CAPÍTULO 3

13 7 1
                                    

A fome começa me deixar cada vez mais impaciente e saber que posso vasculhar este lugar e encontrar suprimentos me deixar com muita vontade de sair e mexem em cada cantinho desse quarteirão. Mas o medo ainda me prende dentro dessa loja e sinceramente, não sei se vou sair não, a não ser que eu realmente esteja morrendo de fome.

Andei demais até encontrar este lugar e agora tenho medo de sair. Tenho medo dos "monstros" que estão lá fora esperando por órgãos frescos. A pior coisa é viver sozinha em um mundo como este, se é que dá para chamar isso q vivo de mundo. Paz não existe mais em lugar algum, só se vê mortos vivos, e pessoas saqueando umas às outras ao invés de ajudar. Pô, o mundo acabou, se antes já não éramos nada, hoje em dia a coisa piorou e muito, mas ainda tem pessoas querendo se dar bem a custa dos outros, não importa o que aconteça desde que sobreviva tá ótimo.

Não sei ser assim, se não posso ajudar então não atrapalho. E foi por pensar assim que me dei mal no primeiro dia que estava sozinha, fui confiar em um grupo de três pessoas e fui roubada, tudo que eu havia arriscado minha vida pra conseguir foi tirado de mim da noite para o dia, literalmente. Aqui dentro estou protegida dos zumbis, da chuva, do vento, e dos seres humanos. E no mesmo momento que tenho vontade de sair penso que posso não voltar, talvez eu seja comida por algum zumbi, ou quem sabe este lugar seja encontrado por outra pessoa. Nunca fui uma mulher de ter medo mas ultimamente depois de tudo o que aconteceu e estar sozinha apenas com um pequena faca não me parece algo propício para coragem.

Enrolo a mantinha em meu corpo e lembro das coisas a meses atrás, quanto tempo passou? Um ano? Talvez. Não sei em que dia estamos ou que horas são. Apenas sobrevivo, um dia após o outro.

(...)

Meu estômago dói a ponto de ter náuseas pela fome. Hoje completa três dias sem pôr nada de alimento na boca então decidi que vou sair e procurar por algo. A chuva a alguns dias atrás trouxe com ela frio, foram dias que tremi muito mas hoje o sol está brilhando desde cedo, não tem zumbi na rua então acho que hoje não há desculpas para mim, afinal tenho minha faca companheira desde que saí do apartamento e também sei dar alguns golpes de artes marciais, se sobrevive um mês nas ruas do estado de Michigan posso sobreviver algumas horas longe daqui.

Respiro fundo e abro devagar a porta da loja, ajeito a manga da blusa que está me incomodando muito, ter três blusas uma enfiada por cima da outra me dá agonia,  sigo cautelosamente pelas ruas olhando cada fachada para saber de que se trata o estabelecimento, passo em frente a uma padaria e minha boca saliva lembrando dos bolos e doces. Será que ainda existe algo lá? Corro até o outro lado da rua e olho pelo vidro da vitrine, tem vários zumbis. Certamente não vale a pena arriscar tanto assim, aqui não deve ter nada já que praticamente tudo é perecível. Sigo minha caminhada até encontrar uma loja, porém a porta trancada me impede de entrar pra saber o que há lá dentro. Devo jogar algo no vidro pra quebrar e entrar? Neste é o certo mas mas iria chamar muita atenção, e alguns zumbis na rua ao lado me diz que é bom eu ser o mais discreta possível. Continuo caminhando em alerta e um pouco frustrada já. Talvez eu já tenho andado por uma meia hora e até agora não encontrei nenhum lugar fácil de entrar, ou tem zumbis perto, está trancado a sete chaves ou cheio dos "cabeças ocas" e por estar sozinha tenho que ter cautela, se algo acontecer, não tenho ninguém pra me ajudar.

(...)

Alguns pingos começam a cair e penso em desistir, estou andando a horas e não vi mais nada que eu possa entrar já que os lugares que estavam fácil já estavam vazios. Pelo menos consegui um par de tênis e alguns casacos, não sei em que época do ano estamos mas julgando pelo clima deve ser inverno, ou início dele então conseguir roupas e calçado quentes foi ótimo. Para ser perfeito eu preciso encontrar algo para comer. De longe avisto alguns carros e corro até eles. Vasculho o primeiro e encontro uma lata de refrigerante, duas maçãs e alguns remédios. Mordo uma das maçãs e sorrio com o gostinho doce invadindo minha boca. Sigo para o segundo carro onde encontro uma cadeirinha de bebê toda ensanguentada e uma bolsa de bebê com uma fralda para fora. Um bolo enorme se forma em minha garganta mas não tenho tempo para chorar como quero, quando me dou conta tem um zumbi com os braços esticados para me pegar, puxo minha pequena e fiel faca do bolso e enfio como posso no crânio do desgraçado. Sigo para o terceiro carro ainda com a faca na mão e olho de perto me assustando em seguida com uma zumbi que bate no vidro na tentativa de me abocanhar. Olhando atentamente dentro do carro a uma bolsa geralmente usada para acampar então suponho que lá tenha alimentos. Abro com cuidado a porta do carro e seguro o que um dia foi uma mulher pelo cabelo e enfio a faca na nuca dela jogando-a no chão em seguida. Pego a bolsa e vasculho a mesma. Encontro dois pacotes de bolachas, uma garrafa d'água, uma de leite que é pena mas não vou poder usar e algumas latas de sopa enlatada. Agora sim posso voltar para o meu covil.

Ouço risadas perto e me escondo atrás de um dos carros, assim que os dois viram a esquina recomeço como um dos caras que me roubou e por pouco não me estuprou, o outro não sei quem é, talvez cúmplice, talvez mais uma pobre vítima do grupo.

Grunhidos atrás de mim fazem me virar bruscamente quase caindo da ladeira em que me mantinha abaixada, tento discretamente enfiar a faca nele mas o infeliz é mais rápido e acabo não conseguindo me desvencilhar das mãos nojentas do desgraçado. Sinto um desespero absurdo e as lágrimas começam a cair, é o meu fim mas antes de estar tudo acabado continuo lutando tentando matar o infeliz e quando consigo enfim enfiar a faca em seu crânio tropeço e caiu rolando pela grama indo em direção a rodovia cheia de mortos vivos quando enfim paro de rolar sinto algo quente em meu rosto e minha perna dói demais, a tontura me impede de levantar e aos poucos vou fechando involuntariamente os olhos.

DEPOIS DO APOCALIPSEOnde histórias criam vida. Descubra agora