Estava meio em choque e não conseguia assimilar muito bem o ocorrido. Recordou as últimas palavras de sua Tia Eme, mas nada parecia fazer sentido naquele momento.
Passou minutos entre a tristeza, confusão e um pouco de desespero num silêncio quase atormentador. De uma coisa tinha certeza, estava desamparada pela única pessoa que fazia parte de sua família e seu mundo.
Olhou a carta que jazia esquecida no colo, com aquele selo familiar, masque sempre trazia uma novidade, enigma ou mal presságio, onde apenas quem era dessa sociedade reconhecia e sabia do que tratava-se. Seu temor maior não era a possibilidade do que poderia conter ali, ou não conter, era a sensação que se apoderava do seu corpo que parecia querer engoli-la. Então criou coragem e finalmente rompeu o selo que demonstrava estar lacrado a algum tempo. Podia quase ouvir a voz de sua Tia narrando as palavras.
" Querida Noeme,
Ao chegar em suas mãos é pelo motivo de que já parti.
Tente não questionar minha decisão em querê-la no orfanato, pois não vejo local mais seguro se não esse , pois apesar de confiar em algumas poucas pessoas, prefiro não arriscar.
Sei o quanto estais confusa, triste e desolada, porém tudo terá explicações no momento exato. E infelizmente para não interferir, porque não posso e nem devo, deixarei que o tempo te faça compreender e descobrir tudo na hora necessária.
Serás muito bem vinda ao novo lar e há tempos já havia planejado tudo da melhor forma possível.
Não te deixarei por completo. Minha energia e proteção sempre te acompanharão onde estiveres.
Peço perdão.
Sua Tia que tanto te amou, Eme."
Como assim? O que significavam aquelas palavras? E porque pediu perdão? Questionamentos esses que estavam fazendo sua cabeça fervilhar. Releu mais duas vezes a carta a procura de respostas, mas era cheia de enigmas e informações cortadas. E agora? Seu mundo parecia desabar cada vez mais e um calafrio perpassou seu corpo.
Levantou com a carta ainda em mãos e seguiu até as grandes janelas do escritório. A paisagem lá fora não condizia com o que se passava em seu coração: um radiante dia cheio de cores, aromas e felicidade.
Não sabia se chorava, se gritava, se lamentava ou ficava em silêncio. Era uma agonia interna que pensara que não mais sentiria.
Queria poder ficar ali, apática e alheia á tudo numa forma de não perder o resto da sanidade, mas era em vão. Precisava aceitar a realidade e tomou as últimas palavras de sua Tia quase como um mantra para tentar reconfortar seu coração:
"-A Deusa nunca mente. Tenha paciência e que a sabedoria sempre te acompanhe. Jamais esqueça os ensinamentos da tradição e continue em seu caminho."
- Que caminho é esse, Tia Eme? - sussurrou pra si mesma e suspirou pesadamente enquanto à vista ficava turva em meio ás poucas lágrimas.
***
Era Quarta-Feira de cinzas, bem condizente com o nome de "Quarta-feira ingrata". Um céu cinza que quase transformou aquela manhã em noite, frio e uma chuva que parecia que não pararia mais.
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Amaldiçoados
Fantasy*Sinopse improvisada* França, ano de 1357. Pandora se vê sozinha após o falecimento de seu Tutor e Mestre, mas é grata por tudo o que aprendera e pela pessoa que se tornou. Reside em uma pequena cabana cercada de natureza e é lá que aprimora seus...