A festa seria na casa dos meninos porque eles perderam no par ou ímpar e de qualquer modo já haviam mais meninas que não queriam ir do que meninos que não queriam. Então combinamos que esses meninos que não queriam iam ficar lá na nossa casa.
No momento Ellora segurava uma escada para eu não cair e eu estou pendurando bandeirinhas, no estilo festa junina só que essas só tem formato de triângulo.
— Acabou? — Ellora diz no pé da escada.
— Já. Tô descendo. — Eu digo e desço rápido, odeio ficar lá em cima porque parece que eu vou cair o tempo todo. Pegamos a escada e colocamos ela do outro lado. — Agora você sobe, Lora, eu não aguento mais, tô quase tendo um ataque de labirintite com dezenove anos. — Ela ri e sobe na escada e calmamente faz o que tem que fazer e desce com calma.
— Viu? É fácil.
— Não é. Tá doida menina.
Não sei se é impressão ou o cabelo da Ellora está um pouco mais cacheado.
— Ellora, eu já volto tá? Vou na cozinha tomar água.
Eu pego o copo e demoro um tempo até notar que teria que pegar água da pia, logo veio todo o cloro que usam para tratar a água na minha cabeça mas eu não podeira fazer nada, nem filtro de barro tinha ali. Fico observando a cozinha enquanto eu bebo lentamente a água, consigo ver um pouco da sala por uma fresta entre o balcão e os armários mas mesmo assim é pequena demais, apenas alguém que estivesse sentado no sofá me veria e mesmo assim só conseguiria ver a cintura.
Coloco o copo na pia que estava atrás de mim e começo a lavar, escuto alguém entrar e levanto o olhar, Lucas. Eu nunca troquei meia palavra com ele, até o acho bonito mas já ouvi um monte de meninas dizer que ele é um babaca (e sinceramente prefiro acreditar nas minhas meninas do que tirar as minhas próprias conclusões.)
Coloco o copo no escorredor e vou direto para a porta sem olhar para ele mas quando estava quase com a mão na maçaneta ele entra na minha frente.— Licença? — Eu digo e ele faz uma reverência como se eu quisesse ir para o lado ou algo assim. — Tu sabe muito bem que eu quero sair, não se faz de sonso.
— Sei mas antes que quero te pedir uma coisa. — Eu o observo fazer a pequena pausa dramática dele.
— Diga, Lucas de Souza. Esse é seu sobrenome? — Eu digo tentando parecer o menos enojada possível.
Vai, Beatriz, faz um esforço. Talvez ele não seja tão horrível quanto você ouviu.
— Então eu queria saber... Se você quer ir ao baile comigo?
Beatriz, é verdade você já ouviu isso da Maíra. Por que ela mentiria para você?
— Me sinto lisonjeada mas não.
— Porra. Você já deve ter alguém né? — Ele diz em um tom baixo, por breves momentos senti pena dele. — Não, não, não. Uma puta vagabunda igual você não deve ter alguém assim do nada. Só se for alguém muito estranho como você tipo o felps. — Ele diz e eu sinto lágrimas acumularem nos meus olhos, tento sair pela porta mas ele não deixa.
Ele ainda está falando mas eu não estou ouvindo mais. A essa altura eu já deveria ter pensado nisso, eu praticamente pulo na greta entre o balcão e o armário, me encolhendo apenas para passar por ali, todos me olham sem entender.
— Você é maluca?! — Eu vejo Lucas abrir a porta e ficar parado nela me olhando.
***
Deito na minha cama e Alice deita ao meu lado.
— Acha que eu fui exagerada em pular dali? — Eu pergunto para ela que me encara seria.
— Um pouco mas foi seu jeito... Ou você matava ele ou pulava dali.
— Ou adquiria sequelas pelo resto da vida. — Eu digo e ela me olha.
— Ele é um Nice Guy. — Ela diz brincando e me abraça.
— Você me acha estranha? — Ela me encara.
— Ele acha que estamos em que século para dizer que estranha é xingamento?
— XII e não responda minhas perguntas com outras perguntas, mocinha. — Ela assente.
— Você não é estranha. Essa cama é apertada pra cacete. — Ela diz e eu concordo.
— E sobre a gente ter deixado eles lá arrumando tudo? — Ela sorri.
— Foi mais que bem feito. — Eu rio.
— Ah, que maldade. — Ela nega.
— Descansa. De noite vamos passear ainda.
De dia fomos a praia, agora deveríamos estar na rua fazendo algo interessante mas estamos arrumando a festa e de noite uma parte vai para o cinema e outra vai para praia (e nos duas fazemos parte das pessoas que vão fazer as duas coisas.)
***
Eu não conseguia olhar para as pessoas, sei que foi muito do nada mas ele não parava de falar e eu estava pior cada vez que ele falava.
— Eu ainda acho que poderíamos ver qualquer outro filme sem ser "De pernas pro ar." — Felps diz, ele é o único que não parece ligar de verdade, como se me entendesse ou como se fosse normal.
— Mas quase todo mundo já viu os bons. — Alan tenta explicar para ele que continua reclamando na fila do cinema.
— Mesmo assim, isso parece ruim.
— É um clássico e o cinema tá reprisando para gente como a gente gastar dinheiro nisso. — O menino loiro retruca.
— Celbinho. Eu não quero saber. — O "Celbinho" da de ombros.
Felps sentou do meu lado no cinema e a cada dois segundos soltava uma reclamação, algo me diz que ele queria muito ver outro filme.
— Ah, vai é engraçado. — Eu digo olhando para ele que sorri.
— As vezes é mesmo. — Ele diz e eu levanto a sobrancelha como se eu tivesse ganhado uma discussão.
— Ainda tem pipoca? — Eu me inclino olhando para o canto onde o garoto loiro está sentado.
— Não. Acabou porque você comeu tudo nos trailers. — Ele diz e eu o encaro, notando que eu estava muito perto do rosto dele, quando noto isso volto rapidamente para o meu lugar. Se eu fosse mais clara estaria parecendo um pimentão nesse exato momento.
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Viagem || Felps
FanfictionFelipe e Beatriz se conhecem dês de pequenos mas perderam o contato e a intimidade conforme foram crescendo mas estavam destinados e ficarem mais perto na viagem do terceiro ano da sua escola.