CAPÍTULO 2

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O dia passa devagar e a cada hora parece estar mais e mais frio, a manta não ajuda em quase nada e na loja não tem roupas de inverno quentes o suficiente. Não há mais nada na loja além do banheiro e essa "salinha de descanso" não tenho ideia de onde possa estar o estoque de coisas de inverno, já procurei em gavetas e atrás do balcão mas achei apenas calças e umas blusinhas cumpridas não é suficiente para esse frio absurdo que veio junto com a chuva que não cessa desde a noite. Meu estômago ronca  e pego os últimos três biscoitos do pacote, foi tudo que encontrei aqui, havia mais algumas coisas no frigobar mas por estar desligado pela falta de luz estragou e tudo o que me restou foi um pacote de biscoitos recheados. Levanto inquieta e caminho até a vitrine, puxo o papel e noto que a chuva deu uma trégua, a noite vem chegando e não tem nenhum zumbi aqui em frente, talvez seria possível sair e procurar algum mercadinho ou alguma outra loja para que eu possa pegar roupas quentes. Vejo loja de artesanato, de sapato, farmácia, mas nada de roupas ou comida. Ontem passei aqui tão rápido e tão distraída que não notei nada. Andar por aí sozinha é difícil. Sempre odiei ficar só e hoje em dia odeio ainda mais, tem quase um mês eu acho que estou andando só por aí tentando sobreviver, quando tudo começou estava de férias, tinha algum tempo que ouvia falar algumas coisas no hospital que era enfermeira mas não me preocupei, imaginei ser fofoca. Alguns médicos e diretores  falavam baixinho e a sós sobre um vírus transmitidos pelos cervos, eu não caçava esses animais nem comia a carne deles então não dei ouvidos. Para mim era como uma gripe, uma virose, pensei: " a pessoa tem vômito, diarreia, febre, coisas assim" tinha muitos desses casos na emergência, depois de algumas semanas começaram a falar que as pessoas que morriam com o vírus estavam voltando do mundo dos mortos e atacando ferozmente outros humanos. Alguns diziam ser verdade, outros que era mentir. Sempre fui fascinada por tudo que falava sobre zumbis, mundo pós-apocalíptico, lia livros, assistia filmes e séries, mas pra mim era apenas uma ficção, nunca passaria disso, na faculdade de enfermagem e depois nos dois anos atuando no hospital universitário de Ann Arbor no Michigan nunca ouvi falar que seria possível alguém ressuscitar, ou qualquer coisa do tipo.

Sou brasileira nascida em Brasília e moro no Estados Unidos a mais de dez anos. Cheguei aqui por intercâmbio aos meus 15 anos e não quis mais sair, fiz o possível e o impossível e consegui viver aqui, estudei e me formei, amava minha vida, amo na verdade apesar dos pesares quero ficar viva e tenho esperança que em algum lugar exista uma colônia para os sobreviventes, esse não pode ser o fim do mundo, então vamos todos virar uns doidos e se decompor até não restar mais osos? Não pode ser assim!

Quando as coisas começaram sair do controle estava voltando de viagem, eu estive com minha família no Brasil e assim que cheguei no aeroporto de Ann Arbor o caos estava formado. Muitas pessoas queriam sair do estado de Michigan, nas ruas eram muitos carros, os mercados lotados e não parava de chegar notícias de pessoas sendo devoradas vivas. Bastou três dias, apenas isso e o governo perdeu o controle. Ninguém mais saía nas ruas e começaram trancar tudo, estocar o máximo de comida e água. Morava com uma colega de trabalho que me contou que um senhor chegou no hospital com sangue saindo do ouvido e nariz, ele babava muito e parecia um animal. O senhor havia acordado daquele estado no meio da noite e mordeu sua esposa e seu filho quando tentaram o ajudar. No pronto socorro ele fez o mesmo, mordia e arranhava quem entrasse na frente, foi assim que o vírus se espalhou, as pessoas infectadas pelo homem não demoraram a morrer e horas depois voltaram tão violentas e cheias de fome quanto o velho doidão. Nunca soube se a história dos cervos era verdade ou não, aquele homem poderia ser um caçador que ingeriu a carne de um animal contaminado, ou ele também pode ter sido mordido. Bem, é impossível saber já que sobrou pouquíssimas pessoas pra contar história.

Eu e Ashley ficamos em nosso apartamento por três meses sobrevivendo do jeito que dava, depois fomo obrigadas a sair do prédio já que não havia mais sobreviventes nem comida por lá. Ficamos perambulando e catando coisas por alguns dias até que encontramos um pessoal bacana, vivemos algum com eles e aí fomos atacados pelos zumbis quem sobreviveu correu cada um para um lado diferente e então estou aqui sozinha a mais ou menos um mês.

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