Capítulo 2

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ANDREZA

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ANDREZA


— Obrigada por ser tão incrível. — estendo minha mão e aperto a de Lizandra. — E um dia nos odiamos.

— Uma coisa preciso dizer, quando me trancou no porão, tive os dias mais reflexivos da minha vida. Ali, trancada, eu e meus pensamentos, percebi o quanto era escrota e precisava mudar. E quando subi para casa, você me tratou bem. Percebi que meu jeito escroto afastava pessoa. Eu não era legal, eu era um porre.

— Eu só fico triste porque não temos a chance de construir uma vida normal. — respiro fundo, encarando o mar a minha frente, são dois dias de viagem até o nosso destino, e já fico imaginando como será do outro lado, em San José. — Eu queria apenas ficar distante de todo esse assunto, criar meu filho. Às vezes me arrependo de não ter sido como Natasha.

— Sair por aí escondendo que é uma Garcia?

— Sim. Natasha acabou rodando, rodando e parou no Distrito novamente. Mas ela teve a chance de viver um pouco. Tem momentos que paro e penso: E se eu tivesse tido coragem?

A coragem de sair de casa e apenas viver, conhecer pessoas novas. Ter a cabeça erguida o suficiente para quebrar a cara e seguir em frente.

Sempre tive medos, uns mais fortes que outros, mas ser do Distrito sempre foi o pior de todos. Ter aquela certeza que corria riscos, que minha vida vale muito para inúmeras pessoas. Então, sair até do meu bairro sozinha era motivo de pânico.

Ser filha de Anthony Garcia me fez ser conhecida. Não nos parecemos em nada, eu com meu cabelo louro, meio cacheado, corpo mais cheinho... Pareço a minha mãe com uns vinte quilos a mais, já que a mulher é toda esbelta, quase uma modelo. Meu pai é alto, fortão, negro, um homem sério... Passei despercebida em vários locais, o problema é que na escola sabiam da minha família. Então pronto, Andreza é uma Campello Garcia.

Há quem não saiba os negócios ilícitos da minha família, mas se aproximaram de mim porque minha família é rica.

Queria conhecer novas pessoas, ter amigos diferentes e irmãos e primos, mas meu medo de morrer, de ser a filha do Anthony, tomou conta de mim por um longo tempo.

Eu não era gorda, apenas mais cheinha que minhas colegas. Lembro que desenvolvi seios cedo, aos dez anos já tinha um volume em mim, pequeno, mas em relação as outras meninas, eu tinha algo acontecendo ali.

Lembro de chegar na escola, minha farda parecia uma regata, na época de calor, uma vez, brincando, a alça do meu sutiã acabou aparecendo de tanto que corri. Uma colega perguntou o que eu estava vestindo, era meu primeiro sutiã da vida, eu estava feliz, tinha moranguinhos nele, achei lindo. A menina sorriu com minha resposta, depois uma outra colega riu e falou alto: ''Isso não são seios, Andreza, isso é gordura! Se cortar aí só sai gordura, nenhuma carne''.

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