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As baixas temperaturas caraterísticas da cidade inglesa coagiram a mexicana a cingir o seu quente casaco contra a esbelta fisionomia e a resgatar o par de luvas do interior da bolsa negra, recôndito dos seus essenciais pertences e do material necessário a mais um dia de aulas. Beneficiando da necessidade de revirar o interior do objeto, optou por, também, descobrir o paradeiro das chaves da sua viatura, não refreando a frustração ao falhar, inicialmente, a sua missão.

- Puta mierda. - Fazendo uso do seu idioma mãe, Naiane rezingou, empregando uma maior intensidade nos movimentos a que procedia sobre a imensa tralha existente. - Sou mais teimosa do que tu. - Murmurou, sorrindo amplamente quando, finalmente, os seus dedos fricionaram levemente o metal. Não hesitou em agarrá-lo.
Todavia, o festejo a que preparava-se para exteriorizar pela conquista operada foi retardado, por consequência da súbita colisão do seu corpo com outro.

- Encontra-se bem? - A rouca voz, dotada de uma patente afabilidade e preocupação, conduziu-a à conclusão que havia embatido num indivíduo do sexo masculino. - Perdoe a minha distração. Confesso que permiti-me distrair com o telemóvel. - Acrescentou, estendendo a sua mão na direção da rapariga que, prontamente, a aceitou.

- Não se preocupe. - A morena sentiu a necessidade de tranquilizar o rapaz. - Obrigado. - Agradeceu o gesto, enquanto sacudia a ligeira porção de terra que, em virtude da queda, se havia colado às suas jeans. - A culpa é, igualmente, minha. Estava a tentar desvendar o paradeiro das minhas chaves do carro. - De forma espontâneo, e quase irreflectida, revelou provocando, ao bonito moreno, uma gargalhada.

- Não me diga que tem a mala sempre repleta de coisas que, verdadeiramente, não importam. - Perante o humorístico comentário do jogador, foi a vez da mexicana deixar escapar uma risada.

- Culpada. - Admitiu, aumentando a diversão vivenciada pelo internacional inglês.

- A minha mãe é, exatamente, assim. O que posso mais dizer? Mulheres. - Trent proferiu, exibindo um erguer de ombros, que proporcionou a Naiane um profundo revirar de olhos, ainda que o pitoresco sorriso persistisse em adornar os seus bonitos traços faciais.

Queria refutar mas, na realidade, não conhecia o que sequer falar. A curiosidade encerrada no encantador castanho do desportista fê-la corresponder ao contacto visual, contribuindo para a intensidade que demarcava o momento.
Uma desconhecida sensação habitou o seu ventre e uma tonalidade diferente daquela que, habitualmente, residia nas suas bochechas apoderou-se das mesmas.
O camisola sessenta e seis da formação comandada por Klopp abriu a boca apenas para a voltar a fechar.
Não havia nada que pudessem mais dizer; não quando os olhares encarregavam-se de o fazer.

Um infantil timbre de voz, povoado pela genuína animação, coagiu o casal a quebrar a veemente troca de olhares e procurar pela exata localização da criança, encontrando-a numa corrida em direção a ambos.

- Trent, podes tirar uma foto comigo, por favor? - Ainda que manifestamente incapaz de conter o entusiasmo por encontrar-se diante do seu ídolo no universo do desporto-rei, o petiz, de forma educada, solicitou ao profissional de futebol que, com o seu caraterístico sorriso e simpatia, concedeu-lhe uma afirmativa resposta.

Trent. Naiane sorriu ligeiro com a informação, involuntaria e inocentemente, cedida pelo infante e anotou-a mentalmente, almejando a sua ímpar distração não a conduzisse ao esquecimento.
Possuía a sensação que, de algum lado, o conhecia.

Yes, I do | Trent Alexander-Arnold Onde histórias criam vida. Descubra agora