Olá, 2019.
Me dói dizer que você não foi bom comigo ou eu com você, por muito tempo coloquei toda culpa em cima desses 365 dias, que eu não via hora de acabarem.
Eu já sentia desde o final do outro ano que esse ano ia ser no mínimo estranho, que eu teria que lutar, seja pelos meus ideais, seja pelos outros. Por isso, me surpreendo muito ao ver no texto de 2018 que eu me desejei FORÇA.
Força foi tudo que eu precisei esse ano.
Força pra encarar barbaridades de um governo horrendo.
Força para ter que passar vários dias acompanhando minha avó no hospital.
Força pra fingir que tava tudo bem quando na verdade não tava, porque eu não queria que ela se sentisse pior do que já estava.
Eu pus uma máscara, sorri, fiz ela sorrir, deixei que a escuridão cobrisse meu rosto para que ela não me visse chorar. Angústia, preocupação, estresse. Eles começaram e em janeiro e se perpetuaram até o fim do ano.
Então ela voltou pra casa, teoricamente bem.
Não bastou uma semana para eu perceber que quem não estava bem na verdade era eu.
Foi difícil pra mim me reconhecer com sintomas que os meus professores falavam tanto, de uma hora para outra a Bia que sempre habitou em mim sumiu e o espaço foi preenchido por outro alguém... porque aquela nem de longe era eu.
Choro constante, hipersonia, anedonia, falta de energia, isolamento e o pior: vazio.
Como é possível alguém não sentir nada?
Duas mãos haviam se instalado no meu peito e pareciam querer rasga-lo a todo custo.
Essa fase me trouxe uma das maiores lições desse ano: Pedir ajuda não te faz fraco, às vezes chegamos a situações extremas porque passamos muito tempo sendo fortes.
Aquele foi meu limite. A famosa gota d'água.
Depressão.
Nome comum na psicologia, mas como aluna não via a possibilidade de entender na prática do que se tratava. Ao menos agora, se posso tirar outras lições dessa época, terei mais empatia ao me deparar com pessoas que também tem esse transtorno de humor.
E demorou... demorou muito para eu voltar a me sentir bem de novo. Não foi um processo fácil, nem de longe. Foram muitas sessões de terapia, muitos pensamentos relocados, muitos traumas e memórias trabalhadas. E ainda tem tanto...será que um dia deixarmos de ter?
No segundo semestre eu me reencontrei novamente, mas não a mesma Bia, uma Bia melhor.
Eu me sentia tão preenchida de mim mesma, parecia que nada mais importava porque eu finalmente havia encontrado a mim. Eu aprendi a separar a pessoa que verdadeiramente sou da pessoa que as pessoas me fizeram acreditar que eu era.
Eles me fizeram acreditar por quase vinte anos que eu fraca, desastrada, tinha cabelo feio, nariz feio, que era gorda, alta demais, pé grande demais para uma garota, lábios grossos demais. Me fizeram acreditar que não valia a pena aprender letras de músicas em inglês se eu não soubesse o conteúdo do colégio. Que não adiantava ter notas boas em outras matérias, a não ser que também tivesse em matemática, física e química. Me fizeram acreditar que eu não conseguia me relacionar com os outros por ser tímida demais. Que nenhum garoto ia olhar pra mim com desejo porque eu não era tudo isso. Que eu não sabia fazer nada.
E eu acreditei, acredito por muito tempo. Mas não mais, não mais...
Mesmo com tudo eu terminei o curso de inglês e CHOREI TANTO ao receber meu diploma, porque aquilo era um sonho desde a minha infância, a prova concreta que eu consegui. Eu era capaz. E por anos eu ensaiei o exato momento em que eu chegasse em casa com o diploma em mãos, iria coloca-lo de frente aos seus olhos e dizer "diz que eu vou 'quebrar' a língua agora!".
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Textos antes não lidos
PoesíaTextos sobre amores, amizades, reflexões e desabafos pessoais. Da alma para o papel, simples assim. Todos de minha autoria. PLÁGIO É CRIME! 22/12/17: #683 em poesia 24/12/17: #480 em poesia 26/12/17: #389 em poesia 27/122/17: #263 em poesia 01/01...