Capítulo 3

534 47 12
                                    

Minha mochila!

Está com meu dinheiro e meu relógio dentro! O banco de trás da besta que Matthew Royal chama de carro é mais luxuoso do que qualquer coisa em que minha bunda já tenha encostado na vida. Pena que não vou ter tempo de apreciar. Mergulho em direção à maçaneta da porta e puxo, mas a porcaria não abre.

Viro o olhar para o motorista. É um gesto absurdamente descuidado, mas não tenho escolha: pulo e seguro o ombro dele, cujo pescoço é da grossura da minha coxa.

— Dê meia-volta! Preciso voltar!

Ele nem pisca. Parece feito de tijolos. Puxo mais algumas vezes, mas tenho certeza de que, a não ser que eu enfie uma faca no pescoço do sujeito (e talvez nem assim), ele não vai fazer nada que Royal não mande.

Matthew não se moveu nem um centímetro no lado do passageiro do banco detrás, e me conformo com o fato de que não vou sair do carro enquanto ele não permitir. Testo a janela só para ter certeza. Continua irritantemente fechada.

— Tranca de segurança para crianças? — eu murmuro, apesar de saber a resposta.

Ele assente de leve.

— Dentre outras coisas, mas basta dizer que você vai ficar no carro durante toda a viagem. Está procurando por isto?

Minha mochila cai no meu colo. Resisto à vontade de abri-la e verificar se ele pegou meu dinheiro e meus documentos. Sem essas duas coisas, estou completamente à mercê dele, mas não quero revelar nada enquanto não entender qual é a dele.

— Olha, moço, não sei o que você quer, mas está na cara que você tem dinheiro. Tem muitas prostitutas aqui que farão o que você quiser e não vão causar o problema com a lei que eu poderia causar. Só me deixe no próximo cruzamento, e prometo que você nunca mais vai ouvir falar de mim. Eu não vou procurar a polícia.Vou dizer para George que você era um cliente antigo, mas que acertamos nossas questões.

— Eu não estou procurando prostituta. Vim atrás de você. — Depois dessa declaração ameaçadora, Royal tira o paletó e oferece para mim.

Parte de mim deseja que eu fosse mais ousada, mas ficar sentada aqui nesse carro elegante na frente do homem para quem dancei está me deixando constrangida e com a sensação de estar exposta. Eu daria qualquer coisa por uma calcinha de vó agora. Com relutância, coloco o paletó, ignoro a dor desconfortável que o corpete provoca em mim e seguro as lapelas com força contra o peito.

— Eu não tenho nada que você queira. — Claro que a pequena quantia em dinheiro enfiada no fundo da minha bolsa é migalha para esse cara. Dava para trocar este carro por todo o Daddy G's.

Royal ergue uma sobrancelha em uma réplica muda. Agora que ele está só de camisa, consigo ver o relógio dele, e é... idêntico ao meu. Os olhos dele seguem os meus.

— Você já viu isso antes. — Não é uma pergunta. Ele estica o pulso na minha direção. O relógio tem tiras pretas de couro simples, botões de prata e moldura de ouro 18 quilates em torno do vidro do mostrador. Os números e ponteiros brilham no escuro.

Com a boca seca, eu minto.

— Nunca vi na vida.

— É mesmo? É um relógio Oris. Suíço, feito à mão. Foi presente quando me formei na BUD/S. Meu melhor amigo, Steve O'Halloran, ganhou um relógio idêntico quando também se formou na BUD/S. Atrás, está gravado...

Non sibi sed patriae.

Eu pesquisei a frase quando tinha nove anos, depois que minha mãe me contou a história do meu nascimento. Desculpe, filha, mas dormi com um marinheiro. Ele não me deixou nada além do primeiro nome e deste relógio. E eu, lembrei a ela. Ela bagunçou meu cabelo de forma brincalhona e me disse que eu era o melhor de tudo. Meu coração dói por sua ausência.

𝑷𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂 𝒅𝒆 𝑷𝒂𝒑𝒆𝒍Onde histórias criam vida. Descubra agora