O DIA DO CASAMENTO

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Chega o casamento, as testemunhas da noiva eram a sua tia e o noivo dela, mas, eles avisaram uma semana antes que estariam se casando esse mesmo dia, isso causou mais tristeza na jovem. A sua mãe convidou um casal de amigos para substituí-los.

O casamento foi apenas a cerimônia religiosa e um simples almoço em casa para a família, os pais de Cléa não foram à igreja, tampouco os pais do Zé; não por desaprovação, mas porque eram pessoas muito humildes e não entendiam essa formalidade ritual de entrar com os filhos na igreja.

Cléa sempre foi uma garota sensível, dava importância a ter organização, sonhava com um casamento diferente, a presença dos pais, porém ela não falou nada. Seu casamento não foi como os outros casamentos normais, na cidade os casamentos naquela época eram coletivos mesmo na igreja, então no dia do casamento dela havia mais três casamentos na igreja; além disso, pessoas entravam e saíam durante o casamento, não foi uma cerimônia exclusiva para Cléa e o Zé.

Após o casamento não houve viagem de lua-de-mel, o casal saiu do jantar na casa dos pais do noivo, direto para casa. Cléa não estava muito feliz, o sentimento dela era mais de medo, afinal, seria o seu encontro com um momento desconhecido (o sexo).

Tudo acontece dentro da normalidade embora a jovem sinta falta de romantismo, gentileza, cavalheirismo por parte do se marido. No dia seguinte ela sente vergonha de encarar as pessoas, também acorda com o sentimento de sonhos frustrados, no coração da jovem a presença do seu amor pelo André só cresce, embora ela esteja ciente de que é algo impossível de que é algo impossível diante da sua atual realidade.

Cléa é uma jovem católica, temente a Deus e praticante da doutrina da Igreja, ela entende que por mais que sinta esse amor, não deve alimentá-lo. O André deve ser esquecido e ela deve fazer de tudo para que o seu casamento dê certo, está disposta a lutar e a amar o seu marido, a agradá-lo. Esse sentimento nobre de Cléa, no fundo esconde uma imensa culpa pelo fato de ter se apaixonado pelo André, ela sofre e está mergulhada num dilema muito grande para uma garota de dezesseis anos.

Passam-se duas semanas de casados, Cléa está feliz (pelo menos sente alguma satisfação) em cuidar da sua casa e dos seus pertences domésticos, ela se ilude que poderá ser mais feliz do que quando estava solteira. É manhã de sábado de 1997, dia de Zé ir à cidade fazer compras, a Cléa diz que vai com ele, porém, ele se recusa a levá-la e a trata com grosseria sem nenhuma razão.

Cléa não consegue entender porque o esposo com apenas quinze dias de casado não deseja a sua companhia, ela replica que irá com ele e vai até a geladeira tomar água. Enquanto ela replica e diz que irá sozinha se ele não lhe der uma carona, o mesmo fica furioso e toma o copo das suas mãos e joga no chão com muita violência, em seguida ele pisa com os dois pés sobre o copo.

Cléa fica calada, se afasta e vai para o quarto chorar baixinho; o Zé sai batendo a porta, pega a sua moto e vai para a cidade. A tarde ele chega com as compras e age como se nada tivesse acontecido, Cléa pensou que ele iria pedir desculpas e tudo ficaria bem; ela estava esperando que ele se redimisse da sua atitude tão grosseira, mas ela se enganou.

O copo jogado foi apenas a primeira grosseria do marido em início de casamento, Cléa começou a ver que o Zé não podia ser contrariado, todas as vezes que ocorria contrariedade ele reagia de forma rude. Mais uma semana e o alvo dos rompantes dele passou a ser contra os pertences dela: suas bijuterias, caixinhas de perfume, etc. Ele quebrava, jogava no chão, atirava contra a parede, parecia sentir prazer em deixá-la assustada.

A vida da garota estava cada dia mais triste, em menos de dois meses de casados o Zé começou abater nela, tentava sufocá-la com o travesseiro, empurrava, xingava com palavrões, esmurrava, batia na sua cabeça. Ela começou a perceber que aquele homem era um pesadelo na sua vida; sem contar as diversas vezes em que ela era obrigada a disfarçar a dor em sorriso para aparentar para os familiares e amigos que estava tudo bem. A violência virara rotina na sua vida.

A Vida de CléaWhere stories live. Discover now