AS ARABELLA

Capítulo 4

''Dearly beloved, we are gathered here today to get through this thing called life.'' – Prince.

Arabella

Depois do meu aniversário e uma noite com meus amigos eu não tinha certeza se estava pronta para voltar a realidade. Trabalho, livros que eu já não conseguia me concentrar da mesma maneira que antes e problemas da vida adulta que eu odiava, como ir ao médico.

Eu havia feito um exame de sangue dias atrás e agora estava adentrando o escritório da primeira médica que achei com horário disponível para aquela tarde e que estivesse habilitada a identificar os resultados do meu exame.

A médica me cumprimentou assim que adentrei sua sala após ela chamar pelo meu nome. Ela sorriu e eu a entreguei meu exame sem dizer muito a respeito do que realmente queria ouvir indo até ali. Eu apenas esperava que ela não tivesse notado meu nervosismo ao apertar sua mão e falar algumas poucas palavras com ela.

- Bem, vamos ver o que temos aqui – ela disse abrindo o envelope analisando o papel a sua frente.

Apenas assenti em silencio esperando o que já desconfiava a um tempo.

- Aparentemente está tudo bem, mas...

Ela olhou mais fixamente para o papel que segurava em mãos e então voltou seus olhos a mim por poucos segundos até olhar para o exame mais uma vez.

- Você está gravida! – disse ela e meu coração pareceu palpitar por alguns segundos – Você já sabia disso?

- Desconfiava – engoli em seco.

- Ótimo. Parabéns. Um filho é algo tão especial, eu tenho dois aliás – ela sorriu gentilmente.

- Uhn, desculpe, mas de quantas semanas eu estou?

- Oh, bem pelo que vejo algumas poucas semanas, não chegou a completar um mês ainda.

De repente a voz dela parecia tão distante de onde eu estava.

- Você tem sentindo algum enjoo ou mal-estar ultimamente? – perguntou.

- Não – balancei a cabeça.

- Ótimo, então vou prescrever uma vitamina por precaução e alguns remédios que podem ajudar caso você venha a ter algo do tipo por enquanto – ela pegou um dos seus blocos de notas – Eu sou apenas clínica geral então eu sugiro que você marque um ginecologista obstetra o quanto antes. Tenho alguns para indicar caso você não tenha nenhum em mente.

- Claro, eu gostaria.

- Ok – ela sorriu me entregando alguns papeis e notei que seus olhos se voltaram para a minha mão assim que me levantei – Tenha um bom dia e não se preocupe tudo vai dar certo.

Assenti com um aceno e ao fechar a porta atrás de mim respirei pela primeira vez de verdade desde que havia adentrado aquele hospital e uma dezena de pensamentos e sentimentos pareciam querer me consumir naquele exato momento.

Eu não estava surpresa, eu já esperava por aquilo e só estava tentando me enganar durante todos aqueles dias. Minha menstruação nunca havia atrasado daquela maneira, eu não tomava pílulas e por mais que tivesse me prevenido de outras maneiras, aconteceu. Por uma fração de segundos. Agora eu estava prestes a gerar uma vida dentro mim, uma pequena parte de mim e Scott.

Respirei fundo me controlando para não desabar.

Não fazia a mínima ideia de como agir diante aquela situação.

Um bebê era demais para mim, mas de alguma maneira estranha eu não me sentia triste ou com raiva. Na verdade, eu não sabia o que sentir.

Quando percebi que estava atrasada, pensei em dizer a ele, mas ele tinha acabado de chegar de viagem no dia do meu aniversário e eu só conseguia pensar em seus olhos e sua boca sorrindo para mim enquanto ele me arrastava para o meu quarto e dizia que tinha sentido minha falta. E então o mundo pareceu desabar em meio aos meus pés quando vi aquela maldita revista me comprovando que ele era realmente muito bom com as palavras.

De qualquer maneira Scott nunca quis ter uma família, ele mesmo havia me dito mesmo que indiretamente em meio a nossas conversas. Eu seria estúpida em pensar que aquilo mudaria.

Caminhei em meio ao corredor e avistei Travis ao longe em seu jaleco branco e óculos de grau que eu nunca o tinha o visto usar de verdade. Ele acenou para mim com um sorriso parecendo surpreso, mas inteiramente contente, eu apenas acenei e sai o mais depressa dali antes que ele chegasse até mim. Não queria conversar ou falar com ninguém naquele momento.

Só queria um tempo sozinha comigo mesma para tentar colocar meus pensamentos em ordem e decidir o que faria dali para frente. Enviei uma mensagem para minha chefe, não estava no clima de voltar ao prédio da revista e trabalharia de casa.