Prefácio

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VERNUM

No século XVIII, existia uma ilha pouco conhecida na Europa, um lugar onde os renegados eram esquecidos. Era um local usado para isolar da sociedade pessoas consideradas desvirtuadas, aguardando seu destino final.

Lá, presidiários, deficientes intelectuais, bruxas, indivíduos perseguidos por expressar ideias contrárias as do governo e da igreja dominante, entre outros, eram levados para cumprir penas em masmorras ou para serem executados.

Uma localidade amaldiçoada desde sua descoberta, sem condições de moradia ou sequer vivência digna. Até mesmo os agentes de segurança, que eram obrigados a trabalhar pelas redondezas, não suportavam por muito tempo; muitos adoeciam, outros realmente morriam. Poucos tinham coragem de comentar o que viam.

Durante o século XIX, um grupo de presidiários tramou uma fuga da ilha. O plano foi executado em 1º de maio de 1856. O que deveria ser apenas mais um dia de execução se transformou em um símbolo de liberdade para aqueles que estavam aprisionados em condições desumanas. Cinco homens e duas mulheres renderam e queimaram dois soldados, tornando o fogo aliado daqueles que por muito tempo haviam permanecido na clandestinidade.

Na tentativa inútil de abafar a guerra que estava acontecendo próximo às metrópoles e o risco iminente de afetar países importantes do continente Europeu, um acordo foi estabelecido entre chefes de Estado, líderes de segurança e uma mulher chamada Bean Desmond.

Contanto que não deixassem a ilha, vidas seriam poupadas.

A prisão logo se tornou uma vila, e aos poucos se construíam casas. O trabalho em grupo cresceu, e a terra começou a dar frutos. Famílias se formaram, e a liberdade entre os indivíduos tornava o local ainda mais curioso do que já era.

Uma ilha com uma forte história não poderia ter um nome decadente: Vernum recebeu esse nome após as chuvas recorrentes terem apagado todas as chamas de liberdade e salvado os poucos indivíduos que continuaram presos nas masmorras. O clima chuvoso favorecia a terra e quem começou a habitar ali.

A liderança da ilha estava nas mãos de Bean Desmond, uma mulher que havia sido presa e acusada de bruxaria, contudo sua visão fora crucial para acabar com todo o sofrimento e punição que ali acontecia. Tradicionalmente, os crimes hediondos continuavam a ser punidos, com penas que causavam espanto até para aqueles que ousavam furtar de hortas alheias. Uma nova sociedade precisava de ordem; uma terra sem lei logo voltaria para uma terra sem nome.

Após a morte de Bean por uma infecção generalizada, em 15 de julho de 1880, seus descendentes assumiram a liderança da ilha. Não tão eficientes quanto sua predecessora, eles se esforçavam para lembrar e aplicar seus ensinamentos, mantendo Vernum na mesma trajetória que ela havia seguido por anos.

Entre 1914 e 1915, iniciou-se a construção da primeira igreja católica na localidade. Os descendentes do antigo povo da ilha eram os novos moradores e a história que aquela terra carregava, por vezes, atraía alguns estrangeiros curiosos. Vernum se desenvolvia aos poucos e, com esse crescimento, os crimes aumentavam.

O misticismo crescia juntamente com as crianças. Lendas, fábulas e diversas cantigas eram disseminadas entre jovens e adultos. Nos acampamentos, em meio as florestas, eram comuns histórias fantasmagóricas de homens enforcados durante o período obscuro de Vernum, que, mesmo causando calafrios, ninguém tinha receio de contar.

Em 1940, a popularidade de outra família crescia com um discurso prometendo melhorias ao vilarejo. A responsabilidade das belas palavras e o poder de cativar a população estavam nas mãos de Kennedy Madsdatter.

Diferentemente dos Desmond, os Madsdatter eram conservadores, aristocratas e um exemplo perfeito para os habitantes da região. Eram tão idolatrados que nem mesmo seus segredos eram passíveis de serem descobertos. A sensação de confiança transmitida ao povo levou os Desmond a perderem sua liderança para os Madsdatter.

Além da vergonha de terem sido destituídos do poder, os Desmond foram expulsos de suas terras. Segundo o novo governante, a Rua George Desmond (agora conhecida como Rua Mahon Madsdatter) estava amaldiçoada pelas práticas de bruxaria que persistiam após a morte de Bean.

Uma rivalidade cresceu entre ambas as famílias, mas ninguém conseguia dizer com exatidão o que havia acontecido, exceto os próprios membros, que também não comentavam sobre o ocorrido.

Quarenta anos após a ascensão de Kennedy e sua família, tudo estava caminhando bem, até iniciarem-se episódios macabros envolvendo mortes sem motivo aparente na mansão dos Madsdatter. Mortes naturais ou acidentais, com intervalos de tempos inicialmente de um ano, tornando-se de seis em seis meses e então sem mais períodos definidos.

Existia uma teoria de que as mortes iniciaram após uma mulher chamada Caelestis Desmond amaldiçoar todos os membros da família. Com o falecimento da bruxa, acreditava-se ainda que uma chave feita das cinzas de seus ossos poderia ser proteção contra a própria maldição.

O desespero começou a desestabilizar não somente a família, mas a cidade inteira. E nesse momento crucial, os Madsdatter renunciaram o poder para os Connell. Com essa aliança, a família mais importante de Vernum saiu de cena para se manter neutra, enquanto a polícia local investigava os possíveis crimes.

Desde então, suposições são jogadas ao vento. Há quem diga ser apenas autoria do destino, alguns acham que o fim está próximo e outros realmente acreditam na maldição de Caelestis. Mas ninguém realmente sabe qual o verdadeiro motivo que levou a ruína da família de Kennedy Madsdatter.

A Chave da Esperança (Em processo de revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora