Afogado em Febo

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O limpo céu emitia tais raios solares que poderiam iniciar chamas em terrenos de mata seca. Sequer haviam nuvens no horizonte, apenas a vastidão azul.
Olhar para cima lhe doía. O Sol jamais o castigara tanto...
Olhando à seu redor, alguns de seus vizinhos não se importavam com o abraçar do Sol, outros, eram visivelmente torturados pelo calor dele.
E pensar que iria sentir tanta falta de quem amava, nunca havia ficado tão distante Dela a ponto de querer chorar, mas não poderia se dar ao luxo de desperdiçar qualquer gota d'água.
Porém, não iria perder a postura, ainda lhe haviam esperanças, Ela iria voltar.
Infelizmente não se sabia quando...
Passaram-se as horas, o Sol se pôs à adormecer e a Lua a despertar.
Ansiedade por todo o corpo, passava o dia na espera desse momento, porém não acontecera. Devido a atual estiagem, a seca era tal que nem a noite lhe presenteava com o doce orvalho.
Seria uma longa noite, mas sua esperança era tão grande quanto a distância dos Astros que lhe visitavam.
As cigarras trouxeram junto de seu canto, a quente manhã.
Todos se espreguiçavam e se erguiam para o Sol, este já sendo tão atroz sem sequer ter chegado à seu ápice.
A rotina repetiu-se mais uma vez.
Mais duas.
Três.
Até que chegou o ponto de perder-se na conta de quantos Sóis haviam nascido e repousado.
A saudade gritava ainda mais por seu Amor que lhe havia deixado.
O ânimo de todos estava gasto, poucos ainda tinham vigor para estar expostos com júbilo.
As andorinhas os sobrevoavam alegremente, estava longe da época de emigrarem outra vez.
Olhar para seus companheiros já estava cansativo, de relance ainda ousava observar o azul acima de si, por fim contentou-se a olhar para si próprio.
O peso era demasiado grande para esforço, perdera a noção da Lua e sua troca de fases.
Cansado, alcançava os próprios pés, sua vitalidade estava esgotada, tão abatido estava, que não prestou atenção na claridade que havia em volta, e não teria entendido o que estava acontecendo até reparar no que ocorria aos seus pés, os quais estavam o refletindo.
Com o restante de suas forças, tomou coragem e levantou o olhar, podendo então sentir o impacto em seu rosto.
Alegrou-se em meio à tristeza, sua esperança o recompensara.
Em seus últimos momentos, pôde sentir a água abraçar suas murchas folhas e ter suas pétalas beijadas por sua amada Chuva.

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