Parte 1

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No altar erigido sobre uma mesa pequena e antiga, feita de Jacarandá-da-Bahia, que ficava sob a janela do quarto-sala, estava o único item que lembrava a enfeite natalino, embora já fosse parte consagrada daquele espaço ecumênico doméstico:

um pequeno presépio feito artesanalmente em terracota, de Mestre Vitalino, trazido de uma feira popular de João Pessoa em alguma das férias dos últimos dez anos.

Ao lado do rústico presépio estava uma bonita imagem de Cristo Rei, feita em gesso por um artesão de Minas, cujo manto era em cetim vermelho e o cetro e coroa eram mesmo de ouro, ou pelo menos seu revestimento o era.

Nesse altar simples, de poucos elementos, havia apenas um pequeno obelisco de quartzo límpido e uma drusa de pirita, consagrados ao Cristo Rei.

E diante das duas estatuetas estava o agrado que todos os anos Emmanuel oferendava em ocasião da Santa Natividade.

De um pequeno jarro de cerâmica branca, que estava encostado à parede entre o Cristo Rei e o presépio, erguiam-se majestosos lírios e copos-de-leite, todos brancos.

Mas o que perfumava profundamente o ambiente era o incenso de flor-de-laranjeira, cuja voluptuosa fumaça formava uma bruma entorno da fraca chama da vela de 7 dias, que se manterá queimando até o Ano Novo, quando uma nova oferenda será feita naquele mesmo altar.

Duas tigelas de cerâmica, uma com Acaça e a outra com Ebô, e uma taça com água-de-coco, era a ceia oferecida por Emmanuel a Oxalá, à véspera do Natal.

Estrela do Oriente
Que guiou os três Reis Magos
Para os campos de Jerusalém
Aonde Jesus nasceu
Guiou com muito Amor e Luz
Os filhos de Jesus
Epa Orixalá
Auê Porixalá
Ilumina o meu espírito
Para a Estrela me guiar
(Ponto cantado de Umbanda)

Assim que terminou seu Orim-orixá, sua oração para o Natal, dedicada a Cristo Jesus sincretizado com Oxalá, Emmanuel soergueu-se do tapete trançado em fibras de Palha da Costa, donde estava com a testa baixada.

Bateu palma três vezes, agradeceu e se despediu, erguendo-se finalmente em pé.

Emmanuel era um jovem médico do Rio Grande do Sul, morando no Rio de Janeiro há quase um ano, por ocasião da efetivação de um cargo público no principal hospital da Cidade.

Era a primeira vez que o rapaz passaria o Natal longe de sua família, seus pais, irmãos e sobrinhos.

Apesar da solidão naquele conjugado, num prédio antigo no Estácio, na Zona Norte, ele sentia-se feliz, e só tinha a agradecer pelo ano tão promissor para sua vida e carreira.

E se morava sozinho e estava longe da família, longe também estava de sentir-se só e melancólico.

Desde que chegou para fixar residência no Rio, as Forças Superiores o encaminharam a um Terreiro onde poderia dar continuidade ao seu trabalho espiritual.

Lá chegando, foi tão bem recebido pelo Dirigente da Casa como se já fosse um velho amigo.

E Seu Jamil, de enorme coração, acabou “adotando” Emmanuel, e era entre a família do Filho de Xangô que o rapaz passaria o Natal.

Despediu-se de seu pequeno peji com a mesura típica de um Filho de Fé, apagou as luzes e saiu para a festa da sua primeira Santa Natividade longe de sua família de sangue, mas junto à sua família de coração, que o acolhera com tanto carinho.

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