F E L I P E
Eu mereci aquilo, disso eu tinha certeza, só não estava esperando. A gente nunca espera receber um golpe forte do destino até ele chegar de repente. Mas eu merecia mais um pouco de toda a sua fúria, porque, surpresa, ela tinha toda a razão em ficar irritada comigo.Tudo bem que ela havia escondido a verdade de mim, mas eu fui um babaca sem tamanho ao acreditar naquele idiota ao invés dela. Eu fui um verdadeiro filho da puta por só ter me desculpado quando ouvi da boca daquele cretino toda a verdade ao invés de ter acreditado na mulher que amava e dividia a vida por quase cinco anos.
O tapa que recebi de Lili foi o que menos me machucou comparado ao vê-la chorando e magoada por mim. Apesar daqueles meses todos, não tocávamos naquele assunto proibido, apenas soltávamos indiretas um para o outro e revirada de olhos e às vezes discutíamos, mas nunca falávamos sobre aquele dia.
Tirei os óculos, passando uma mão nos olhos a fim de tentar espantar as lágrimas por me sentir ainda mais horrível com ela. Encarei os pés, me perguntando o que devia fazer até decidir que eu devia ir embora de uma vez por todas antes que eu estragasse as coisas ainda mais.
Mas eu a amava tanto... E isso era o que me fazia me sentir ainda pior. Porque se eu realmente a amasse, eu teria confiado de imediato em suas palavras. Mas a possibilidade de que eu não passava de um detalhe em sua vida me cegou. Eu queria que ela viajasse e crescesse em sua carreira, mas também queria fazer parte disso. Eu também queria estar ao seu lado, como ela sempre estava do meu em cada vitória minha.
Saí do quarto que tantas vezes dividimos em dias bons e ruins. Dei uma última olhada na parte vazia do meu antigo criado-mudo, sentindo saudade de quando eu ligava o abajur e a fitava por uns instantes antes de voltar a dormir. Eu sempre fazia isso, era uma mania que fui adquirindo com o tempo. No início eu fazia isso como se para me certificar de que realmente havia alguém ao meu lado, mas, depois, fazia isso para me certificar de que estava tudo bem com ela.
Fechei a porta atrás de mim, soltando um suspiro cansado e caminhando para o quarto de hóspedes. Terminei com a última caixa, encarando aquele ambiente.
Acho que terminei aqui. Para sempre, pelo visto.
Coloquei a caixa nos braços, indo para a sala e querendo ir embora, mas não consegui seguir adiante. Liana estava chorando abraçada a Gato, o gato. Ela olhava para o chão enquanto recebia consolo do ronronar amistoso do felino amarelo. Engoli em seco, sentindo-me envergonhado e mal, e decidi que mesmo eu não conseguindo um lugar para levar meu Super Nintendo, eu não iria mais aparecer. Era algo com um valor sentimental, eu sei, mas não iria mais incomoda-la.
— Lili, eu...
— É Liana pra você, Felipe.
— Certo. — Balancei a cabeça em afirmativo, girando a maçaneta. — Você se importa em eu deixar o vídeo game aqui? No lugar onde estou não tem muito espaço pra tanta coisa. E não quero que ele se quebre ou pare de funcionar. Isso realmente é importante para mim, então, será que você poderia deixar ele guardado aqui?
Liana deu de ombros, se recusando a fitar meu rosto a cada palavra que saía de minha boca naquele momento. Tudo bem, acho que era melhor ter ficado calado...
— Er... Feliz Natal, Liana.
Comprimi os lábios, abrindo a porta e achando estranho por ela estar trancada. Virei-me para a mulher abraçado ao gato, pedindo silenciosamente para que ela me ajudasse.
— Eu vou procurar a chave.
Ela abriu a bolsa, viu no próprio porta chaves, na gaveta da mesinha no canto da parede, na estante e não encontrou nada. Fiz menção de ajudar, mas ela negou qualquer coisa que viesse de min. "Você ter ido saber da verdade com o Cleiton já foi o bastante por hoje", ela resmungou.
Alguns minutos depois que Lili voltou do quarto, eu realmente esperava que ela trouxesse as chaves extras, mas a única coisa que ela trouxe consigo foi a notícia de que não havia encontrado nada.
— Não consigo achar. — Disse, relutante.
— Precisa da minha ajuda agora?
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O pior e o melhor Natal da gente
Cerita PendekLiana e Felipe se separaram há quase seis meses e ele ainda não levou o seu Super Nintendo que ganhou quando criança. Ele tampouco achou um teto decente e que caibam todas as suas tralhas desde que aquilo chegou ao fim. Liana não suporta ver as cois...