A Adolescência

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         Cléa era sonhadora desde criança, na adolescência não perdeu essa característica, imaginava sua vida aos dezoito ou vinte anos: formada, com um bom emprego e um namorado bonito, queria puder ajudar a Maria, o sonho de dar uma vida digna da mãe que tinha. Com doze anos começou a gostar do Antônio, ele era imaturo, embora fosse mais velho, durou pouco mais de três meses, a menina ficou arrasada ao término do namoro.

Ela chorou por dias, ficou muito triste e disfarçava para o pai. Somente a Maria sabia o que se passava no coração da filha, tão jovem e já sofrendo de amor. Cléa era uma menina de estatura baixa, de corpo franzino, porém, era de uma beleza singular, tinha cabelos claros e com leve volume, seu olhar sempre penetrante, fazia a diferença na estatura da garota.

A adolescência é uma idade difícil, as dúvidas sobre o corpo, as mudanças hormonais, a insatisfação com o cabelo, a solidão e as crises existenciais; quase todos os adolescentes têm essas coisas. Imagine isso na vida de uma garota pobre, com pais semianalfabetos, morando num sítio longínquo numa cidade que desaparece no mapa, de tão pequena! Nas noites de lua a família toda ia para o terreiro, a Cléa ficava pensativa olhando para o céu. Era comum olhar para o céu quando queria entender alguma coisa, ou, imaginar a sua vida de outra maneira que, pudesse ultrapassar aquela realidade. Era como se em algum lugar do futuro a menina pudesse se imaginar vivendo dali a alguns anos, de fato, ela era muito grande para aquele lugar, pelo menos os seus sonhos eram grandiosos.

A biblioteca da escola era seu lugar preferido durante os intervalos, quando a biblioteca ganhou um acervo novo Cléa começou a levar os livros emprestados para casa. A vida dela e das irmãs era diferente do conceito de criança do século XXI, elas faziam serviço de casa, cozinhavam e cuidavam dos irmãos. Andavam a pé pra escola, as leituras eram muito mais do que um passatempo, o papel da leitura na vida daquela garota era redentor. Ela lia Machado de Assis, José de Alencar, João Cabral de Melo Neto, Aluizio Azevedo, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, História Geral, livros de religião, sexualidade, biologia, arte. Sempre estava mexendo nas estantes da biblioteca, a funcionária já tinha feito três fichas para os empréstimos de livros. A funcionária já conhecia seus gostos literários e sempre elogiava a dedicação da garota.

Aos quinze anos Cléa terminou o ensino fundamental, na mesma data ficou noiva do Zé, seu segundo namorado. Ele era um cara grosseiro, problemático, irritadiço e violento, incompatível com tudo o que havia no caráter dela, a verdadeira mistura de óleo e água, totalmente opostos. O que levou uma garota sonhadora e doce a casar com um homem tão rude? Era a pergunta que ela ouvia das suas professoras e alguns amigos, geralmente aqueles que a conheciam melhor.

O namoro durou três anos e o casamento aconteceu, o que motivava a decisão do casamento era somente a esperança de poder estudar após se casar, também deixar de apanhar do pai que, cada vez mais era mais duro com as meninas, principalmente com a Cléa. Era queria ser compreendida, desejava ser independente mas, as promessas do noivo eram a esperança da menina sair da clausura da sua vida de adolescente. Tudo o que constitui a vida de uma adolescente, exceto a liberdade de namorar, lhe era proibido. O namoro era permitido sob forte vigilância da Maria, da avó Carmen e do Celso, até mesmo um beijo no rosto era motivo para reclamações.

Entre altos e baixos, brigas e reconciliações, traição por parte do Zé com a sua prima e outros problemas, o casamento se aproxima, falta seis meses para o casamento. O vestido da noiva é presente da tia que mora noutra cidade próximo à Fortaleza, Cléa precisa ir passar uns dias com a tia para o vestido ser confeccionado. Celso resistia para permitir a menina de viajar, Maria apelava, finalmente ele deixou.

Cléa achava que estava apaixonada, na verdade aquele sentimento era uma fuga para a sua liberdade, alimentava a ideia de ser liberta pelas mãos de um homem, quanta ingenuidade! A nossa liberdade jamais será dada por alguém, se dentro de nós, existir algo que nos oprime. O dia da viagem chegou e o Celso levou a garota até o ponto de ônibus, ele estava sério, preocupado, afinal, estava abrindo a guarda da sua superproteção paterna, sua possessividade o deixava incomodado. Na despedida ela falou: _ a bênção pai! _ Deus te abençoe minha filha! Respondeu Celso.

A garota entrou no ônibus e começou a navegar nos seus pensamentos, a se fazer perguntas e a refletir sobre as decisões que estava tomando. Se bem que ela jamais se casaria aos dezesseis anos, se pudesse estudar, trabalhar, tivesse a liberdade de ser apenas ela mesma e os seus sonhos. Não parecia ser uma grande ambição, mas, era a ambição dela. 

A Vida de CléaWhere stories live. Discover now