25 - O nascimento da esperança

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A estrada que eu caminho
Tem o seu cheiro
Eu conecto meu fone de ouvido ao meu celular
Meus verdadeiros sentimentos estão além de lá
Querida, por que você está tão longe?
Não consigo me acostumar com você não estando aqui
Eu sinto como se algo faltasse
Eu só quero estar junto com você para sempre

- FOR YOU
BTS

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É estranho pensar que a menos de dois dias atrás eu via minha família como pessoas distantes, da qual eu sentia saudade, e agora eu estou junto com eles em um hospital, porque minha mãe está prestes a dar à luz para seu terceiro filho ou filha, e o auge de tudo, é que isso só foi possível porque eu falei deles para o psicólogo, e ele e a Sook me encorajaram a vim visita-los, caso contrário, provavelmente eu nem estaria sabendo de nada disso.
Quando chegamos no hospital, minha mãe já foi encaminhada para o centro cirúrgico, porém três horas já se passaram e não tivemos mais nenhuma notícia. Todos nós estamos apreensivos com isso, pois minha mãe já tem certa idade, então de alguma forma se torna uma gravidez complicada. Mas de todos nós, quem mais me surpreendeu foi meu pai. O velho rabugento - vocês acham que eu peguei essa personalidade de quem? - estava mais preocupado e ansioso do que todos, e eu tive a impressão que havia caído uma lágrima de seus olhos assim que fomos as pressas contar pra ele que minha mãe ia dar à luz. Ele também foi o primeiro a ligar para todo o resto da família para contar a notícia, com um sorriso enorme estampado no rosto. Ao observar tamanha alegria no rosto do meu pai - coisa que não vejo há muito, muito tempo - senti vontade de ir até ele para parabeniza-lo e quem sabe até abraça-lo, mas não me senti à vontade para tal. Tudo que consegui fazer ao observa-lo foi pensar "será que quando eu estava prestes a nascer ele também ficou feliz assim?".

— O que vocês acham? Menino ou menina? — Yura quebra o silêncio na sala de espera.

— Menina. Quero uma irmãzinha. — Sunji diz, enquanto rói as unhas. Ela tem essa mania quando está ansiosa e nervosa.

— Também acho que seja menina. E você, Agust D?

— Eu não parei para pensar nisso. — olho para Sook, que estava em pé em um canto.

— E você, Sook? — Yura pergunta quando percebe que eu olhei para a mesma.

— Ahn? O que tem eu? — ela parece despertar para a realidade. — Desculpa, não estava prestando atenção.

— Deixa quieto. — Yura revira os olhos.

— É menino. Eu tenho certeza. — meu pai diz com convicção e encerra o assunto.

Não consigo explicar, mas isso foi um gatilho para minha paranoia me atormentar: comecei a imaginar que meu pai deseja que seja um menino, porque ele não me considera mais como seu filho. Ele quer um menino que me substitua e que seja um filho que eu nunca fui capaz de ser.
Não consigo segurar o choro, então me levanto bruscamente e com os olhos embaçados por conta das lágrimas, procuro o banheiro masculino mais próximo. Assim que acho, entro em uma cabine e me permito chorar alto, como um bebê. Meu peito dói e queima, e eu me sinto um inútil por estar chorando numa situação aonde eu deveria apenas orar e sorrir, mas não consigo evitar.
A falta de ter um pai presente na minha vida é algo que sempre vai ter uma influência grande sobre quem eu sou. Faz falta ter uma figura paterna para conversar, me divertir, me espelhar. Quantas vezes eu desejei sair com meu pai, mas não conseguia ter coragem de falar para ele? Quantas vezes desejei conversar, pedir conselhos, mas não sabia como fazer isso?
Eu adoraria que minha convivência com meu pai fosse melhor, eu daria tudo para que tivesse sido diferente. Olhando para meu passado, talvez eu tenha mesmo errado como filho. Eu deveria ter sido menos problemático, mais obediente e principalmente mais presente. Quem sabe assim, meu pai não iria desejar que fosse outro menino. Ele estaria satisfeito comigo.
Posso estar sendo muito infantil por pensar nisso. Talvez meu pai só queira outro menino sem ter um motivo significante para tal, e eu estou complicando tudo, como sempre. Talvez seja apenas um ciúme bobo de um idiota carente chamado Min Yoongi. Mas, por mais estúpido que seja pensar nisso, me faz continuar chorando por no mínimo dez minutos, até eu me sentir mais aliviado e menos mal.
Lavo meu rosto na cabine e encaro um marmanjo que seca sua mão e me encara como se dissesse "Seja homem e pare de chorar igual uma marica", ou talvez o cara só esteja preocupado comigo, não sei, minha mente paranoica nunca vai saber de fato.
Sai do banheiro e fui andando pelo hospital, procurando pelo local onde estávamos antes, quando de repente vejo Yura vindo em minha direção.

So Far Away - Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora