Meu nome é...

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Em meio a um vilarejo totalmente devastado, caminhava solitário um homem de pele clara, cabelos longos, lisos e negros como a mais escura das sombras, com uma bolsa sobre seu ombro esquerdo e uma enorme foice nas costas, ele caminhava calmamente em meio aos destroços. Enquanto caminhava algo o chamou a atenção, a sua direita, ele ouvia um choro suave, vindo de uma casa que não estava totalmente queimada ou destruída. Ele então se aproximou da casa, e ao chegar na porta encontrou uma cena um tanto quanto perturbadora: 7 soldados mortos ao redor de uma garotinha com as mãos ensanguentadas que segurava uma faca de cozinha, trêmulas, e que soluçava sutilmente enquanto chorava.

O olhar daquela criança estava vazio, ela mal percebe a presença do homem que a observava, parecia traumatizada com o que havia acontecido ali. Ele então se aproximou dela e ela ainda trêmula e soluçando olhou pra ele, seu choro instantaneamente cessou ao olhar para os olhos daquele homem, amarelos e vibrantes como os de uma fera preparada para avançar sobre uma presa vulnerável. Ele começou a mover a mão em direção às costas, a garota então perdeu o ar, havia soltado a faca em suas mãos e apenas observava boquiaberta enquanto as mãos daquele homem se aproximavam da foice, que emanava uma aura de morte e desespero...

- E-eu... e-eu... - tentava sussurrar apavorada.

Ele então pegou um cantil que estava amarrado ao cabo de sua foice, se abaixou e estendeu o cantil para ela.

- Limpe as mãos criança - disse ele com um tom de voz calmo e acolhedor.

Seus olhos começaram lentamente a mudar de cor, de amarelo vibrante, se transformavam em um tom claro de roxo, que transparecia calma e conforto. Ela, com as mãos trêmulas, pegou o cantil e continuou a olhar o homem que esboçava sutilmente um sorriso para ela. Abriu o cantil, e lavou as mãos, depois ficou olhando para o cantil que ainda tinha um pouco de água.

- Pode beber - disse ele.

Ela sorriu surpresa e prontamente bebeu toda a água que ainda restava. Depois disso, meio envergonhada, ela estendeu o cantil vazio de volta ao rapaz. Ele apenas sorriu, se levantou e se dirigiu para fora daquela casa, deixando o cantil com ela. A garota se levantou e correu em sua direção, agarrando o seu braço.

- E-espera... - disse ela assustada - Me deixa ir com você. - pediu.

Ele olhou para ela, seus olhos estavam novamente amarelos e sua feição séria, ela soltou o braço dele lentamente, assustada, e assistiu ele ir embora, imóvel, colocando as duas mãos sobre o cantil e o segurando forte.

Após muita caminhada ele havia se distanciado do vilarejo, agora em uma floresta próxima, com árvores tão altas que conseguiam cobrir quase todo o céu, ele parou subitamente, fechou os olhos e perguntou com um tom sério:

- O que faz aqui criança?

- C-como você sabia que eu estava aqui? - disse a garota assustada enquanto saia de trás de uma das árvores, segurando o cantil com as duas mãos.

Ele permaneceu em silêncio, aguardando a resposta dela a sua pergunta.

- Eu... eu quero ir com você! - exclamou.

Ele se virou pra ela, e questionou:

- Aqueles soldados, você os matou, certo?

Ela abaixou a cabeça e começou a tremer, sem responder.

- Sente vergonha do que fez?

Ainda em silêncio ela tremia cada vez mais. Ele então puxou a foice de suas costas tão rápido que ela mal pode ver, apenas ouviu o som do vento que o movimento brusco causou e viu o mesmo soprar as folhas caídas pra longe.

- Você me mataria se fosse necessário? - disse ele enquanto caminha na direção dela, com a arma empunhada.

- Não quero machucar você... - sussurrou ela, chorando novamente.

Ele continuava a se aproximar enquanto levantava sua foice, se preparando para um golpe certeiro, a lâmina era enorme, partiria ela ao meio sem dificuldades.

- Não quero machucar você... - repetiu mais alto dessa vez.

Ele começou a correr na direção dela, segurando firme sua foice, seus olhos amarelos brilhavam e ele esboçou um sorriso assustador, como se estivesse feliz com a ideia de matá-la. Ao chegar próximo o suficiente para dar o golpe, o tempo parou de repente, e por um instante, ele viu a feição dela mudar, a mesma que ele havia visto dentro da casa, aquele olhar vazio voltará ao seu rosto. O tempo voltou ao normal, e ele apenas sentia um enorme dor no peito, estava imóvel, seus braços fracos e pernas trêmulas, ele não via mais a garota que estava na sua frente momentos antes. O sangue escorria de seu peito e seus olhos mudavam de cor novamente, laranja dessa vez, ele parecia assustado, com medo. Novamente ele ouvia o choro suave da garota, virou-se para trás lentamente e a viu com aquela mesma faca ensanguentada, porém dessa vez com o seu próprio sangue, a chorar. Ele com dificuldade caminhou em direção a ela, abaixando sua foice, ele colocou sua mão esquerda sobre o ombro dela e ela o olhou desesperada, seus olhos novamente roxos, lembraram a ela daquele momento de conforto, porém ela não conseguia parar de chorar. Ele então sorriu para ela e disse:

- Qual é o seu nome criança?

Ela não entendia, como ele poderia estar feliz? Ela acabara de tentar matá-lo, será que isso era real?

- Yu-Yuuki... sniff... - disse ela soluçando.

Ele sorriu e disse:

- Meu nome é... Urie.


Sombras GemêasOnde histórias criam vida. Descubra agora