CLEMENTINE
-Você não vai atender?- Saraa estava inclinada em direção a minha mesa, suas mãos cheias de relatórios que eu precisaria para concluir uma matéria. Não havia conseguido fazer meu trabalho a noite, então teria que usar meu turno no escritório para isso, o que era péssimo, porque a minha mente entrava em pane com todos os barulhos a minha volta.
-É um número desconhecido.- digo depois de quase um minuto inteiro tentando lembrar de uma palavra específica para pôr no meu texto.- Se for algo relacionado a trabalho, vão ligar pra cá. -concluo, vendo o telefone tremer em cima da minha mesa.
-Mas parece ser bem urgente.- ela continuava olhando para o identificador.- Toca sem parar por quase três minutos.
-Não vou atender um desconhecido.
-Talvez a pessoa te conheça, mas você não conheça o número.- me passa um dos relatórios, já o abrindo na página certa.
O telefone continuou tocando mesmo quando o meu trabalho terminou, o número desconhecido aparecendo de cada meia em meia hora. Estava decidida a guardar o aparelho na minha mochila, lugar onde ele estava acostumado a estar, mas paro quando vejo que também havia uma mensagem.Atende, sou eu.
O texto curto e direto só poderia vir de uma pessoa, então quando o telefone toca novamente, eu corro para o banheiro e me tranco em uma das cabines vazias antes de deslizar meu dedo pelo botão de "aceitar chamada".
-Alô?
-Oi. -O tom dele parecia mais vivo do que o habitual. -Você pode falar?
-Hm, sim?
-Eu... Vou fazer um evento fechado, para os fãs, pensei que seria uma boa oportunidade... -Ele respirou fundo. -Vou reformular, um segundo. -Ele limpou a garganta. -Tem esse evento e eu queria que você fosse, você também pode escrever sobre isso se quiser.
-Me chefe não me passou nada sobre isso.- fecho os olhos tentando visualizar a minha agenda.-Eu nem sei o dia ou a hora, acho que cometeram um erro, eu vou conversar com o sr.Warren...
-Vou te mandar tudo, não era algo que vocês teriam acesso de qualquer forma, mas eu quero que você vá, pode ser?
Fico muda e mantenho meus olhos nas feridas que estavam na madeira da porta a minha frente. O que Yoongi estava fazendo, afinal? Me dando exclusividade em eventos e usando um tom simpático.
-Porque você quer que eu vá?
-Sinceramente? Eu não sei... Apenas seria bom ter você lá. -Ele suspirou. -Posso contar com isso?
Sentada na tampa do vaso, eu realmente considerei todos os caminhos que minhas respostas para aquela pergunta poderiam me levar. Parecia fácil demais para ele, pedir desculpas pelos últimos anos e então se aproximar, ligando no meu horário de trabalho e pedindo que eu fosse para eventos privados. E talvez, por ser fácil demais, eu estivesse relutando tanto.
Mas havia todo o peso dos anos que passamos separados, em que eu alimentei um sentimento sem forma ou cor, algo que eu não podia explicar, por mais que estivesse crescendo dentro de mim. Crescendo até que eu me sentisse desconfortável, querendo que ele simplesmente sumisse.
E então, no último sábado, Yoongi mostrou novamente o seu "eu" que me era reconhecível, e eu percebi que estava esperando por um momento como aquele, onde eu pudesse ter motivos para exterminar a magoa que eu sentia. Por mais que esses motivos fossem simples, havia paz na simplicidade, então eu ficaria com ela.
-Tine?
-Eu vou.- digo com um fio de voz, precisando respirar fundo para me fazer ser ouvida.- Mande o endereço e o horário. E por Deus, corte o cabelo para ver suas fãs....
O táxi estacionou em frente ao pequeno pub e eu pulei para fora rapidamente, temendo que outros repórteres estivessem à espreita, tentando pegar alguma coisa do evento de Yoongi. Na pequena recepção que antecedia as portas de madeira e vidro negro, haviam dois homens altos e largos, que perguntaram meu nome e me fizeram esperar dois minutos antes que eu pudesse finalmente entrar no espaço.
O lugar do lado de dentro não devia ter mais de cinquenta pessoas, todas acomodadas em mesas posicionadas em frente a um pequeno palco. Tudo em relação aos fãs do Yoongi era variável, então me peguei pensando no quanto ele havia trabalhado para alcançar todos os tipos diferentes de pessoas.
Acomodo-me em uma das mesas, não olhando diretamente para ninguém, e não preciso esperar dez minutos antes que o show comece.
Yoongi surge tranquilo de uma das coxias, junto com alguns de seus músicos, mas sem nenhum apoio vocal. Ele sorri para as pessoas, que aplaudem e gritam seu nome, e depois ergue uma mão, pedindo silencio.
-Fico muito feliz que vocês estejam aqui.- seus olhos correm pelo pequeno grupo, me achando facilmente.- Agradeço por terem conseguido vir.- diz olhando diretamente para mim, me dando um sorriso de boca fechada antes de começar a cantar, a capela, o começo de mais uma de suas músicas.
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Clementine
FanfictionVale a pena realizar um sonho as custas do que você mais ama? Clementine sempre esteve com seus pés firmemente pousados no chão, haviam poucas coisas no mundo que a faziam titubiar ou olhar em volta, e uma dessas coisas era Yoongi, que a deixou qua...