Capítulo 2 - Emory

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 Emory adentra seu quarto em um dos aposentos do Castelo Real, por ser um Capitão renomado e vencedor de várias batalhas, possui um pouco de privilégio. Privilégio esse que só conhecera no término de sua adolescência, onde tivera sua paternidade reconhecida após tantos anos como um bastardo em um prostíbulo pobre e decadente onde morara com sua mãe.

 O Conde Louis Dreux possuía um único filho como herdeiro, mas com toda a vida extravagante que levava, o Lorde e herdeiro Jean Dreux  acabara acometido de um mal do qual nenhum médico renomado descobrira a causa, deixando assim o seu legado sem herdeiro algum,até descobrir a existência de um neto que fora rejeitado pelo próprio pai por ter nascido de uma mulher negra e prostituta. De pronto, o Conde Dreux não mediu esforços para encontrar o herdeiro de seu título e bens. Fez questão de educar Emory com os mais refinados conhecimentos, pois nunca se importara com sua cor de pele e mesmo assim, desde que conhecera seu neto, percebeu que o mesmo tratava-se de alguém destemido, corajoso e leal como ele mesmo um dia fora. O viu evoluir a cada dia que sua vida se esvaia, pois estava muito velho, mas era grato aos céus por tê-lo encontrado e juntos aprenderem o companheirismo, amizade e amor de Avó/Pai e neto/filho.

 Emory jamais esquecera o que o velho Conde lhe ensinara e jamais esquecerá o quão importante fora em sua vida, mesmo que por poucos anos.

 Ao retirar as pesadas roupas de batalha, aconchegara-se na banheira rústica para um banho quente previamente preparado pelos escravos do castelo. Ainda sente-se mal ao presenciar tantas pessoas pobres de pele negra escravizadas e ter sido privilegiado pelo destino a não ter uma vida condenada à miséria, mas sabia o quanto a vida é injusta e infelizmente nem há como salvar a todos que encontra pelo caminho.

 Ao relaxar, visualiza aquele rosto de sardas, pele alva, madeixas alaranjadas e olhos verdes destemidos. Desde aquele encontro que não tirara aquela mulher de seus pensamentos. Tivera a leve impressão de conhecê-la de algum lugar, mas não conseguia recordar-se de onde e isso lhe consumia desde aquele fatídico dia onde vira o próprio sol iluminar suas vistas e vida, lhe trazendo uma tranquilidade e ao mesmo tempo uma inquietação inexplicável. Nunca se sentira assim,talvez por causa de sua beleza exótica. Precisava passar mais vezes por aquela estrada, ou andar pelas proximidades do mercado da Vila.

 Saiu do banho após alguns minutos, mas nem o mesmo aplacará a suave excitação que abalara seu corpo ao se recordar daquela estranha mulher. Nenhuma mulher jamais o deixara tão perturbado.

   Após vestir-se com roupas leves, deitara-se na cama, mas sabia que a noite seria muito longa.


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 Antes mesmo do sol despontar no horizonte levantara-se e dispensara a escrava que traria o seu desejum. Estava disposto a arrumar-se e reencontrar aquela ruiva fascinante mais uma vez. Ainda tinha uma semana de descanso pela frente até a chegada do Rei Esteves e do Major Sir Geremy para traçarem estratégias da próxima investida contra o Castelo de Lord James.

 Após arrumar-se com seus trajes nobres, fora até o estábulo do Castelo.Seu cavalo já encontrava-se preparado como solicitara na noite anterior. Montara no Raio Negro e dirigiu-se em direção à floresta.

 Passara na mesma estrada ao qual encontrara a bela Pandora. Sim, um nome belo e ao mesmo tempo misterioso como a sua portadora. Ainda não conhecia de fato a sua história e lhe despertou a curiosidade o fato de que não dava importância ao título herdado, assim como ele próprio.Algo mais a admirar naquela pequena deusa da floresta.

 Passou em torno de duas horas cavalgando na floresta e nada de avistá-la.Parou então à beira de um rio. Descera do Raio Negro o amarrando em torno de um tronco de uma árvore próxima após deixá-lo beber um pouco de água. Voltou ás margens e sentara-se próximo deixando a brisa refrescar seu corpo um pouco suado, estava entre alguns arbustos quando a avistou do outro lado a banhar-se graciosamente e totalmente despida. Ficou um pouco apreensivo, pois ela poderia vê-lo à espreita, mas ao olhar ao redor, percebera que o local ao qual encontrava-se estava meio oculto pelas árvores e vegetação.Aproveitara aquele momento para contemplar secretamente sua deusa da floresta. 

 Sentia-se deslumbrado com tamanha beleza entre as águas. Uma ninfa. Os cabelos avermelhados molhados ao redor de seu corpo como um manto, sua pele reluzindo nos poucos raios de sol, uma névoa suave ao redor que deixava tudo hipnoticamente . Percebera a sua face maravilhada como se estivesse conectada a toda a natureza ao seu redor e nada mais importasse. Foram poucos minutos de contemplação, mas necessários para uma vida inteira caso não a visse nunca mais e tinha certeza que que aquela imagem o assombraria pelo resto de seus dias.

 Tenta ocultar-se o máximo, mas algo assusta Raio Negro e o mesmo empertiga-se e relincha alto, o que chamou a atenção da deusa da floresta. Ela imediatamente olha em sua direção e o encara sem pudor algum. Sua expressão não denota surpresa, apenas uma calmaria e plenitude.

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