32 - Não me esconda a verdade

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 *Aviso de gatilho: automutilação. Caso se sinta desconfortável, pule alguns parágrafos*

Pode confiar em mim?

Por favor, por favor, por favor me segure forte, me abrace

Seu rosto frio me diz tudo melhor do que as palavras

Posso ver uma separação que se levanta sobre mim como uma maré alta

Já sei que em breve será a última vez, mas não posso deixar você ir

- Hold me Tight BTS

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Entro no meu dormitório já pensando na minha cama, mas antes que eu pudesse tirar meus sapatos eu percebo algo diferente. No chão estão gotas de sangue que começam do quarto e fazem um trajeto até o banheiro, cômodo esse que se encontra com a luz acessa. Escuto um som de água vindo de lá e engulo em seco, com medo do que eu posso ver ao entrar.

Respiro fundo e sigo as gotas que me levam até o banheiro. Chegando ao cômodo, encontro KiHyun lavando os próprios braços na pia, enquanto o sangue que se escorre do mesmo vai direto para o ralo. Me espanto com a cena e minha garganta fica seca. Não gosto de ver sangue.

— O que aconteceu? — KiHyun estava tão atordoado que nem percebeu que eu estava no mesmo cômodo que ele, então dá um pulo de susto ao ouvir minha voz. Percebo que ele está tremendo e ao invés de me responder ele continua tentando fazer o sangue parar de escorrer ao lavar o braço com água. — Me responde! O que é tudo isso?

Quando o vermelho misturado á água finalmente parece cessar ele desliga a torneira. Olho para seus braços e vejo que há cerca de oito ou nove cortes em cada um, feitos na horizontal. KiHyun pega um pedaço de papel higiênico e começa a limpar as gotas de sangue no chão, enquanto eu continuo perplexo.

— Estamos sozinhos? — ele pergunta com uma voz baixa, demonstrando estar envergonhado.

— Sim, estamos! O que foi isso? Por que se cortou dessa maneira? — sinto meu coração bater aceleradamente, pois nunca vi algo do tipo acontecer até agora. KiHyun joga o papel no lixo quando termina de limpar e se senta em sua cama. Ele ainda treme um pouco.

— Não me corto a ponto de abrir uma ferida, embora sinta vontade, mas corto o suficiente para criar uma inflamação e doer. — ele abaixa a própria cabeça e esconde os braços atrás de seu corpo. Não costumo vê-lo com regatas ou blusas de manga curta, e agora entendo o motivo. — Acho que hoje eu fui mais fundo com o corte, então me desesperei um pouco. Mas estou bem, juro.

— Você não parece bem. — me sento ao seu lado e me calo, querendo ouvi-lo.

— Mutilar-me ajuda quando estou em momentos de crise e com pensamento descontrolados. Sempre que me pego nessa espiral, passo a o dedo sobre o machucado e toda a minha atenção é voltada pra dor física. É uma forma de tirar um pouco a dor interna, porque quando sinto a dor dos cortes eu esqueço por um pequeno período de tempo a dor de dentro. Também é uma forma de descontar toda a raiva e tristeza acumulada que não consigo expressar... — ele suspira e eu tomo liberdade para abraça-lo. Nunca tivemos esse contato próximo, pois para eu ser carinhoso alguém deve dar o primeiro passo, mas com KiHyun parece funcionar da mesma forma. Ele, por sua vez, retribui o abraço e descansa a cabeça em meu ombro assim que nos separamos, e então eu desvendo coisas que até então não havia percebido sobre ele.

So Far Away - Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora