O quarto escuro, que agora me soa tão familiar, está em completo silêncio. Observo as estrelas no teto me lembrando da maneira como a perturbava por isso parecer tão infantil, mas ela insiste em deixar ali por ser uma lembrança da infância.
O sono parece não chegar e a calmaria da noite me perturba, porque meus pensamentos flutuam através das estrelas e deste pequeno espaço. Contudo, tudo começa e termina sempre no mesmo lugar, na mesma pessoa. A figura que dorme calma ao meu lado e constantemente se mexe durante o sono.
Pensar que minha vida mudou desde que a conheci naquela noite chuvosa é estranho. Como se o tempo e o espaço estivessem distorcidos e tudo ao meu redor apenas congelou quando a vi, uma fissura, e tudo o que existia se resumia a nós dois.
E pensar que já tentei a afastar e fechar as portas para ela. Aquele quarto se encheu de caos tão rápido e me vi sozinho, vazio, tentando preencher os buracos que ela deixou. Não tive sucesso no fim.
Me lembro que a conheci em um outono chuvoso. Eu esperava um amigo meu na esquina de uma cafeteria, mas ela estava fechada, só não fui embora porque precisava da carona do rapaz atrasado. Foi quando ela me encontrou, todo ensopado naquela chuva e, por um momento, tudo simplesmente parou.
Ela me ofereceu um espaço debaixo de seu guarda-chuva e começamos a conversar, foi quando percebi que ela era exatamente como eu, tão parecida que cheguei a me assustar. Depois que entrei no carro, meu amigo pediu desculpas, mas eu só consegui sorrir, segurando o número do telefone dela em mãos.
Me viro, apenas para olhar para ela. Meu coração pula uma batida ao vê-la tão serena e bela naquele espaço só dela, os cílios longos estão visíveis agora que ela não está com os óculos que sempre usa, adorava ouví-la reclamar que nunca encontrava a armação perfeita, seus cabelos se espalham sobre o lençol em um emaranhado castanho com cheiro de shampoo e perdido naquele mundo, o seu mundo, eu divago.
02:00
O relógio na cômoda marca duas da manhã e percebo que não é tão tarde assim, ainda falta muito para o amanhecer. Me cubro com o edredom grosso, escondendo meus pés gelados sob o algodão, tentando esquecer a fria noite de inverno.
Tento me lembrar de como minha vida era antes, antes dela aparecer e me fazer orbitar como parte de seu sistema. Me lembro apenas de um rapaz solitário, muito desacreditado que vivia em um mundo cinza. Fui resgatado por uma pessoa que me mostrou o que era cor.
Talvez por isso eu queira protegê-la a todo custo.
Colocar dentro de um pequeno pote para nada fazer mal.
Talvez essa seja a melhor estratégia.
Sorrio para o silêncio do quarto. E, em um velho hábito, volto a admirá-la.
Creio que eu faria tudo por ela.
Tudo o que quisesse.
O quanto quisesse.
Se vivêssemos em um conto de fadas, eu seria um príncipe e a resgataria da torre. Começaria revoluções para mudar o mundo e torná-lo melhor porque eu tenho um motivo, ela. Enfrentaria os sete mares e cruzaria o mundo para trazer o maior tesouro até ela. Estudaria cada ciência se isso me levasse à compreensão sobre como ela pode ser tão perfeita para mim, mesmo que fosse tão difícil.
Como eu já disse, tudo meu orbita em volta dela e em um passe de mágica eu me tornei parte daquele sistema tão colorido no espaço.
Aquele espaço só dela, assim como este quarto. Não me senti melhor quando tentei cobrir seus traços no quarto caótico e mesmo depois de ter a afastado por estar assustado demais com toda mudança eu corri até ela. Ela parecia tão mal quanto eu e juntos reconstruímos aquele lugar só nosso, deixando os medos e preocupações de lado naquele espaço que criamos e vivemos juntos e ao invés de jogá-lo fora e desistir de tudo decidimos recomeçar e esquecer o quarto repleto de caos.
Queria que realmente o tempo e o espaço se distorcessem e se entrelaçassem, apenas para viver tudo o que já vivi ao seu lado, voltar no tempo, apenas para desfrutar de cada mísero momento. As incontáveis noites naquele espaço compartilhado entre nós dois, as conversas depois da meia noite que não faziam sentido algum porque já estávamos embriagados de sono e ríamos de qualquer besteira como duas crianças.
Sou muito grato ao universo por me colocar em órbita e evitar que eu me perca no espaço.
Quando o relógio marca três horas, meus olhos pesam e o sono bate a minha porta. Procuro sua mão no escuro e seus dedos se entrelaçam aos meus.
Um sorriso e todo o meu mundo e tornava colorido novamente.
Porque estávamos em nosso lugar.
No espaço, apenas nós dois.
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Música do capítulo: Chaos - Hwiyoung
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Poem 詩, 00:00 » » SF9
FanfictionTítulo: Um idiota ridículo. Uma única rosa que você é Encharca meu coração. Fazendo com que minhas bochechas Fiquem vermelhas como o sol. Você é... O que eu estou dizendo? Acho que vou apenas dormir. ...