O Início do treinamento

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SOPHIA

Eu corria por uma floresta fugindo de algo. Não conseguia ver quem ou o que era, mas era perigoso. Corri pelo meio de árvores tão altas que eu nem conseguia ver suas copas direito. Ou meus olhos estavam com lágrimas e tudo estava embaçado. Minha barriga começou a doer de tanto que eu corria e minha cabeça não parava de latejar.

“Sophia... Sophia...” Eu ouvia esses murmúrios e continuava a correr sem destino. Tropecei em algo, mas me levantei e continuei correndo. Percebi que minha mão estava sangrando e cortei um pedaço de minha camiseta para enfaixá-la. A “coisa” me perseguia e parecia estar me alcançando. Senti um aperto no coração e estava arfando. Parei por um instante numa árvore, mas logo voltei a correr.

Senti do nada uma pancada forte na cabeça e caí no chão ouvindo “Isso é só o começo de minha vingança”.

**

Acordei com Apolo na minha cara. Não, não literalmente. Era só o sol. Tentei olhar para os lados, mas minha visão estava turva e eu não consegui distinguir onde estava. Os fechei de novo e tentei lembrar alguma coisa. Mas a única coisa que me vinha à mente era uma sensação de tontura e dor.

Tentei me levantar, mas assim que fiz isso minha cabeça doeu muito e eu caí de volta na maca. Isso, eu estava numa maca. Provavelmente eu teria visto a forma divina de Zeus e estou sendo cuidada no Mundo Inferior pra depois ser julgada. Eu realmente não dou sorte. Tudo isso por que sou filha de Hera?

– Ela já está acordando. – Ouço uma voz meio familiar – Acho que ela deu sorte como eu.

Sinto alguém colocar um copo na minha boca e um líquido com o mesmo gosto da outra vez. Brownies recém-assados da Sra. Baynes. Senti-me melhor instantaneamente e consegui abrir meus olhos. Vi Jason olhando pra mim com um sorriso no rosto e um homem que não conseguia ver direito, pois ele estava muito longe.

– Ora, ora... – Disse o homem vindo em nossa direção – Vejo que Zeus e Hera estão brincando com os filhos um do outro.

– Nico... Isso foi só uma coincidência.

– Uma coincidência peculiar Jason. – O homem se virou para mim e eu pude ver seu rosto melhor. Ele tinha cabelos negros meio desgrenhados e olhos encantadores. Deveria ter seus vinte e três anos e tinha um ar misterioso – Então filha de Hera, está melhor?

Eu não sabia o que responder. Por algum motivo, algo naqueles olhos cheios de segredos me atraia. O que estou pensando? Eu não gosto do David? E esse cara não é meio velho para mim? Tudo bem que ele está em forma, parecendo com quinze anos, mas... Não! Chega Sophia! Foco.

– Acho que sim. – murmurei me encolhendo um pouco.

– Está assustando a garota, Di Angelo.

– Cala a boca, Grace.

Eles pareciam velhos amigos se reencontrando depois de muito tempo. Fiquei ali encarando Nico (se esse realmente for o seu nome), mas ele se despediu e disse que tinha uns assuntos a tratar com Quíron. Só Jason ficou me fazendo companhia.

– A cabeça dói assim mesmo? – Perguntei colocando a mão na testa e fechando os olhos pra ver se espantava a dor.

– Sim. – Ele disse sorrindo – Mas você teve a sorte de não ver toda a forma divina dele, só um pedaço. Sua dor não é tão grande.

– Fala isso pros meus neurônios. – Suspirei – Quando vamos começar a treinar?

– Se recupere primeiro. – Ele se levantou e foi embora. Nesses momentos que a solidão me vem. Hera... Por quê? Por que traiu Zeus? Por que cometeu esse erro? Por que eu nasci?

(...)

– Ahn, essa espada não faz o meu tipo. – Disse tentando levantar uma espada dourada esculpida com o desenho de pessoas.

– Essa e as outras quinze que você experimentou. – Suspirou Jason – Acho que devemos escolher algo melhor. Dê uma olhada pelo arsenal. Se achar algo que goste, pode ir à área de treinamento. Eu estarei lá te esperando.

Assenti e o observei ir embora. Agora eu tinha outra tarefa. Encontrar a arma perfeita. Eu realmente não sábia usar um arco e flecha. Ou quem sabe uma lança? Eu não tinha a mínima vocação para luta ou sequer machucar alguém (Tudo bem que eu machuco os meninos no orfanato de vez em quando, mas... Não é a mesma coisa).

Comecei a andar pelas mesas e caixotes em busca de alguma coisa que me chamasse atenção. Percorri minhas mãos sobre uma mesa e comecei a olhar as lanças. Mas cada uma que eu pegava, eu segurava sem jeito. Elas eram grandes demais para mim. Suspirei e comecei a andar em direção à porta, pronta pra desistir de procurar, quando tropeço numa caixa e caio no chão.

Fiquei por lá mesmo olhando para o teto. Eu não havia notado antes, mas havia muitas espadas e adagas penduradas, todas apontando pro meio. Lá havia um martelo envolto em chamas... O símbolo de Hefesto. Passei os olhos pelas adagas e vi uma dourada, meio empoeirada que não estava virada do lado certo. Peguei uma pequena escadinha e subi para apanhar a arma. Assim que a peguei, vi o desenho que dois pavões virados pra uma flor de lótus esculpida no meio da bainha. Manejei-a e me senti leve, como se ela fizesse parte do meu corpo. Eu havia encontrado a arma perfeita.

– Obrigada Hefesto... – murmurei saindo do arsenal. Hora do treino.

                                                  *****

– Avance mais rápido! – disse Jason me ajudando a levantar. Eu havia perdido pela milésima vez. – Sinta os meus movimentos. Preveja o que eu vou fazer.

– Mas como eu faço isso?

– Sinta.

– Como se isso ajudasse! – Posicionei-me de novo e fechei os olhos. Respira. Inspira. Respira. Jason me atacou direto e eu desviei pro lado. Mas ele “previu” meu movimento e investiu em minha direção tão rapidamente que eu mal tive tempo de me desviar. Mexi com a adaga sem saber o que estava fazendo e me defendi.

– E-eu... – Mas ele atacou de novo e eu caí. – EI! EU FINALMENTE TINHA CONSEGUIDO!

– Nunca baixe sua guarda. – Ele disse rindo.

O herdeiro de HeraOnde histórias criam vida. Descubra agora