Ele abre os olhos, novamente alaranjados, olhando fixamente para frente, mas não enxergavam nada, estava muito assustado para prestar atenção ao seu redor. Ao olhar para o lado ele viu aquela pequena garota, Yuuki, estava deitada sobre seu braço direito dormindo, agarrada aquele cantil vazio. Ela se parecia com ele, cabelos longos, negros e lisos, pele clara mas com olhos escuros, não tinha parado para reparar na aparência dela antes. O seu ferimento havia se fechado, apenas uma cicatriz havia restado, mais uma cicatriz.
Ele então se levantou, ela que estava com o peso do corpo sobre o seu braço, acabou caindo de cabeça no chão.
- Aaaaaai! - exclamou ela que se levantava com a mão na cabeça.
- Bom dia - disse ele enquanto olhava para longe.
- Bom dia... - respondeu ainda esfregando a mão na cabeça.
- Tem sede? - ele perguntou.
Ela olhou para o cantil que havia caído de sua mão quando ela bateu a cabeça e rapidamente o apanhou de novo, agarrando-o com força.
- Não... - respondeu.
Ele então começou a caminhar, deixando sua bolsa para trás. Yuuki a pegou e correu para o lado dele, e os dois seguiram floresta a dentro.
Apesar de estarem caminhando juntos, nenhum deles sabia nada sobre o outro, uma situação completamente anormal. Ele não parecia se importar, caminhava sério, com o olhar fixado no horizonte, mal piscava, enquanto ela andava tímida ao seu lado, olhando constantemente para ele buscando alguma expressão diferente.
- Senhor Urie... - disse ela meio sem jeito.
Ele continuou a caminhar sem alterar sua expressão, mas parecia estar ouvindo.
- Por que você me deu este cantil? - perguntou ela olhando para o mesmo.
- Porque você estava com as mãos sujas - respondeu.
- Mas eu... aquelas pessoas... - ainda sentia remorso por tudo aquilo.
- Suas mãos estavam sujas - repetiu.
Ela não conseguia compreender, mas queria conversar com aquele sujeito estranho, então continuou.
- Eu tentei matar você... isso não te incomoda? - questionou.
- Não - disse ele ainda sem esboçar nenhuma expressão diferente.
- Você teria me matado se eu não tivesse feito aquilo? - perguntou apreensiva.
Ele permaneceu em silêncio. Ela então parou de caminhar, e ficou olhando para o cantil, seus olhos encheram d'água.
- Eu sou um monstro senhor Urie... você devia ter me deixado lá... - disse ela triste.
Ele então parou de caminhar, virou-se para ela, seus olhos estavam azuis, claros como a água.
- Você sabe o que separa você de um monstro? - disse ele - Monstros não sentem remorso ou compaixão.
Ela não concordava com aquilo, porém ele continuou.
- Monstros não temem isso - disse ele enquanto puxava sua enorme foice - E monstros se orgulham de ter as mãos sujas.
Ele então lançou sua foice na direção dela.
- Você não é um monstro criança, você apenas é diferente - dizia ele enquanto olhava para suas próprias mãos.
Ela aos poucos parava de chorar, enquanto olhava a foice caída à sua frente.
- Por que você a jogou? - perguntou ela confusa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras Gemêas
FantasyOs olhos são o espelho da alma... Em meio as vastas terras de Aishar, um solitario e misterioso homem caminha rumo ao desconhecido. Atormentado por um passado obscuro ele busca redenção, até que em sua caminhada ele encontra uma pequena garota que s...