O silencioso mundo de Sammy Bloodstern

Quase um dia comum

O mundo não é o mesmo há muito tempo. Na verdade, não mudou nada desde meu nascimento até aqui, e já era assim antes disso.

Acredito que a rotina mundial tenha se fixado ao perigo muito antes de eu pensar em existir... Então, eu basicamente cresci nisso tudo; onde pessoas saem para qualquer lugar com canivetes e spray de pimenta na bolsa, armados na maioria das vezes, e onde as crianças já não podem mais chegar no portão de casa, papai me contou que antigamente, não havia muros. A maioria também não vai à escola, porque os pais sãos medrosos de mais, então tarefas simples, como leitura, desenho, histórias e até mesmo brincadeiras, são ensinadas dentro de casa, como manda a Legião.

Onde quer que vamos, tem uma pessoa de branco e muito bem armada parada, apenas esperando qualquer sinal de perigo para nos salvar. Eles são a Legião.

Todo ano, o Laboratório Clark, liderado pela Dra. Annie Clark, seleciona os melhores ao redor do mundo. Eles passam por uma prova, que testa sua inteligência, agilidade e lealdade com eles, se tudo estiver de acordo, você se torna um membro.

Minha mãe jurava que eles faziam mais do que nos proteger e procurar antídotos para os venenos dos híbridos, mas acho que aquilo era tudo coisa da cabeça dela. Ela não quer viver assim. É louca talvez, e é tudo o que sei sobre ela, isso, e que ela é parecida comigo.

O número de suicídios cresce todos os dias, e ela quase seguiu por esse caminho antes de me deixar, papai disse que ela cortava os pulsos com frequência, como uma forma de amenizar a dor que sentia por dentro. Algo doía, a morte da vovó talvez, mas ela não está aqui para contar.

Enfim, temos a Legião, é difícil acreditar que eles façam coisas ruins, eles entregam a vida deles para salvar qualquer um de nós em perigo. Os híbridos aparecem o tempo todo, eles querem matar e comer. Sem a Legião estaríamos perdidos.

Há muitos deles entre nós, os híbridos ratos, que preferem revirar lixos e ficar nos esgotos. Híbridos de cobras, que tem força e veneno, esses são os mais perigosos, uma única mordida e você morre em minutos, também são um pouco raros. Os híbridos ursos são os mais comuns, eles são grandes, parecem muito com aqueles trolls de filmes medievais, andam só pelas florestas e emitem um som apavorante, algo entre rugido e choro de desespero.
Ok, eu realmente preciso pensar neles... São uma espécie diferente de híbridos, são nascidos assim, extremamente raros, nada além deles passa de relatos, histórias, a Legião nega a existência deles, e bem... Não há provas de que existem. Os serafins.
Os híbridos se reproduzem, e não são nada incríveis, seus filhotes são ainda mais feios...
Serafins são, um conto bonito para nos tranquilizar. Lendas de que se os experimentos tivessem dado certo, o mundo seria melhor.

Existem outros além desses, os que eu só vou descobrir quando me juntar a Legião.

Agora como tudo isso começou?

Talvez um dia eu saiba de forma mais detalhada, mas até onde sei, um laboratório queria criar soldados capazes de fazer coisas que os outros não podiam fazer, então aplicaram DNA animal em bebês, algo assim, e anos depois quando esses bebês cresceram, as coisas simplesmente saíram do controle, e eles fugiram, se espalhando e causando terror por todo o mundo, meu pai diz que o lado monstro deles, não é por conta do lado animal, e sim do lado humano, eles são como uma junção, das habilidades animais, com a maldade humana, e eu concordo com ele... As vezes.

O único problema de querer entrar para a Legião, está sentando em uma cadeira na minha frente, olhos castanhos escuros, e bigode bem aparado, uma mesa está entre nós com uma torre de uns dez waffles bem no centro, e uma jarra de suco de uva, eu acho. Papai tenta fazer o que pode, e seu auge na cozinha, são os waffles.

- Você não está comendo, porque não está comendo?- Ele pergunta com seu tom sério e calmo do qual já estou acostumada.

- Não gosto deles sem calda.- Respondo, cutucando a torre com meu garfo.