Capítulo 07

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— Titio, o senhor acredita no monstro que vive dentro dos armários? — perguntei a ele, enquanto suas mãos trabalhavam habilmente a fim de tapar toda e qualquer pequena lacuna por onde a friagem pudesse passar através do edredom.

Era o inverno dos meus onze anos. Naquela noite, papai e mamãe haviam saído para comemorar o aniversario de casamento, deixando-me ao encargo do dele.

Tio e eu jantamos pizzas — o que deixou mamãe muito zangada quando soube —, tomamos muito refrigerante enquanto assistíamos desenhos juntos. Somente quando passou das dez, ele me arrastou para o quarto.

Todavia, quando ouvi que havia chegado a hora de dormir, o velho e conhecido medo — o qual me acompanhará durante toda aquela semana — se manifestou, deixando-me tensa.

Após ouvir minha pergunta, tio fitou-me com seu olhar cansado, preenchido por olheiras profundas, e balançou a cabeça negativamente.

— Monstros não existem, S/N! — exclamou.

Reflexivamente encolhi os ombros para sua afirmação, enquanto silenciosamente tremia encolhida.

— Alguma coisa aconteceu? — seu tom fora morno, quando se sentou à beira da minha cama e esperou pacientemente que eu respondesse.

— Talvez... — resmunguei reticente. — Mas eu não posso contar, tio.

Ele enrugou a testa. — Por quê? Pensei que contássemos tudo um para o outro.

— Eu sei, mas se a mamãe souber...

Tio não disse nada, apenas levou a mão até o topo da minha cabeça e afagou-a docilmente.

— Não contarei para sua mãe. — asseguro partindo do princípio de um pequeno sorriso acolhedor no canto dos lábios. — Será nosso segredo, S/N.

Meu coração se aqueceu com aquele gesto. Eu confiava no tio, porque — embora sua expressão as vezes apresentasse cansaço ou vazio —, ele sempre me ouvia e aconselhava. Claro que, quando se tem onze anos, conselhos parecem mais discursos longos e cansativos que incentivam o sono dentro de você do que qualquer outra coisa.

— Tio Jeon, lá na escola todo mundo falava sobre um filme de terror... — sussurrei a última parte para que o monstro dentro do armário não pudesse nos ouvir — Passaria na tv e todos estavam muito ansiosos para assistir. Ninguém falava sobre outra coisa, então eu também comecei a querer. Mas o senhor sabe como são o papai e a mamãe...

— Deixe-me ver, eles disseram não?

— Isso. — afirmei. — Eles disseram que eu não tinha idade para assistir o filme.

— Só que de alguma forma você os desobedeceu e assistiu. E por um acaso esse filme falava sobre um monstro que morava dentro dos armários?

Balancei a cabeça timidamente confirmando cada um dos pontos apresentados por ele. Claro que naqueles dias, eu estava apenas permitida a assistir desenhos ou Chaves. Mamãe e papai eram muito rígidos e eu possuía hora para dormir. Porém, eu desobedeci, assisti e desde então comecei a colocar a cadeira da minha escrivaninha na frente do guarda-roupa. Porém, ainda estava com muito medo e mal dormia.

Tio suspiro fazendo uma pequena e rápida careta.

— Viu, é por isso que seus pais não deixam. — informou, claramente descontente, embora não parecesse brigar. — Monstros não existem, S/N.

— Como não, tio? Tenho ouvido ele dentro do meu armário... — choraminguei como um gatinho assustado. — Não tenho dormido direito, tio. — e como se para confirmar o que disse anteriormente, bocejei.

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