[01] Dieu lui pardonne

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     Paris, França. 22 de fevereiro de 1680. 5:00 PM.

Lalisa Manoban

— Catherine Deshayes, condenada a fogueira! Principal ré do Caso dos Venenos. Que Deus a perdoe.

Mais uma pessoa sendo condenada a morte, mais uma sendo queimada enquanto uma multidão aclama pelo feito. Por que todos consideram isso tão normal? São cristãos, deveriam seguir os ensinamentos de Seu Deus, não foi ele quem mandou amar o próximo? Não foi ele quem deixou o mandamento não matarás?

A Igreja Católica é hipócrita, ela faz tudo o que diz ser pecado. Infelizmente só poderei pensar sobre isso, porque se eu falar e alguém me escutar, pode ter certeza que eu seria a próxima vitima.

— Lalisa! — Ouvi meu nome ser dito de uma forma desesperada. — Sua mãe! Ela está em trabalho de parto!

Isso foi o suficiente para que me fizesse correr em direção a minha casa, junto a Jennie, minha mãe já vinha sentindo fortes dores, mas eu não sabia que já era sinal do nascimento do bebê. Eu vivo em uma parte que só tem estrangeiros, grande parte vem de países vizinhos, porém há diversas pessoas da Ásia. Como no caso de Jennie, que chegou aqui com seus 7 anos, sem saber falar o idioma local e sem sequer ter um responsável...

— Mamãe! Por que ninguém chamou uma parteira?

— Não conseguimos, todas que conhecemos estão ocupadas. — Jennie me respondeu aflita, sem saber o que fazer.

Minha mãe foi preparada para morte quando descobriu que estava grávida, todos sabíamos que assim que chegasse a hora do parto ela entraria em risco de vida. E agora sabendo que não tem nenhuma parteira, eu tenho quase certeza de que será seu último dia ao meu lado.

— Sra. Jung! Você já sobreviveu a tantos partos, ajude a minha mãe! — Pedi de joelhos e quase chorando para a idosa, que suspirou e deu somente uma ordem.

— Peça a Deus que a sua mãe sobreviva.

Então eu comecei a chorar enquanto a minha mãe gritava de dor.

— Lisa, nós já estivemos presente em muitos partos, podemos ajudar a sua mãe.

Jennie estava certa, já estivemos em diversos partos, nós podemos fazer com que minha mãe sobreviva. Me levantei e sequei minhas lágrimas com a manga do vestido. Caminhei até a minha mãe que estava sentada em uma cadeira.

— Mãe, você precisa trocar sua posição... Hum, tente sentar ao contrário. — Mesmo com tanta dor ela conseguiu trocar a posição.

Jennie veio correndo com uma bacia de água e um pano em seu ombro. A garota molhou o pano e começou a passar no rosto de minha mãe enquanto eu massageava uma região de suas costas, creio que isso diminuiria de alguma forma a sua dor.

— Está aliviando, Sra. Manoban? — Minha mãe assentiu rapidamente, logo dando mais um grito de dor. Eu acho que o bebê está prestes a nascer.

Jamais irei me submeter a tamanha dor, não sei como os homens insistem tanto em ter um filho sabendo que a mulher terá grandes chances de morrer. Talvez seja pelo fato de que eles pensam que nós só estamos aqui para ser submissa a todos eles, e eu queria tanto que esse pensamento tivesse um fim, mas creio que isso está bem longe de acontecer.

— Lisa é melhor trocar a posição dela, ela não pode ter uma criança sentada dessa forma. — Jennie disse enquanto ainda passava o pano molhado na minha mãe. — Deita ela no chão.

— Eu consegui achar uma parteira! Mas ela só poderá vim daqui algumas horas.

Do que adianta achar uma parteira que só poderá chegar depois que a minha mãe já estiver morta no chão? É melhor eu nem falar isso para a mulher, ela não tem culpa disso.

❝Joana d'Arc❞ | ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora