• Zuho •

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03:00

O visor do meu celular me diz.

Minha respiração está descompassada, tento a todo custo me acalmar, sentindo o chão frio do quarto sobre os meus pés descalços.

Me escoro no vidro que separa a varanda do quarto, procurando me afastar da lembrança daquele pesadelo que quase sempre me dá o ar de sua graça. Estou cansado desta rotina, acordando no meio da madrugada fria, andando de um lado para o outro até meus pés se cansarem e eu, finalmente, desistir de dormir naquela noite.

Conto até dez, respiro, mas não me acalmo e, consequentemente, repito todo o processo.

De novo.

E de novo.

A luz que reflete na parede me lembra do vazio que sinto, esse vazio que me persegue e parece nunca me deixar. E, mesmo nesta situação me sinto sozinho, procurando por um eco em uma caverna qualquer, mas sou apenas eu e minha voz baixa e solitária na escuridão.

Conto novamente.

Inspiro.

Expiro.

De novo e de novo.

Huru dorme quieto na ponta do colchão e mesmo adormecido consegue me tirar um sorriso naquele momento.

Ah...

Não quero acordá-la, porque sou tão dependente dela que isso me assusta. Não quero correr para seus braços para sempre, mesmo que seja o melhor lugar em todo mundo, tenho medo de acordar um dia e ela também ser um sonho, não sei o que faria sem ela, porém tenho que descobrir como.

O centro da cidade é agitado, mesmo a essa hora da noite. Não uma agitação caótica, mas uma movimentação quase organizada.

A neve fina está começando a cair e procuro focar apenas nos pequenos flocos ao invés dos meus pensamentos que não se aquietavam assim como as pessoas no centro da cidade.

— Não consegue dormir?

Sua voz fez meu mundo se desligar por um minuto, não respondo até que sinto seus braços passarem pela minha cintura e me abraçar. Assinto a sua pergunta e a ouço suspirar, como em todas as vezes que ela foi minha única companhia nas noites de insônia.

Seus braços se apertam ao meu redor e agora consigo sentir seu coração batendo em um ritmo que adorava marcar as batidas.

Ela nada diz, apenas me vira para a encarar e desviar o olhar da rua. Logo encontro seus olhos no quarto, iluminado apenas pela meia luz que vem do lado de fora, e toda aquela baboseira sobre destino faz sentido por um mísero momento.

Se o destino realmente brincasse com nossas vidas da forma que dizem por aí eu não teria dúvidas de que ela é o meu destino, não importa o quanto eu tente me afastar, sempre volto para ela como um imã.

Suas mãos acariciam meu rosto e meu cabelo, me prendendo à ela de uma maneira que só ela consegue. Em um instante estou vidrado, hipnotizado e tudo o que me transtornava simplesmente deixa de existir. Seus olhos me estudam, flutuam através do quarto até encontrar os meus próprios, não pisco nem por um segundo, não ousaria perder aquela bela imagem.

O ar fica frio e de maneira calma ela me puxa até a cama, em uma súplica silenciosa que já foi feita inúmeras vezes.

Esqueça de tudo, meu amor, apenas durma nesta noite.

— Estou aqui com você.

Sua voz soa tão doce, tão calma, que é quase como música.

04:00

Pego o celular apenas para ver as horas e tão rápido quanto o peguei, me desfaço dele, porque nós dois aqui e agora é tudo o que importa.

Deito ao seu lado, guardando cada mísero detalhe para a ver em meus sonhos. Nos cubro para fugir do frio e sua mão volta para o meu rosto, acariciando minha bochecha para depois chegar até ao olhos e os cobrir, me fazendo perder aquela doce visão.

Sua mão se afasta, mas não abro os olhos novamente. Procuro me concentrar nela, na mão que segura a minha e não solta mesmo quando ela cai no sono, na respiração calma que me lembra que ela está ali e por isso posso senti-la.

Antes que eu perceba volto a dormir.

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Música do capítulo: Champaign - Zuho

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