Continuação...

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 Ao chegar a Vila, avista um de seus cúmplices, ajudante e amigo. Tierri é seu nome. É um garoto dos seus onze, doze anos muito prestativo e esforçado a ajudar sua mãe e seus três irmãos pequenos.

 Pandora o conheceu devido a uma enfermidade que assolara sua mãe e como a família é de origem pobre, já não sabia mais a quem recorrer.Tomara as rédeas da situação e tratara sua pneumonia à base de ervas e chás, o que surtiu efeito e tempos depois a curou, mas tudo realizado de forma sigilosa, pois a igreja não polpava nem os curandeiros da forca alegando serem bruxos à mando dos demônios. Tierri se sentiu em dívida com ela e prometeu guardar segredo junto a sua mãe, ser seu fiel ajudante e escudeiro eterno, fato que lhe comove e emociona até hoje, pois ganhara um amigo pra toda a vida.

 Antes de conhecer Tierri, costumava vê-lo pelos mercados à procura de trabalho por umas poucas moedas de bronze e a pegar alimentos descartados pelos comerciantes locais, onde muitas vezes apodrecidos. Comovida, passara a todos os meses lhe presentear anônimamente com frutas, verduras e legumes de sua horta, mas nunca revelou tal proeza, porque Tierri era muito orgulhoso e prezava isso em seu pequeno e corajoso amigo.

 - Boa dia Milade! - cumprimenta Tierri com sua costumeira educação ao vê-la arrumando a pequena barraca com as frutas, legumes e hortaliças que cultivara nas proximidade de sua humilde e singela residência.

 - Bom dia, nobre cavalheiro! Como estão sua mãe e irmãos? - questiona sorrindo.

 - Estão bem Milade, na medida do possível, mas tudo vai melhorar quando um dia eu entrar para a Guarda Real! - respondera com o olhar sonhador.

 - Hum... Aposto que esquecerá de sua amiga aqui quando for tão importante... - fala Pandora em tom de brincadeira.

 - Nunca! Aí sim poderei proteger-lhe da maneira devida. - fala fingindo empunhar uma espada no ar com trejeitos de um verdadeiro Guarda Real, o que faz Pandora sorrir com o futuro já traçado de seu amigo, ao qual não poderia lhe revelar.

 - Enquanto esse dia não chega, vamos trabalhar.

 - Sim Senhorita  Milade! Estou as suas ordens. - faz uma reverência exagerada curvando-se, ao qual Pandora corresponde na mesma intensidade e os dois caem na gargalhada.

 O dia correra tão rápido e agradável.

 Ao contar o episódio do encontro com o Capitão da Guarda Real para seu pequeno e corajoso amigo, vira os olhinhos de Tierri brilharem. Lhe bombardeou com várias perguntas de como ele é, como se porta, se parece importante e imponente dentre outras coisas das quais Pandora pacientemente lhe respondia, o que só fazia crescer o sonho que Tierri guardava dentro de si.

 Entre conversa vai e vem, desmontaram a barraquinha, despediram-se e Pandora se dirigiu para o caminho de volta ao seu lar tão amado.


 Como passar da paisagem no fim de tarde, perdeu-se em pensamentos sobre aquele Cavaleiro e até mesmo ansiou o próximo encontro pelo simples fato de tentar descobrir que sentimento é esse que lhe aflorou na alma e tentar desvendar o que a Deusa quer lhe mostrar. Tem plena consciência de que as razões só lhe serão reveladas no momento oportuno e que não adianta em nada querer adiantar os acontecimentos, pois a Deusa só lhe mostra o que convém no momento. Entende que possui todo um propósito por trás, porém os tais sonhos com o Cavaleiro de olhos negros lhe deixam em um misto de angustia e um sentimento de profundez inenarrável para a sua simples existência. 

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