L I A N A
Meu Deus, como havíamos chegado naquele ponto? Num segundo queríamos sumir da vida um do outro e no outro, estávamos a ponto de...
— Você deixou alguma coisa no forno, não é?
Me desvencilhei de seu corpo, escorregando da cama e correndo para a cozinha. Imediatamente desliguei o forno, já me preparando psicologicamente para as cinzas da minha torta.
Felipe correu na mesma intensidade que eu, mas sendo mais rápido ainda para me impedir de tirar aquilo dali e fazer mais merda na cozinha. Eu era um desastre, não era a toa que ele quem cuidava dessa parte e eu arrumava a casa. Acho que me acostumei demais aos seus dotes culinários no fim das contas.
— Lili, quando a receita diz "assar", ela não quer dizer pra você quase pôr fogo na casa. — Ele riu, deixando a travessa sobre a pia enquanto colocava o pano de prato sobre o ombro. Felipe mordeu o lábio inferior e eu tinha quase certeza que ele pensava em algo nada apropriado para me fazer sentir ainda mais vergonha.
— Nem ouse completar seus pensamentos impuros. — Censurei, levantando uma mão e virando o rosto para outro lugar que não fosse... ele. — Para um garoto dos jogos você é bem...
— Nem ouse completar a frase, mocinha.
Revirei os olhos, mas não pude evitar sorrir com aquilo. Felipe eliminou a distância entre nós, tocando meu queixo com delicadeza me fazendo encara-lo.
— Você topa então? Esquecer tudo e tentar de novo? Porque você sabe que eu estou disposto a qualquer coisa pra ficar contigo, não é?
— Acho que posso pensar nisso. — Mordi a bochecha tentando conter uma risada. — É, acho que posso tentar fazer esse sacrifício...
— Não seja tão malvada, Lili.
— Ah... AAHHH!!! — Arregalei os olhos, soltando um gritinho ao sentir Gato praticamente voar pelos meus pés. Felipe me segurou quando vacilei por um segundo, caindo na risada ao ver com o que o bichano estava brincando. — Não acredito!
Ficamos encarando Gato correr atrás das chaves que tanto procurávamos. O felino parecia se divertir com aquela brincadeira enquanto só conseguíamos nos perguntar em como ele havia achado aquilo. E, mais precisamente, o porquê de só brincar com aquela porcaria agora e não tempos atrás! Mas... parando para pensar naquilo, cada coisa naquela noite foi importante para que resolvessemos aquele impasse.
— Eu não sei se eu odeio esse gato por debochar assim da nossa cara ou amo ele por fazer a gente se entender. — Felipe sorriu, repousando as mãos em minha cintura ao constatar aquilo. Ele respirou fundo, trincando o maxilar ao ficar sério de repente. — Tá tudo bem entre nós?
Inclinei-me, beijando-o com delicadeza, apenas para afirmar que sim, nós iríamos tentar de novo. Como num jogo de videogame, se a jogada fosse ruim, daríamos reestart quantas vezes fossem preciso até tudo ficar bem.
— Isso responde sua pergunta?
Ele não se importou em responder, apenas fez o mesmo que eu, só que de um jeito mais carente e clemente por cada partícula de mim, de nós. Um beijo voraz que eu correspondia com a maior vontade do mundo, porque, honestamente, eu também tinha esse desejo.
E finalmente eu esqueci. Esqueci de todo o mal entendido, as cicatrizes que já estavam sarando apenas com uma noite milagrosa de Natal. Eu sinceramente nunca fui de acreditar em milagres de Natal, tampouco em destino e coisas místicas, mas... eu estava começando a mudar no que resolvia crer.
Uma lágrima me escapou, mas eu estava feliz. Eu realmente estava feliz como há alguns meses não sentia. É incrível como apenas uma noite pode ser capaz de mudar meses. É realmente incrível como uma noite de véspera de Natal pode mudar tanta coisa...
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O pior e o melhor Natal da gente
ContoLiana e Felipe se separaram há quase seis meses e ele ainda não levou o seu Super Nintendo que ganhou quando criança. Ele tampouco achou um teto decente e que caibam todas as suas tralhas desde que aquilo chegou ao fim. Liana não suporta ver as cois...