O Fracasso à Linha de Chegada

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Caminhava pelas ruas da cidade. As grandes lojas esbanjavam as mais variadas espécies de produtos inimagináveis. Tudo novo, tudo reluzia.
Observava o limpo chão pelo qual pisava, tal limpeza se compararia a um salão de festas da nobreza.
O tempo nublado já se fechava ainda mais, dando um aspecto de cinza macabro às largas ruas escuras. O azul noturno abraçou cada ponta com seu manto, e assim, tudo clareou-se. A primeira vista, as luzes poderiam ser confundidas com uma passeata em comemoração ao natal, porém nenhuma cantiga era entoada, nada mais se escutava a não ser som de passos apressados, estes abafados pelas vozes das propagandas vindas das telas nos altos prédios espelhados.
O abafado do verão o seguia, e apenas desejava um sopro de vento, mas infelizmente nenhuma brisa era assoprada.
Acordou-se de seu pensamento sobre os ventos quando alguém esbarrou em si, porém ao olhar o culpado, perdeu o ser ao meio de tantas cabeças baixas andando roboticamente.
Ao virar em uma esquina, deparou-se com um parque, ou talvez, o que deveria ser um. O cinza cimento cobria todo o chão, alguns balanços brilhosos de metal davam boas vindas à nenhuma criança para balançar-se.
Tantos postes, tantos outdoors apresentando os mais novos grandes avanços da tecnologia, as telas digitais nos edifícios passando propagandas que repetiam-se nos celulares de quem passava ao seu lado.
De tanto olhar para o alto, levantou ainda mais o queixo e pôde ver o céu, um vasto breu liso e sem quaisquer ponto brilhante.
Tentava observar as expressões de quem ao seu lado passava, mas com seus pescoços curvados, pouco se vía a não ser um semblante sério e vazio.
Caminhava lentamente, de tanta pressa já havia vivido, corrido com o tempo, ganhara a aposta, estava na linha de chegada, o triste é essa medalha que veio a receber.
Suspirou ao sentir falta de diversas coisas.
Esse chão limpo, que para uns seria o piso ideal, que antigamente carregava tanto descarte humano e animal que dava pesar ao olhar, agora, carregava sequer pó de terra.
Tantos prédios fechando as ruas, escureciam ainda mais o asfalto, mesmo que iluminado por tantos postes e outdoors.
O ar cheirava a fumaça e a produtos, a existência humana arrebatava qualquer aroma de vida que se poderia sentir.
No meio de tanto cinza, branco, preto e os coloridos artificiais das telas, o verde era o que menos havia presença nessa paleta de cores. O marrom via-se apenas em calçados sociais dos homens de terno que passavam com olhar duro, postura tão rija quanto aos caules das árvores inexistentes.
Chegou por fim, a dar um melancólico sorriso. Sua vitória foi uma grande perda.
Encaminhou-se à desértica praça e sentou-se em um dos balanços, enquanto olhava para sua frente, chegou a uma conclusão.
A Vida que tanto se busca viver, pode morrer enquanto se vive.
A Vida morre quando tira-se os resquícios de natureza existentes, quando as paisagens tornam-se somente artificiais, quando seu campo de visão se resume à uma tela.
Levantou-se do balanço, pegou seu prêmio da corrida que apostara consigo mesmo, um clique ou dois, atualizou a data.
Conseguiu chegar, há um tempo atrás, à conclusão de um dispositivo temporal, com ele, foi à data almejada do futuro, porém ao romper a fita de chegada, percebeu que era no fim, o perdedor.
Já em sua realidade atual, toda vez que sentava-se ao jardim de sua casa, tirava um momento para deslumbrar o fato da existência de uma árvore e suas plantas no quintal, algo que para ele, era de maior luxo do que um aparelho da maior tecnologia de seu tempo real.

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