7. História

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      Engulo em seco ao ver tudo isso. Desmonto de Amuleto e a coloco presa em uma árvore, atrás de alguns arbustos, onde não conseguirão vê-la.

     Fecho mais a capa que roubei, então começo a andar na antes linda ponte de cristal - agora suja de areia e terra -, que tem a mesma aparência de meu lustre. Só que mais resistente. Foi criada a 200 anos atrás, quando a magia ainda existia. Um presente de coroação para o primeiro rei humano de Oceanside.

      Foi muita comemoração na época, mas deviam ter se arrependido muito depois; ele estragou a monarquia, e trouxe o que todas as outras monarquias são: corruptas, ambiciosas, desconfiadas, querem sempre ser melhores que as outras, entre outras coisas que se vê até hoje.

     As construções eram sempre de cores azuladas e brancas, e hoje, está tudo cinza e destruído. Janelas quebradas, arranhões nas paredes, buracos nelas; e cada passo que dou, vejo um morador de rua. Eram meus súditos, e agora passam fome e frio nessas ruas. Não é culpa deles, e estão sofrendo as consequências de algo que eles não tem nada a ver. Isso é uma injustiça! Por que nada tem que ser justo nesse mundo? Por quê?

     Enquanto ando pela rua principal, onde antes havia milhares de lojas lindas, casas e padarias; antes sempre maravilhosamente iluminadas, lixo se acumula. Os postes estão caídos no chão, como se um furacão tivesse passado por aqui. Como se não tivesse sido uma invasão normal.  Olavo tem magia, igual Selena. Acho.

     É muito possível, na verdade.

     Os habitantes não falam, só ficam encolhidos em seus cobertores, mesmo que alguns levantam o olhar quando passo, não falam. Estão deprimidos, e com razão. Tudo foi arrancado deles da noite para o dia.

     Quando olho para o lado, dentro das construções, vejo algumas pessoas em sacos de dormir, ou em colchões velhos. Não são velhos, apenas estão assim por causa da invasão, penso. Essa invasão realmente dizimou o reino.

     Mas uma das pessoas me chama atenção; uma mulher com três crianças em volta, levantando a mão para que eu vá até ela, fazendo sinal de imploração. Me aproximo rápido. Não vou deixa-la morrer de fome.

- Senhora, precisa de alguma ajuda? – pergunto, me abaixando. Ela não diz nada. - Quer comida? – A mulher balança várias vezes a cabeça para sim, como se estivesse desesperada.

     Pego a sacola que Roland me deu, então tiro um pão caseiro que sua mulher fez, e dou para ela.

- Obrigada – Sua voz sai rouca, quase inaudível. Puxo uma cantil de água, que também lhe dou. A mulher oferece as crianças, e logo depois toma o resto da garrafa. - Obrigada, obrigada, obrigada. - ela diz, normalmente. - Estava há dois dias sem beber água.

- Moça, você poderia me dar uma informação?

- Claro! Diga querida. - A mulher não parece ter mais de 25 anos, e as crianças 4. Eles estão sofrendo, ainda tão jovens. Deveriam é estar aproveitando a vida.

- Como, exatamente, ocorreu a invasão?

     Ela engole em seco.

- Era de noite, todos já estavam dormindo, quando de repente, vários sinos começaram a tocar na cidade, em alerta. - Existem sinos em todas as praças de Maré, justamente para isso. - Eu sai de casa com meus filhos e meu marido, mas quando olhamos para entrada da cidade, um batalhão inteiro estava vindo em nossa direção, derrubando todos que viam pela frente; e logo atrás do batalhão, estava o rei Olavo, em cima de uma carruagem, com as mãos brilhando branco, fazendo um grande vento chegar na cidade, quebrando vidros, postes; fazendo a areia da praia vir para cidade, como uma tempestade. Entramos correndo dentro de casa, e nos escondemos no banheiro, onde não tem janelas. Ficamos não sei quanto tempo lá dentro, então meu marido foi ver se tinha acabado. Ele nunca mais voltou. – A mulher respira fundo - Não sei o que aconteceu durante esse tempo, desculpe não poder ajudar mais.

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