"A banda está voltando a cidade e lembranças dolorosas também. Não quero lembrar que já pintei minha vida com tons frios, de inverno, mas é inevitável.
Por favor, querido Esperança, não abandone meu coração agora. Espere só mais um pouco. Porque mesmo que uma parte do meu eu negue, a outra pessoa que mora em mim gosta das suas cores quentes como o verão"
Belly B.
É uma noite quente, sem nuvens, e estrelada em Ventura. Mais cedo havia visto o moço do pôr do sol apressado como sempre e carregando bolsas que parecem ser mais pesadas do que seria capaz de carregar normalmente.
Um céu de brigadeiro, diria sua avó com sua voz melodiosa de cantora de salão, e que sempre carregou uma mágoa intangível no coração com a vida e sobre velhos amores. Algo que vai além do interno, é descomedido ao ponto de mexer em tudo que é sobre ela. Afinal, não é a toa que sua avó nunca conseguiu se livrar das linhas de expressões fortes no rosto que a deixam com o mesmo aspecto de amargura que há em seu peito, no entanto, foi por ela que Belly sempre persiste em continuar com um bom coração. Foi Faith Barkin, ou apenas Vovó Fa, quem a ensinou perspectivas sobre a arte de lidar com um coração despedaçado por velhos amores.
Mas Belly não tem boas lembranças com noites de céu de brigadeiro.
A brisa costumeira que surge sempre na ascensão da noite, sequer se faz presente para ter misericórdia do condado durante o verão. As cortinas não balançam e nem mesmo as folhas das árvores que costumam dançar suavemente seguindo a corrente de vento. O releixo está presente em toda a cidade, uma consequência do calor sobre todos os cidadãos do litoral.
Porém, Belly não se encaixa entre eles. A falta de frescor e presença do calor, até mesmo durante a noite, não a faz abandonar suas amadas velas aromáticas. Ela passou mais cedo pela sala e corredores, antes de ir trabalhar no seu ateliê, acendendo cada uma para que a casa predomine com o cheiro de cravo, canela e eucalipto, sempre caminhando nas pontas dos pés — um velho hábito.
As velas são presente que havia recebido de Seattle, alguns meses atrás, da Lau Jay. Belly sempre amou as pequenas, no entanto, só pode acender algumas de sua imensa coleção, ano passado, depois de se mudar para sua própria casa. Longe do nariz sensível e exigente a cheiros, de sua mãe.
Apesar do calor, é uma noite bonita para aproveitar a mescla dos cheiros de maresia e das velas, invadirem suas narinas, deitada no pequeno balanço de sua varanda. Mas Belly não poderia se dar ao luxo de tirar uma folguinha. A data da exposição em Seattle está mais perto do que nunca e ainda falta acrescentar algumas páginas em seu portfólio, terminar alguns quadros e também sua amada escultura. Há um ano, Belly vem trabalhando com vigor contagiante em sua arte para essa exposição, onde vai estar presente olheiros e professores de Florença.
Nitidamente cansada e melada até os fios dos cabelos de tinta, ela procura pelo maior cômodo da casa — que é o seu ateliê — seus primeiros esboços como principiante, antes de entrar na faculdade, pois é uma exigência — bastante inconveniente, em sua opinião — dos olheiros. A enorme parede tomada por janelas extensas, permitem que Belly tenha uma iluminação natural da lua, além das luminárias acima de cada cavalete espalhados por toda extensão da sala. Belly sempre preferiu a luz natural à artificial e toda luz que entra por aquelas janelas durante o dia foi o estalo para que ela fizesse daquele lugar seu cafofo.
Ela não deseja os esboços apenas para acrescentar no portfólio, mas também para encontrar alguma inspiração para finalizar o quadro principal de sua exposição intitulado como "Pacificus". Desde que teve seu primeiro contato com o moço do pôr do sol, seus pensamentos tem sido uma tempestade. Não que não houvesse ideias, pois tinha. O problema é que são tantas que não consegue as ordenar. Se começa um quadro, na metade sua mente explode como tinta em pó e ela passa para outro. Tudo do início. Entre poeira, livros com marcas de mofo e cápsulas de tinta velha, ela acaba encontrando algo que a faz perder qualquer sensibilidade artística e a possibilidade de terminar o quadro naquela noite.
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A Esperança (não) tem Seu Nome • JHS
Novela Juvenil"Como eu sou girassol, você é meu sol. Um metro e sessenta e sete de sol e quase o ano inteiro, os dias foram noites para mim" Belly Barkin não gosta do verão e muito menos que a loja onde trabalha seja na região mais quente do condado Ventura. Ela...