Chegando à cidade em que ia fazer o vestido de noiva ela estava feliz, seu olhar brilhava como o daquela menina serelepe na infância, a sua tia carinhosa, sempre disposta a ajudá-la. A família da Maria era muito religiosa, a cidade da tia conhecida por ser uma cidade de pessoas religiosas. Então, a rotina de Cléa e da sua tia naqueles dias foi de idas à igrejas e missas duas vezes ao dia. A menina estava se sentindo bem, se arrumava e se pintava com os itens de maquiagem da tia. Em casa, o Celso proibia a ela de se pintar.
Na segunda noite na cidade foi com a tia a missa na igreja mais antiga da cidade, a tia a deixava à vontade, então Cléa foi dar uma volta em um dos inúmeros pátios da antiga igreja. Ela passou para olhar o outro lado do pátio e o local era iluminado por uma luz amarelada, não muito clara, ali ela ouve a voz de um rapaz falando que deve voltar, pois é perigoso aquele lado da igreja; se assusta e para repentinamente. O jovem se levanta aproxima-se dela e se apresenta gentilmente, diz seu nome e pede para acompanhá-la durante o seu breve passeio dentro da igreja, ela sem jeito de falar não, aceita. O nome dele é André Batista, alto, magro, educado e doce. Cléa gostou dele assim que ouviu a sua voz, mas, ela tinha na mente o peso da responsabilidade, estava naquela cidade para voltar e se casar, ela tentava convencer a sua mente a pensar dentro dessa cadeia lógica.
O André era tudo o que o Zé não conseguia ser. Depois do passeio rápido ele a deixou ao lado da sua tia e a mesma olhou desconfiada e perguntou: _ Quem é esse cara? Ela respondeu: _ Eu acabei de conhecê-lo. A tia ficou desconfiada e sorriu pra disfarçar, ambas foram pra casa. Pela manhã acordaram cedo e foram à missa das cinco horas da manhã, tiveram um dia longo de trabalho e mais uma vez à noite foram à igreja. O André disse que, todas as noites ficava ali por perto da igreja, afinal, a sua casa era na avenida lateral e, ele gostava de ficar com os amigos olhando o movimento dos fiéis indo e vindo da igreja e das suas missas.
Cléa não parou de pensar no André, estava andando mais atenta a partir da noite anterior, como se procurasse encontrá-lo. Ela foi à igreja, participou de toda a cerimônia e ao final o André que já estava aguardando e ela nem sabia, apareceu e lhe chamou para conversar um pouco. A tia ficou entretida conversando com as irmãs da igreja, depois o seu noivo apareceu para encontrá-la e a Cléa aproveitava o tempo que tinha para conversar com o André.
Não havia nada premeditado no coração da Cléa, ela estava confusa, a tia começara a fazer o vestido, era um misto de sentimentos avassaladores e conflitantes. O André estava cada vez mais perto, na terceira noite eles se beijaram e um sentimento tão poderoso que surgia, que dava medo de perder tudo aquilo. Ela nunca tinha vivido isso, nenhum dos dois namorados havia demonstrado sentimentos tão sublimes, tanta paixão e devoção por ela. Nunca havia se sentido amada como estava naqueles dias, Cléa estava confusa.
Durante as próximas noites André e Cléa passaram a se encontrar, a missa noturna agora era apenas um pretexto para ela. A tia começou a ficar incomodada com o que estava acontecendo e conversou com a garota sobre as decisões que ela precisava tomar, interrogou-a se ela tinha noção das suas atitudes, se realmente ela iria se casar mesmo estando apaixonada a três meses antes do casamento; Cléa chorava e confessava os seus dilemas, o sentimento de culpa e o amor imenso que estava sentindo por André. Tudo aquilo era novo e aterrador para a menina.
A conversa entre as duas foi demorada, a partir daquele dia a tia passou a ser cúmplice dos dois. Cléa vivia ao lado de André, noites de muita alegria e ternura, era um amor adolescente, sem sexo, mas, extremamente forte, ele desejava a garota com todas as suas forças. Desde o segundo dia que ela contou a ele sobre a razão da sua presença na cidade, ao saber ele chorou muito, e, todas as noites eles falavam sobre o dia da sua partida. O garoto sempre implorando para ela ficar morando com a sua tia, bem que ela queria, porém, sabia que para isso teria que romper com seu pai, dar desgosto a ele e envergonhá-lo diante da família do Zé.
Em nenhum momento o Zé era o maior impedimento, o compromisso de Cléa era com a honra do seu pai, mesmo o Celso sendo tão rude. No fundo ela entendia o seu pai, ela o amava profundamente.
A cada encontro o casalzinho vivia seus momentos mais lindos, eram beijos apaixonados, abraços demorados, encostava a cabeça no ombro do outro e faziam planos: pensavam em fugir, em fazer amor e obrigar os pais dela a aceitar o final do noivado, ela pensava em enfrentar a família e ficar com a tia; ali teria a oportunidade de estudar e trabalhar, afinal era uma cidade grande. Em todos os planos do casal estava o estigma da obediência cega da Cléa, mesmo diante de uma única chance de ser feliz, ela anda se sente presa a necessidade de violar a própria vontade. Sempre que o André pensava nas maneiras deles ficarem juntos, a Cléa ficava triste, ela sentia medo de enfrentar os obstáculos, mesmo sabendo que era tudo que ela mais desejava na vida.
O dia da separação deles se aproxima e, ambos cada vez mais apaixonados, os planos para ficar juntos enfim, são concebidos de forma mais madura: ela vai voltar pra casa e falar que não quer mais se casar, rompe o noivado, enfrenta o Celso e vem morar com a tia; a própria tia concordou que, esse seria o melhor caminho a ser seguido e a maneira mais sensata e, não causaria grandes dores.
Eles planejaram tudo, André escreveu uma carta com seus dados: endereço, nome completo, adicionou uma foto dele; Cléa guardava como se fosse a joia mais preciosa, o amuleto da sorte, a própria sobrevivência... Na noite anterior eles se encontraram, entre beijos e lágrimas passaram algumas horas juntos. Os planos estavam feitos, era só seguir cada passo, e assim eles se separaram aquela noite.
Cléa passou a noite chorando baixinho, pela manhã foram a rodoviária e viajou para casa, na mala estava o seu vestido de noiva; era apenas um detalhe que ela queria que em breve fosse esquecido. Nada mais fazia sentido, pensava como seria estranho rever o Zé, imaginava as palavras para dizer a Maria, tudo era tão claro na sua mente, tinha certeza que em breve estaria nos braços do André para sempre.
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A Vida de Cléa
RomanceO romance conta a história de uma jovem pobre que nasceu no Ceará, sofreu com a seca, foi vítima de todas as mazelas que a pobreza e a falta de oportunidade pode fazer. Também conta sobre seus amores, a sua paixão por um rapaz em dias de se casar c...