Ensaio sobre o tempo

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O tempo havia se encarregado de levá-la para longe.

Mas esse mesmo tempo não havia sido o suficiente para seu próprio corpo.

Quando a bolsa se rompeu antes daquele tempo tão precioso para ela... temeu.

Sentiu um medo profundo por ela e pela criança que carregava.

Havia perdido tudo, menos a esperança

Aquela esperança que crescia e a medida que se desenvolvia em seu ventre a amparava e dizia silenciosamente

Continue em frente!

Para uma mulher sozinha e naquele estado de gestação o que a amparou foram outras mulheres, que assim como ela entendiam o peso de suas escolhas.

O peso de ter escolhido o amor no lugar da obrigação.

-Vamos, força!

Tudo que fazia, tudo que rogava enquanto se esforçava para expulsar o filho de dentro de si era que não importasse como fosse, mas que acima de tudo estivesse bem.

Mas nem todas as preces são ouvidas...

E o único choro no aposento foi o da própria mulher

-P-Porque ele não chora?

Silencio.

-Ele não respira...

-Me deixe vê-lo!

Ainda estava conectada a pequena criança quando estendeu os braços

E se sujando de sangue e de seus próprios restos tomou-a em seus braços.

Era tão frágil e pequena

Os cabelos ralos e negros diziam o quão bela seria

Seria...

Teria ao menos seus olhos?

Jamais saberia pois jamais teria a chance de vê-los abertos.

-Vamos querida, me dê, você não precisa passar por isso

As lágrimas embaçavam seus olhos turvando a visão que tinha de sua frágil criança junto a seu grande amor.

Talvez se tivesse ficado na vila...

Se tivesse aceitado e ficado junto dele.

Quando conseguiram retirar o bebe de seus braços o lamento alto e profundo a atingiu e o mar de lágrimas lavou sua alma ferida.

A dor da perda, mais uma vez tão feroz e pungente dominava seu ser e já não sentia-se viva como antes.

Tudo que restava era vagar

Vagar sozinha nessa vida vazia.



Assim que retornou da missão mostrou os resultados de sua investida ao pai.

A missão estava cumprida, num tempo hábil e o problema estava resolvido.

Havia aniquilado qualquer vestígio do mal que assolava o lugar.

Então porque o pai não estava contente ou no mínimo satisfeito?!

-E Ashura?

Questionou

-Ainda não retornou.

Aquilo por si só já garantia ao irmão mais velho o direito a sucessão.

Mas não foi o que aconteceu, seu pai, mantendo aquela sabedoria que todos diziam, ficou em silencio.

Tamashii (EM HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora