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    A festa seria hoje à noite mas simplesmente porque ontem trabalhamos como condenados.

— Ninguém além da Maíra tem um par? — Ellora pergunta enquanto procuravamos roupas pra ir para o baile.

— É, estávamos pensando em ir sozinha porque... Sim. — Eu digo e Ellora assente.

    Maria chega e se deita na cama dela, jogando os pés em cima da parte da beliche que segura a de cima, fazendo com que os pés dela ficassem na minha cara e na cara da Alice também que estava bem próxima.

— Maria, pode colocar os pés para lá? — Ela olha e ignora. Eu chego para o lado ignorando a presença dela também.

— Maria, seu pé tá na minha cara. Tira por favor? — Faço um sinal ignora-la mas Alice já estava estava ficando irritada e simplesmente não viu. — Eu pedi por favor! Você é surda? — Maria a encara fazendo um sinal em libras.

"Sim."

    Alice já extremamente irritada respondeu também com vários sinais.

"Legal. Tira o pé da minha cara antes que eu enfie meu pé lá!"

    Maria por sua vez, não deixou barato.

"Os incomodados que se mudem."

    Dessa vez Alice não respondeu com um sinal em libras mas sim com um universal, ela lhe entregou um dedo do meio. Maria não estava certa mas não é nosso quarto, mas sim da Ellora então tecnicamente ela não é obrigada.

    Aprendemos libras na escola, era uma das tarefas extracurriculares que tínhamos (não sei se tem mais já que o professor saiu) era como espanhol.

— Vocês querem sair? — Ellora pergunta e eu nego.

— Tá de boa, Lora. — Ela sorri com o apelido.

    Depois de certo tempo sem decidirmos nada, nos simplesmente desistimos e pegamos qualquer uma, e com qualquer uma eu digo que todas vamos só com um short e uma calça e uma blusa, Alice vai com uma do homem de ferro, Ellora vai com uma cinza que achou no fundo do mala e eu vou com uma preta.

(...)

— Eu tenho mesmo que tomar banho? — Alice diz, faltava exatamente dez minutos para a festa começar, já escutava o sertanejo alto que tocava.

— Alice, eu não vou repetir que sim você precisa e estamos atrasadas! — Eu repito, já pronta há muito tempo, estava até maquiada e Alice dizia o quanto é ruim se arrumar com pressa sendo que tivemos a mesma quantidade de tempo para ficar prontas e ela ainda aumentou ele.

    Estava de shorts já que eu não consigo dançar de calça agora que Maíra tinha me emprestado um corta-vento prata. Ela disse que "Ai amiga é só pra dar um tchan assim. Vai ficar bapho," e por isso agora eu estou como se fosse comprar pão (e com um corta-vento que eu acho que não combinou muito mas não ficou ruim apesar de ser do nada) e se descer um pouco mais estou com um all star rasgado do lado mas é bem pequeno ninguém vai notar.

    Desço para a sala que pela primeira vez parece vazia e ligo no SBT que por conhecidencia estava passando Cúmplices de um Resgate. Fico ali assistindo e tentando me concentrar na novela e não no funk da furacão 2000 que tocava.

— Beatriz? — Felipe sai da porta olhando para mim, atentamente e fecha a porta novamente. — Achei que estava na festa sozinha. Fiquei... — Ele olhou para a TV, fechou a porta e se sentou do meu lado. E não terminou a frase.

— Você... — Ele começou a falar e eu o encarei. — Espera, elas são a Larissa Manoela? — Eu assenti. — A Larissa tem um irmã gêmea? — Eu nego sorrindo. Ele solta um "hum." — Você não vai para a festa? — Eu abro a boca e fecho novamente já que ele continua falando. — Eu entenderia se você não quisesse por causa daquele negócio do Lucas e tal.

— Felipe ... Elps, calma, eu vou sim. Só estou esperando a Alice pra ninguém ficar sozinha. — Ele assente.

— Então eu vou ficar aqui esperando você esperar a Alice. — Ele encostou sobre meu ombro fazendo meu coração bater mais forte. Como ele pode ter esse efeito sobre mim?

(...)

    Fiquei quase o tempo todo me divertindo e cuidando da Alice mas aparentemente não foi o suficiente já que agora ela parece chapada e eu nem sei do que.
Trouxe ela para casa e dei outro "banho" nela, quando na verdade eu apenas encharquei ela de água gelada para que se fosse bebida saísse mas nada, coloquei um filme para que ela assistisse e ela não conseguiu ficar nem dois segundos acordada. Ela dormiu abraçada comigo, tirei lentamente a mão dela de cima de mim e a deixei dormindo em paz.

    Poderia voltar para festa mas Ellora e Maíra já estão lá dentro e a essa altura eu não acharia mais elas, sem contar que já está acabando. Não vou perder muita coisa.

— Bealeuna! — Felps diz ao me ver sentada no sofá, ele também tinha levado o Alan para a "desintoxicação" mas a diferença é que o Alan nós sabemos que era bebida.

— Feleupe! — Eu digo rindo e ele se senta do meu lado.

— Você não vai voltar para festa? — Ele pergunta e eu nego.

— Todo mundo está indo e vindo dormir então já está acabando de qualquer jeito. — Eu me deito sobre o ombro dele dessa vez. — E a partir do momento que toca Jonathan da nova geração o baile está completo. Vou dormir quando a música parar— Ele ri.

— Tem razão. Eu não fui em muitos mas eu tenho que admitir: é um clássico. — Eu levanto o olhar para ele.

— Clássico como De Pernas Pro Ar. — Eu digo e ele nega.

— Qualquer coisa menos isso.

— Qual o seu problema com esse filme? — Ele da de ombros.

— Também não sei. — A música para e eu olho para ele.

— Essa é minha deixa. — Eu digo me levantando e ele segura meu pulso de leve.

— Fica.

Viagem || FelpsOnde histórias criam vida. Descubra agora