Nina Petrov
O telefone chama mais algumas vezes e meu pai atende. Escuto a voz de sono dele e lembro que era de madrugada. Deveria ser quase cinco horas da manhã. Ele atende um pouco irritado e com razão.
- Alô... – Não consigo falar. - Sério que estão de brincadeira no telefone a essa hora da manhã?
- Pai... – Tento falar, mas só sai isso.
Flashback On
Meu pai é casado a alguns anos. Tem um filho de treze anos, Dominic, e eu sou fruto de uma traição. Vou fazer onze anos daqui a uns meses. Nossa diferença de idade é de quase dois anos. Tivemos pouco contato, apenas quando a mulher dele descobriu a traição, e não foi nada legal.
Alice era medica, uma mulher linda, loira, alta, olhos cor de mel, muito bem arrumada, inteligente e de personalidade forte. Ela sem dúvidas amava meu pai, isso era obvio. Dominic era alto, loiro, branco com algumas pintas, olhos azuis e forte. Muito parecido com meu pai, que hoje só estava com alguns fios de cabelo branco, que quase não dava para perceber.
Minha mãe, Jenny, não era tão alta assim, tinha cabelos pretos longos, até a cintura, olhos azuis, magra e sempre com um sorriso no rosto. Meu pai sempre passava na lanchonete da minha mãe. Tinha os melhores salgados do mundo, e não sou eu que estou falando. Todos falam isso.
Como eles se conheceram? Meu pai uma certa tarde, atrasado para uma reunião, não teria como almoçar, indicaram pra ele a lanchonete da minha mãe, que ficava perto do trabalho dele. Ela diz que a simpatia e o sorriso dela que conquistou meu pai de primeira. Eles se conheceram 2 anos antes de eu nascer. Quando eu meu pai estava começando o casamento com Alice. Minha mãe não concordava com isso, mas ela diz que o amor falou mais alto, ela se sentia culpada, mas amava meu pai.
Então tudo aconteceu. Meu pai nunca morou ou dormiu com a gente. As vezes ele passava uma tarde e só. Mas sempre vinha nos meus aniversários e datas comemorativas na parte da manhã. Eu descobri da outra família dele quando tinha 8 anos. Quando Alice invadiu a nossa casa na Páscoa e fez um escândalo. Eu não entendi na época. Mas hoje não culpo ninguém. Cada um tem a sua parcela de culpa.
Nesse dia conheci Dominic, ele estava com raiva de tudo, então nem falou comigo. Me lembro de chorar a noite toda, enquanto minha mãe chorava no quarto dela. No dia seguinte minha mãe conversou comigo e disse que não queria que eu tivesse raiva de ninguém, nem da Alice, Dominic ou de meu pai, que todos eram pessoas ótimas e que o aconteceu era culpa e problema dos adultos, eu não deveria me envolver. Com o tempo a raiva passou.
Depois disso meu pai vinha me visitar menos, mas nunca deixava de vir aos meus aniversários sempre trazia um presente, mas a presença dele era a melhor coisa que eu poderia desejar. Sentia muita falta dele. Mas sabia que tinha que ser assim.
Flashback Off
- Nina? Aconteceu alguma coisa? – Escutei Alice reclamar de algo no fundo.
- Pai... Desculpe a hora... Não quero atrapalhar.... Mas a nossa casa... Pegou fogo. – Escuto meu pai levantar correndo.
- Como assim pegou fogo? Nina Aonde você está? Vocês estão bem? – eu não conseguia falar e entreguei o telefone para o bombeiro.
Parecia que me faltava ar, mesmo com uma máscara com oxigênio na mão, eu não consiguia respirar. E falar com meu pai só estava me deixando mais nervosa. Como eu iria explicar o que aconteceu com a minha mãe? O bombeiro fica me olhando com pega e pega o telefone.
- Bom dia Senhor? – O bombeiro esperou a resposta. – Senhor Klaus Petrov, é difícil falar isso, mas a casa em que sua filha morava pegou fogo. Estamos levando-a para o hospital geral agora. – O bombeiro para e fica escutando. – Ok... Hospital San Jose – Ele fala fazendo um sinal para o motorista. – Encontraremos o senhor lá.
O bombeiro desliga o telefone tentou sorrir pra mim. Daniela pegou o telefone e continuou chorando. Eu encostei a cabeça na ambulância e fiquei tentando digerir tudo o que tinha acabado de acontecer. O bombeiro ficou me olhando algumas vezes durante o caminho, como se estivesse observando se eu estou bem ou não. Assim que chegamos ao hospital eles tentam me colocar em uma maca, mas eu não aceitei. Entrei no hospital de cadeira de rodas e me levaram direto para uma sala fazer exames.
Fiz todos os tipos possíveis e impossíveis de exames. E logo depois fui levada para um quarto, ele era enorme, tinha a minha cama, um sofá, um frigobar, televisão, banheiro, tinha, mas luxo do que a minha casa toda e por isso eu não me sentia confortável.
Esperei os enfermeiros saírem do quarto e levantei da cama. Peguei o suporte e soro e levei até uma poltrona, fiquei sentada na cadeira olhando para a porta, esperando meu pai chegar. Eu não me sentia bem naquele hospital de rico, não era o meu lugar.Eu tinha o mesmo plano de saúde que Dominic tinha. Ganhava tudo no mesmo nível que ele, roupas e brinquedos. Só não estudava no mesmo colégio que ele porque eu não queria, não iria me sentir bem. Mesmo assim minha casa era simples, minha mão não aceitava dinheiro para ela do meu pai, apenas para coisas básicas para me sustentar. Mas eu não tinha a vida como a deles, eu não pertencia a esse mundo. E eu realmente não estava à vontade naquele hospital.
Depois de algumas horas meu pai chegou desesperado e sozinho. Vejo pela porta ele falar com o médico que era amigo dele, o mesmo que me acompanhava nos exames de rotina. Meu pai se assusta e vejo que ele começar a chorar, sem dúvidas tinha acabado de receber a notícia da morte da minha mãe, foi a primeira vez que eu vi meu pai chorar e isso só piorou as coisas. O médico apontou em minha direção e meu pai me olhou. Se despediu do médico e veio andando em minha direção secando as lágrimas, mas não adiantava, eu já tinha visto.
Ele chegou perto e antes de falar qualquer coisa me abraçou com força. E ficou segurando o choro, nem com meu pai ali eu conseguia chorar. Eu não tinha emoção, não conseguia. Depois de alguns minutos meu pai me soltou. Passou a mão no meu cabelo ficou me olhando.
- Como você está filha? – Ele me perguntava preocupado.
- Só quero ir embora. Me leva pra casa... – Ele confirma com a cabeça.
Ele chama o médico e o mesmo começa a dar informações sobre curativos, medicamentos e ajuda psicológica. Ele indicou todos os médicos possíveis. Disse que eu estava em observação. Enquanto ele falava uma enfermeira retirava o acesso do soro e terminava os últimos detalhes para a minha alta. Ela sorria de forma leve e tentava ser simpática, queria retribuir, mas eu só queria que tudo aquilo fosse um pesadelo.
Eu não tinha mais roupa para sair porque estava queimada e foi jogada fora, eu estava usando uma camisola do hospital. Meu pai tirou o casaco e colocou em mim, que virou um vestido que arrastava no chão. Andamos em direção ao carro e seguimos nosso caminho.
Durante a viagem eu fiquei com a cabeça na janela olhando a passagem. Eu não tinha vontade de conversar e meu pai não sabia como iniciar uma conversa depois de tudo que aconteceu. Em uma hora chegamos à casa dele. Nunca tinha vindo aqui. Mas sabia que não era a minha casa. Ele entrou na garagem, estacionou, desceu do carro, abriu a porta e me ajudou a sair.
A casa era enorme e de muito bom gosto. Com um jardim muito grande e lindo, cheio de flores, muitas árvores e iluminado. Tinha uma piscina, tudo era muito organizado e limpo. Na entrada tinha uma enorme porta de madeira que abria com a digital. Eu não estava à altura de entrar na casa. Fiquei parada na porta, meu pai me segurou pela mão e me fez entrar.
Eu não me sentia à vontade, e comecei a senti algo, meu estomago revirava, eu estava com medo e nervosa com a forma que eu seria recebida.Quando entrei a primeira cena que vi foi Dominic sentado nervoso no sofá de pijama e Alice com raiva também de pijama andando pela sala. Quando ela me viu a raiva dela só aumentou. Ela levantou olhou para meu pai e falou gritando.
- Não acredito que você a trouxe pra cá Klaus. - Alice falava com raiva me olhando.
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O começo Do Fim
ChickLitO que contar da minha história? Eu fui fruto de um relacionamento proibido, uma traição. E depois de alguns anos perdi minha mãe em um incêndio e tive que ir morar com meu pai e a família dele. Eu sempre fiz tudo para não criar problemas e agradar a...