos virem para casa, minha campainha tocou, era apenas 7 horas da manhã. Eu estava toda descabelada, tinha fechado muito tarde o pub, não dando tempo para ir ver as crianças por conta do horário que eu tinha fechado, então dormi em casa mesmo, por causa do cansaço e do horário, ainda deitada na cama, só coloquei um penhoar para me cobrir, fiz um coque de qualquer jeito em meus cabelos e abri a porta.
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Arrependimentos do Passado - Degustação
RomanceQuando Pedro era um jovem ansioso por manter sua popularidade, permitiu que a garota pela qual estava apaixonado tivesse sua intimidade exposta para todos do colégio onde estudavam. Anos depois, em uma viagem a trabalho na Alemanha, Pedro reencontr...