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    Alice estava extremamente atrasada, não que isso seja uma novidade mas agora era sério e se ela não aparecesse iríamos sem ela no passeio do terceirão.
Felps chega para perto mas apenas se senta já que não tinha mais lugares, apenas um do lado do professor Alex, de física.
Estou nervosa, sonhamos em ir nessa viagem dês do oitavo ano e ela vai perder por um atraso.

— Todos aqui? Podemos ir? — A diretora diz pegando a chamada.

— Não! Não senhora... A Alice já está chegando... É que o ônibus dela quebrou lá embaixo. — Minto, conhecendo ela com certeza seria a desculpa que ela usaria.

    Eu deveria ter tocado a campainha dela antes de sair mas não, eu achei que ela já estaria aqui.

— Beatriz, é injusto esperar por uma pessoa enquanto todos estão aqui.

— Ela esperaria por vocês! — Eu digo e ela revira os olhos.

— Mas é sério, um ônibus quebrou lá embaixo e ela mandou mensagem que está chegando. Quinze minutinhos, que diferença vai fazer? — Felipe se intromete e ela da de ombros.

— Ok, duas pessoas falando é mais convincente que uma. Vamos esperar mas só quinze minutos. — Ela diz dando ênfase no só e sai do ônibus, provavelmente para pegar alguma coisa na escola.

— Obrigada, Felipe. — Eu digo e ele assente.

— Felps. E não foi nada. — Sorrio.

— O apelido pegou, não? — Ele da de ombros sorrindo para mim.

    Por breves momentos a frase "que lindo sorriso" se passou pela minha cabeça mas logo meus pensamentos voltaram para a minha amiga que não chegava de jeito nenhum.

(...)

    Após exatos 14 minutos Alice entra pela porta do ônibus esbaforida e da apenas uma olhada em todos vendo que o único lugar disponível seria ao lado do professor, mas antes ela parou o olhar em mim e em Felps por longos segundos e deu um sorriso colocando a mala dela no lugar.
Finalmente poderia relaxar em paz.

— Eu posso abaixar um pouco o banco? — Pergunto para Alan atrás de mim e ele apenas assente com os olhos tão concentrados na estrada que parecia até mesmo o motorista.

    Alan é um dos novos amigos de Felps (sinceramente ainda é estranho para mim chamá-lo assim) e na verdade ele adquiriu muitos amigos depois de um tempo mas os mais próximos são Alan e um loiro que eu não consigo gravar o nome. Os dois estão sentados juntos atrás de nós o que faz Felps sobrar na conta.
Claro que ele tem outros amigos, assim como eu tenho mas esses são os que eu mais vejo com ele.

    A escola levará a gente para a praia, nem todos vão a esse passeio e sinceramente eu não entendo muito bem o critério que eles usam. Sei apenas que temos uma "casa" lá e que nunca vai muita gente, apesar do ônibus lotado não tem nem cem pessoas aqui dentro.

    Encosto minha cabeça no banco e olho para o lado onde Felps está e ele tenta enfiar a cabeça dentro do pano que fica no banco.

— Felipinho, você nunca vai conseguir desse jeito — Eu digo e ele me encara. Como se eu lesse vários pontos de interrogação em seus olhos eu puxo o pano. — Vai. — Eu digo e ele rapidamente consegue colocar a cabeça no pano.

— Agora me sinto inteiro, Bea. — Eu sorrio para ele e volto para a posição inicial: encostada no banco olhando para a janela.

— Você vai dormir? — Ele pergunta e eu olho para ele.

— Não, tá muito cheio aqui.

— E dai? — Ele diz e eu nego

— E daí que eu ronco, muito. — Ele da de ombros.

— Então conversa comigo até eu pegar no sono. — Não entendo muito bem mas aceito a proposta. — Sobre o que quer conversar? — Ele diz de olhos fechados.

— Sobre o quanto eu não consigo te levar a sério com isso na cabeça. — Digo segurando a risada e ele da de ombros novamente.

— Eu sou genial e isso é muito bom. — Ele diz e eu rio.

— Grande parte das pessoas sabe que isso é para prender a cabeça. Você pode até ser genial mas não por causa disso. — Eu digo e ele abre os olhos.

— Todo mundo sabe e você me deixou acreditar que era uma invenção minha? Uma genial invenção minha. — Ele nega com a cabeça, pelo menos tenta já que o pano prende ele o impedindo de fazer isso. — Lembra que eu colecionava pedras? — Ele diz e eu me lembro dele me mostrando uma pedra azul mas daquelas bem comuns de bater cimento.

— Lembro. — Eu solto um grunhido que deveria ser uma risada se eu não estivesse reprimido ela. — Lembro também que você não colecionava só pedras mas qualquer quinquilharia que achasse no quintal. — Ele sorri.

— Verdade. Mas não é bem por aí não, tá?

— E você coleciona algo ainda? — Ele fecha novamente os olhos e parece pensar na pergunta.

— Acho que não, nada que possa ser considerado uma coleção pelo menos. E você coleciona algo? — Mordo o lábio tentando me lembrar mas nada vem a minha mente.

— Na verdade não. — Volto a olhar para a janela quando vejo que ele não iria olhar mais para mim. — Você lembra daquele dia que você "sem querer" enfiou um giz de cera no nariz e teve que ir para casa? — Ele ri.

— Lembro. Foi sem querer mesmo, ok? E ganhei um giz de cera nesse dia. — Ele começa a rir da própria piada e eu o acompanho.

    Apesar de parecer triste o único assunto que você parece ter com essa pessoa é relembrar o passado na verdade é quase reconfortante como se não devesse nada a essa pessoa. Ficar lembrando desses momentos é esclarecedor até para ver o porquê de certos atos daquela pessoa (que talvez hoje não saiba explicar) e que no momento eu não entendi. E parece ser mais confortável pelo simples fato de ser com ele e eu nem ao menos sei dizer porque.

Viagem || FelpsOnde histórias criam vida. Descubra agora