Capítulo 1

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Nina Petrov

Estava quente demais e eu acordei com falta de ar, muito cheiro da fumaça e minha mãe gritando. Eu tinha dez anos e estava deitada no meu quarto, tentei ver a hora no relógio, eram 3:46 da manhã. Meu quarto estava tomado de fumaça. Levantei da cama com dificuldade por causa da falta de ar. Abri a porta do meu quarto e vi tudo em chamas.


Entrei em pânico e tentei chegar até o quarto da minha mãe. Ela estava gritando pelo meu nome desesperada, mas a porta do quarto dela estava fechada. Tinha fogo para todo lado e eu não sabia o que fazer.

- Mãe.... Mãe.... - Gritava enquanto passava por cima de alguns pedaços de madeira que caíram do teto.

Cheguei até a porta do quarto e a maçaneta estava muito quente, tentei achar algo em volta, mas não tinha nada. Tudo já estava queimado. Tirei minha camisa enrolei na mão e tentei abrir a porta. Mas a maçaneta estava derretendo, mole e não conseguia abrir. Comecei a socar a porta. Mas a porta não abria.

Comecei a escutar pessoas gritando do lado de fora da casa, fui correndo até a janela do corredor e vi meus vizinhos com vários baldes e mangueiras jogando água na entrada da casa desesperadamente. Tentei gritar para avisar que minha mãe estava presa, mas estava com pouco ar e ninguém conseguia me ouvir.

Voltei para a porta do quarto da minha mãe e comecei a me jogar contra a porta como eu cansei de ver nos filmes para tentar derrubar, é claro que com o meu corpo e tamanho eu não conseguiria, a minha sorte é que a porta por causa do jogo já não estava tão resistente como antes, e depois de muito esforço e dor no ombro eu consegui abrir.

A cena era a pior que eu poderia ter visto e tenho certeza que isso nunca vai sair da minha mente. Minha mãe estava deitada no chão, com alguns pedaços do teto em cima dela, só conseguia ver metade do ombro direito pra fora, os braços e a cabeça dela. Minha mãe com a cabeça apoiada no chão.

- Mãe eu vou te tirar daí. - Eu falava desesperada... - Eu vou te tirar mãe...

Comecei a andar de um lado para o outro no quarto tentando achar algo que me ajudasse a tirar minha mãe dali. Meu pânico só aumentava, minha respiração ficava acelerada e com a fumaça a casa minuto a dificuldade para respirar era maior, sentia dor no peito por tentar puxar o ar.

Sentei ao lado da minha mãe, ela levantou um pouco a cabeça e me olhou tentando sorrir. Pude ver um corte profundo na testa e saia um pouco de sangue, segurei as lágrimas que tentavam sair de meus olhos, mas era quase impossível. Escutamos uma explosão e eu vi coisas caindo no corredor. Minha mãe estendeu a mão e eu segurei.

- Filha.. vai embora.. - Minha mãe disse com dificuldade.

- Mãe eu vou te tirar daqui. - Falei segurando o choro apertando a mão dela.

- Nina. Você precisa ir ... Agora... - Minha mãe falou mais firme.

- Não posso te deixar aqui mãe. - Falei sem conseguir segurar as lágrimas.

Escutamos mais uma explosão e logo depois a sirene dos bombeiros. Fiquei deitada ao lado da minha mãe, ela me pedia para ir. Mas eu não poderia deixa - lá sozinha. Fiquei segurando a mão dela e em alguns minutos escutei pessoas entrando na casa, escutava os passos rápidos em nossa direção.

- Nina.... Jenny... Aonde vocês estão? - Um homem gritou.

- Aqui em cima. Rápido... Minha mãe está presa. - Falei com dificuldade segurando a mão a minha mãe. - A ajuda chegou mãe. Vamos sair daqui. - Falei mas minha mão nem se mexeu.

Minha mãe estava de olhos fechados. Ela estava cansada e com dor, o ar estava muito pesado. Estava difícil se respirar. Os bombeiros logo chegaram ao segundo andar, eu gritei outra vez e eles apareceram na porta do quarto. Os homens se aproximaram rápido um dele me pegou no colo para me tirar do quarto e o outro foi na direção da minha mãe.

