Depois de algumas fracassadas tentativas, consegue romper o cadeado, deixando a pesada corrente cair pendente ao lado do portão enferrujado.
Logo a frente, em meio à alto mato, um corredor de pedras leva a uma imensa casa no estilo vitoriano. A lua clareia a visão de arbustos com flores murchas e secas caídas, há também placas de "Saiam" e "Mantenham distância". A casa de três andares seria majestosa, caso estivesse em seus dias de glória, a varanda esconde-se no meio do matagal, janelas com vidros estilhaçados ou madeiras pregadas tampam a visão do interior, pichações dão ainda mais ar de abandono.
O rapaz responsável pela abertura é seguido por uma garota, atravessando pelo corredor de pedras e abrindo caminho em meio ao verde vasto em frente.
Chegando a varanda, em menos de alguns minutos a trava da porta é aberta com tal facilidade, que o rapaz esboça um sorriso orgulhoso. Olhando para sua companheira, lhe dirige um torto sorriso e lhe diz ao abrir a porta da casa:
-Primeiro as damas.
-Você é um covarde. -Responde-lhe a moça.
Ela entra pelo corredor e é seguida pelo jovem, este que deixa atrás de si a porta aberta.
Teias de aranha são iluminadas pela claridade do poste de luz da rua e lhes dão as boas vindas. O rapaz puxa a garota a sua frente e a põe contra a parede, sorrindo, tenta lhe beijar, mas é interrompido pela fala dela:
-Viemos aqui para explorar- Ela fala ao garoto, se afastando dele- Não ia me contar uma história?
Ele a solta com desânimo e toma a frente no corredor, chegando então á um grande saguão com dupla escada dando acesso ao próximo andar. Móveis antigos em estilo gótico tem lugar em meio à bagunça. Cadeiras jogadas no chão, armários virados, um piano no meio do recinto, tudo coberto com uma grossa camada de poeira e sujeira. Tudo com aspecto velho e acabado, papéis de parede mofados e descascados pelo tempo, e em meio de tudo, resquícios da atualidade. Latas de cerveja e garrafas de energético pelo chão e por cima dos móveis jogados aos cupins, mudas de velhas roupas jeans, pichações agressivas pelas paredes e chão.
-A história conta que essa casa era um lar para crianças- O rapaz inicia o conto- Tudo ia bem, as crianças brincavam pelo jardim, tinham tutores particulares e um semblante feliz. O dono da casa era um homem de meia idade, quando aparecia aberto à sociedade transparência amargura, já que sua esposa havia morrido de tuberculose fazia pouco tempo, era por causa dela que ele mantinha a casa e as crianças, era como se fosse a lembrança dela, e dos filhos que eles nunca tiveram realmente. -O jovem se aproxima da escada próxima e sobe alguns poucos degraus- É contado que com tantas risadas infantis pelos corredores e quartos, o dono da casa enlouqueceu, ele não aguentava mais a tortura de tanta alegria solta por aí, ele afogado em tristeza, queria acabar com isso, essa felicidade que não pertencia a ele. Então em uma noite, pegou uma adaga e visitou os quartos das crianças. Algumas ele conseguiu assassinar em silêncio, pôs um travesseiro na cabeça das crianças e as apunhalou. Outras ele simplesmente cortou as gargantas enquanto dormiam. Uma delas gritou e acordou outras, que começaram a tentar fugir, mas foi em vão, ele as caçou e as matou friamente. Decepou até mesmo as duas empregadas que moravam na casa. Quando a chacina terminou, ele amarrou uma corda no meio do corrimão dessas escadas- Ele apontou para a direita, mostrando na escada onde seria o local- E enrolou em seu pescoço, cometendo suicídio.
A história conta que a casa é assombrada, que até hoje ele procura por mais crianças pelos corredores. Dizem que quem entra nessa casa, não sai mais, nem o mais alto grito escapa dessas paredes.
-O que fizeram com os corpos?- Indagou a garota.
-Falam que estão todas enterradas no jardim- Respondeu o garoto- Ele era o guardião delas pela lei, não havia onde as enterrar na cidade, então deixaram dentro do terreno.
A jovem subiu a escada, passando pelo lado do rapaz, indo para o próximo andar.
-Se queria me deixar com medo- Disse ela- Não teve sucesso.
Ela sorriu e prosseguiu a subir, o garoto logo indo atrás.
-Aposto que ele correu por estas escadas perseguindo as crianças- O jovem falou, começando a correr até a garota e a fazendo rir e fugir dele, correndo pelos corredores da casa.- Vou te pegar hem.
Eles correram até chegar as escadas do terceiro andar, onde a garota parou no meio do caminho, fazendo o rapaz trombar nela e a agarrar.
-Ouviu isso?- Ela perguntou.
-Eu não vou cair nessa- Ele a puxou mais para si, porém parou ao aproximar o rosto do dela quando ouviu um som abafado.
-Isso são passos?- Ela questionou, segurando o braço do garoto.
-Deve ser coisa da nossa cabeça- Ele disse, olhando para o caminho por onde vieram correndo- Deve ser a madeira se mexendo, a casa é velha e o piso range.
Os dois começando a descer para o segundo andar em fim de bisbilhotar os quartos quando ouviram um som de algo cair pesadamente.
-Isso não foi a madeira velha- Ela olhou exasperada para o companheiro.
-Não foi mesmo- Ele retribuiu o olhar com semblante sério- Vamos descer.
Quando chegarem nas escadas que ligam ao térreo, em suas costas ouviu-se o som de passos apressados, como que se várias pessoas estivessem correndo em direção à eles, fazendo-os desesperadamente começar a descer as escadas em meio de sons de pés abafados e madeira trincando, foi quando os sons de corrida cessaram, e por fim, outro som se fez mais alto e nítido, o barulho de uma pesada corda balançando enquanto se prendia em algo no ato. Nisso, o casal olhou para trás, no alto da escada, onde pela história contada, o dono da casa havia se enforcado, lá estava pendente uma corda velha, porém vazia e balançando como se houvesse peso em seu nó de forca.
Com um grito duplo, os dois jovens correram para o corredor em direção à porta por onde entraram, dentro de dois metros estava a saída, mas a porta fechou-se como que se alguém a tivesse batido, e com gritos que ninguém jamais ouviu, os dois descobriram que não era apenas uma história.
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Compilado de Contos
Short StoryAs vezes em um turbilhão de pensamentos e imaginações, me pego contando uma história no meu consciente, a vozinha no fundo da cabeça criando cenas, as vezes algo bom, como uma bela ficção com seres mitológicos, e outras, com casos de mistura da ficç...