A vingança tem a cor de sangue

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      Ninguém nasce aprendendo a sentir ódio.
Mas, qualquer sentimento é mais fácil que aprender andar.

   Call quis me levar até em casa, só não conseguia imaginar como fazer parecer que de fato moro em algum lugar por aqui. Eu insisti em continuar bebendo, e ele me pagou uma garrafa de cerveja, uma bem grande aliás, o que é bom. Consigo distrair um pouco a cabeça, e parar de pensar na voz chorosa de Kate no telefone, ela estava desesperada, sozinha, e com medo.

Claro que não guiei meu caro amigo até a escola abandonada, preciso de uma estratégia boa o suficiente que o faça acreditar, ao menos por hora.

Andamos por quase um quilômetro ao sul, ele dizendo que já estava começando a me achar perigosa, e eu o acalmando jogando em sua cara, que como um cavalheiro, deveria seguir até o fim. O sorriso malicioso dele, deu a entender que ele queria muito mais do que só me acompanhar, o que talvez seja bom, isso depende de quem será mais esperto.

Finalmente, após quase vinte minutos de caminhada, eu aponto para uma casa pequena quase no fim de uma rua, as luzes apagadas, cortinas fechadas.

- Seu pai está em casa?- Ele pergunta.

Morde a isca, morde a isca.

- Não tem importância, gostaria de entrar?- Pergunto caminhando pelo gramado.

- Gostaria de muito mais do só entrar.

Eu me assusto, derrubando a garrafa, no mesmo momento me abaixo no chão para tentar juntar os cacos.

- Me desculpa, me desculpa.

Ele se abaixa do meu lado, e coloca sua mão na minha, a mão quente, suave, não parece com a mão de alguém que passa a vida inteira matando.

Ele afaga minha mão, me acalmando, a outra mão vindo agora para o meu rosto, me deixando quase ofegante, mas não de prazer ou algo do tipo. Uma das mãos puxa meu capuz para trás, revelando meus cabelos brancos que tentei esconder.

- Você...- Ele sussurra.

Na mosca.

- Eu não sou uma puta.

Antes que ele pudesse dizer algo mais, minha mão livre corre para um pedaço grande de vidro e então para a garganta exposta dele.

O olhar incrédulo, a garganta jorrando, a mão agora tentando estancar o sangramento, ele para trás, se afogando...

Mas isso não basta, subo em cima dele, e o pedaço de vidro sobe e desce várias e várias vezes, e múltiplos cortes profundos vão aparecendo, ele mal tem forças para tentar me segurar, ou tentar pedir socorro, ele apenas se afoga no próprio sangue, que escorre pela boca, nariz, e todos os cortes na garganta e rosto.

- O meu pai, é incrível, ele é um homem de verdade, ele faz as melhores panquecas do mundo.- Minha mão desce até o corte principal da garganta, eu sinto a jugular jorrando, os nervos do pescoço, meus dedos passaram e eu rasgo tudo o que consigo, ele não pode viver, vou eliminar qualquer chance disso acontecer.

Medo de sangue? Porque? É vermelho como as rosas que minha mãe plantou, como o batom de Kate, como tinta. E como o corpo de um dos responsáveis por capturar meu pai, completamente... Morto.

O silencioso mundo de Sammy Bloodstern Onde histórias criam vida. Descubra agora