- Não... me solta. Tem que levar a minha mãe. Só saio daqui com ela. - Comecei a me debater no colo dele.

- Nós vamos resgatar sua mãe. Fica calma. Mas você está com vida. Precisa sair primeiro. - O Homem falou e as palavras dele me atravessaram como uma bala.

- Você está com vida. - Falei pra mim baixo.

Fiquei olhando em direção a minha mãe, dois bombeiros estavam com ela, tentando tirar os pedaços de teto de cima do corpo dela. Eu sentia meu corpo gelar apesar de todo o fogo, e meu coração parecia estar desacelerando junto com o resto do mundo.


Sai da casa no colo do bombeiro. Fui recebida pelos meus vizinhos que estavam desesperados. Eu estava sem entender nada.

O bombeiro me levou até uma das ambulâncias e dois enfermeiros rapidamente se aproximaram de mim, colocaram um respirador em meu rosto e começou a ficar um pouco melhor para respirar, eles começaram a limpar meus ferimentos.

- Qual o seu nome? - O enfermeiro me perguntava. - Só tem você e sua mãe lá dentro?

Eu só conseguia olhar para a porta, a frase do bombeiro não saia da minha cabeça, parece que fiquei presa nela. "Você está com vida". As pessoas estavam a minha volta falando, me perguntando coisas, mas eu não conseguia ouvir nada, em minha cabeça se repetia a cena de minha mãe deitada e a frase do bombeiro.

- Você sabe como o incêndio começou? - Um bombeiro pergunta.

Eu fico olhando a porta da minha casa e depois de muitos minutos um bombeiro sai com minha mãe e coloca em uma maca. Os enfermeiros se aproximam correndo e começa a mexer em minha mãe, mas logo param. Saio da ambulância e vou em direção a maca, alguém tentou me impedir, mas eu continuo. Quando me aproximei minha mãe estava com queimaduras em quase todo o corpo e com fraturas expostas da cintura para baixo, muitos hematomas no corpo e com os olhos fechados.

- Mãe... Acorda... - Olho para o bombeiro - Leva minha mãe para o hospital rápido. - Sinto uma mão no meu ombro. - Por favor.

Um enfermeiro se aproximou e cobriu minha mãe com um saco preto. Olhei em volta e todos os vizinhos estavam chorando. Uma amiga da minha mãe colocou a mão no meu ombro e tentou me puxar para perto dela. Eu puxei meu ombro de volta e tirei o saco de cima da minha mãe.

- Assim ela não vai respirar, pega aquela máscara da ambulância e coloca nela... Vamos levar ela logo. Ainda dá tempo. - Falei tentando empurrar a maca, mas um bombeiro me parou.

Eu não tinha forças, ainda estava com dificuldade para respirar e com muita cor no corpo. Bombeiro me abraçou e falou com uma voz doce enquanto passava a mão no meu cabelo.

- Menina.... Sua mãe se foi... Você tem pai? Vamos entrar em contato com ele. Mas agora, você precisa ir para o hospital. Sua mãe não volta mais, e você precisa se cuidar. - Ele falava e mexia no meu cabelo.

Eu escutei cada palavra dele e isso me deixou em choque. Eu não conseguia falar, chorar ou gritar. Parecia que de alguma forma ele tinha paralisado meu corpo. Ele me soltou, eu só confirmei com a cabeça. Um enfermeiro segurou minha mão e me levou até a ambulância, e eu apenas o segui. Daniela a amiga da minha mãe foi junto comigo. Ela pegou o celular e me entregou chorando.

- Nina. Liga para o seu pai. Ele precisa saber. - Peguei o telefone.

Disquei o número e começou a chamar. Eu estava em choque, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Eu, sem dúvidas estava em um grande pesadelo, daqui a pouco eu iria acordar e ver que isso tudo não passou de um sonho ruim e que minha mãe está deitada na cama dela dormindo.


O começo Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora