Diana

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Que ódio! A raiva e revolta dominavam todo o meu ser. Quase não conseguia respirar direito. Ainda não acreditava no que tinha sucedido. Me oferecera dinheiro para ter sexo com ele, como se eu fosse uma garota de programa, uma reles prostituta. Nunca me sentira tão humilhada e desrespeitada na vida.

O pior é que ele tinha mexido demais comigo.

Lágrimas amargas brotaram dos meus olhos, incontroláveis. Mal via a rua, em busca de um táxi, andando sem tino, arrasada, consumida pelos meus sentimentos confusos.

Os táxis que passavam estavam todos ocupados. Eu estava começando a ficar desesperada. Viajar de ônibus naquela hora tardia era muito perigoso, especialmente sozinha.

Droga, nem a porcaria do uniforme eu tinha tirado. E se calhar Lúcia nunca mais me ia chamar para trabalhar, já que tinha largado o serviço por acabar, sem explicações aos colegas.

A imagem dele e as suas palavras, me abordando daquela maneira, não me saíam da cabeça. O que é isso, gente? Só porque somos pobres presumem logo que somos prostitutas? Que fazemos tudo por dinheiro?

Sentia-me magoada, não só pela proposta que me fizera mas por ter sido precisamente ele a fazê-la. Se tivesse sido um outro qualquer, provavelmente teria saído de lá gritando um par de desaforos, irritada mas incólume, indiferente, pouco me importando. E isso também me irritava. Não tinha que me sentir assim. Não o conhecia de lado nenhum.

A verdade é que tinha ficado muito afetada. Afetada era dizer pouco. Tinha ficado muito fascinada com ele, até mesmo enfeitiçada.

Ainda lembrava o seu olhar passional durante a noite toda. A beleza exuberante do seu rosto másculo, a sua postura tão imponente, emanando uma aura de sensualidade e poder como eu nunca tinha testemunhado.

Sentia ainda o seu perfume amadeirado, o seu breve toque no meu rosto e, depois, a forma impetuosa e arrebatada como me agarrara no quarto. A facilidade com que me levantara do chão contra a parede. A protuberância do seu sexo me pressionando o ventre.

Um novo arrepio me fustigou fulminante, gelado, a barriga.

Que droga!

As palavras secas, diretas, até rudes com que me propôs sua oferta foram um balde de água fria de desencanto e dissabor. Pensara que estivesse encantado comigo, da mesma forma que eu estava por ele. Afinal apenas me olhara como um corpo para comprar e usar, um naco de carne como falou na cozinha.

Mais lágrimas correram pelas minhas faces.

O celular tocou. Era Nanda. Atendi.

- Onde está Diana? O que se passa com você? Saiu daqui de um jeito que não entendi. Nem levou o seu envelope com a gratificação.

- Não se passa nada. Pegue o envelope para mim e me entregue amanhã, por favor. – disse sem conseguir disfarçar o choro.

- Está chorando Diana! Que aconteceu?

- Nada de mais. Não se preocupe.

Vi finalmente um táxi livre se aproximar e levantei o braço acenando. O táxi parou ao meu lado. Abri a porta de imediato e entrei.

- Amanhã falamos, Nanda. Agora tenho que desligar, tchau.

E desliguei, dando a morada para o motorista.

Não estava em condições de falar com ninguém neste momento. Só queria chegar em casa, tomar um banho, esfriar a cabeça. Esquecer aquela noite. Esquecer aquele homem que tanto tinha balançado comigo. Funguei e limpei as lágrimas, resoluta em esquecer tudo.

Já sei meu preço (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora