Capítulo 2

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O Daddy G's é um buraco, mas é bem melhor do que muitas outras boates da cidade. Ok, isso é a mesma coisa que dizer: "Dê uma mordida neste frango podre. Não está tão verde e mofado como os outros". Ainda assim, dinheiro é dinheiro.

A aparição de Matthew Royal na escola me corroeu o dia todo. Se eu tivesse um laptop e conexão de internet, teria procurado o sujeito no Google, mas meu computador velho está quebrado e ainda não tive dinheiro para comprar outro. E também não quis ir até a biblioteca para usar o de lá. É idiotice, mas fiquei com medo de sair do apartamento e Royal me emboscar na rua.

Quem é ele? E por que acha que é meu tutor? Mamãe nunca mencionou seu nome. Por um momento hoje cedo pensei que podia ser meu pai, mas os papéis diziam que ele também morreu. E, a não ser que minha mãe tenha mentido para mim, o nome do meu pai não era Matthew. Era Steve.

Steve. Sempre achei com cara de nome inventado. Como quando a criança diz:"Me conte sobre o papai, mamãe!", e você fica na dúvida e diz o primeiro nome que vem à mente. "Ah, o nome dele era, ahn, Steve, querida."

Mas odeio pensar que mamãe mentiu. Nós sempre fomos sinceras uma com a outra.

Afasto Matthew Royal da mente porque hoje é minha estreia no Daddy G's e não posso deixar um estranho qualquer de meia-idade com um terno de mil dólares me distrair. Já tem homens de meia-idade suficientes nessa joça para ocupar meus pensamentos.

A boate está lotada. Acho que a noite das estudantes católicas é uma grande atração no Daddy G's. As mesas e cabines do salão principal estão todas ocupadas, mas o andar superior onde fica o lounge VIP está vazio. Isso não é surpresa. Não tem muitos VIPs em Kirkwood, essa cidadezinha do Tennessee perto de Knoxville. É uma cidade operária, em que a maioria da população é de classe baixa. Quem ganha mais de quarenta mil dólares por ano é considerado podre de rico. Foi por isso que a escolhi. O aluguel é barato e o sistema de educação pública é decente.

O camarim fica nos fundos, e está cheio de vida quando entro. Mulheres seminuas olham quando passo pela porta. Algumas acenam, duas sorriem, mas voltam a atenção para as cintas-ligas ou para a maquiagem que estão passando em frente a penteadeiras.

Só uma se aproxima de mim.

— Cinderela? — pergunta ela.

Faço que sim. É o pseudônimo que uso no Miss Candy's. Pareceu adequado na época.

— Eu sou a Haley. George me pediu para te explicar como as coisas vão funcionar hoje.

Sempre tem uma mãezona em todos os clubes de strip, uma mulher mais velha que percebe que está perdendo a luta contra a gravidade e decide ser útil de outras formas. No Miss Candy's foi Tina, a loura platinada envelhecida que me acolheu debaixo das asas desde que cheguei. Aqui, é Haley, a ruiva envelhecida que cacareja em cima de mim enquanto me guia até a arara de metal com as fantasias.

Quando estico a mão para o uniforme de colegial, ela me impede.

— Não, isso é pra mais tarde. Coloque este.

Quando me dou conta, ela está me ajudando a vestir um corpete preto com fitas entrelaçadas e uma tanga preta de renda.

— Eu vou dançar usando isso? — Mal consigo respirar com o corpete, e menos ainda levar a mão à frente do corpo para desamarrar.

— Não se preocupe. — Ela ri quando repara na minha respiração entrecortada.

— Só balance a bundinha e gire no pole do Riquinho e vai ficar tudo ótimo.

Olho para ela sem entender.

— Pensei que eu fosse subir no palco.

— George não falou? Você vai fazer uma dança particular no lounge VIP agora.

𝑷𝒓𝒊𝒏𝒄𝒆𝒔𝒂 𝒅𝒆 𝑷𝒂𝒑𝒆𝒍Onde histórias criam vida. Descubra agora