Crianças Perdidas

Daniel Silva

Daniel é um lindo garoto de quatorze anos de idade, moreno como jambo e de olhos grandes e esverdeados como um par de esmeraldas. Sua história poderia ser igual à de qualquer garoto pobre do Pará, mas sua vida se enveredou por caminhos mais monstruosos, seu pai o abandonou quando ainda era um bebe, deixando sua mãe na miséria, passaram fome por diversas vezes e aos cinco anos de idade conheceu o próprio diabo na forma de padrasto. João era um homem que passava boa parte do dia bebendo em vários botecos e lhe espancava por acha-lo um tanto afeminado e aos nove anos de idade foi violentado pelo mesmo motivo.

Ele chegou em casa mais uma vez bêbado, abriu a porta com um pontapé, dona Maria do socorro não estava em casa naquela noite, Daniel brincava com um boneco, ele o puxou para um canto e o atirou no chão.

__ Onde está sua mãe? __ perguntou ele rudemente.

__ Não sei __ respondeu Daniel sem dar muita atenção.

__ Aquela vadia desgraçada saiu e me deixou sem janta de novo? __ João parecia furioso, foi quando olhou para Daniel que havia se sentado em um canto da sala __ o que você está fazendo?

__ Nada __ respondeu Daniel levantando-se.

__ Onde você pensa que vai?

__ Vou procurar minha mãe __ respondeu ele.

Mas no momento em que Daniel ia passando João o agarrou pelo braço e o puxou de volta, ele o empurrou contra a parede e o esganou, Daniel tentou gritar mas foi impedido, ele o jogou no chão e arrancou suas roupas, Daniel ainda tentou escapar, mas era muito pequeno e frágil diante de seu padrasto, tudo aquilo não demorou mais do que dez minutos mas para Daniel parecia uma eternidade, João se levantou e arrumou suas roupas.

__ Isso é para você virar homem __ cuspiu ele após o estupro deixando-o jogado no chão __ esse é nosso segredinho, se você não vai contar isso para ninguém ou então eu te mato e depois mato a vaca da sua mãe e fujo com meus filhos__ ele era pai dos dois filhos caçulas dona Maria do socorro.

Daniel sentiu vontade de chorar, mas não o fez, jurou para si mesmo que nunca choraria, teve vontade de contar a sua mãe tudo havia acontecido, porém, mais uma vez sentiu medo, tinha medo de seu padrasto cumprisse aquilo que prometeu, se algo acontecesse a sua mãe ele teria que viver com seu João e seus dois irmãos.

O tempo foi passando lentamente e João ainda tentou violentar Daniel mais uma vez, mas ele jamais imaginaria que aquele garoto franzino criaria coragem e forças para enfrenta-lo, ele puxou uma faca e avançou contra ele que teve de se desviar para não ser esfaqueado na barriga.

__ Seu garoto maldito __ resmungou João.

__ Nunca mais __ João sentiu toda a fúria e ódio na voz de Daniel __ você nunca mais vai encostar em mim__ Daniel tremia dos pés à cabeça, uma lágrima escorreu de seus olhos que agora estavam vermelhos como sangue.

Daniel sentia nojo daquele homem e não pode deixar de se sentir feliz quando a polícia bateu em sua porta para comunicar sua morte após uma briga com outro bêbado. Mas a alegria de Daniel não durou muitos dias, por pior que fosse a vida com João, sem ele piorou, sua mãe, dona Maria do Socorro, não conseguia sustentar a casa sozinha e ele teve que abandonar a escola para poder ajuda-la.

E mais uma vez a vida lhe deu uma rasteira, com pouco estudo e sem nenhuma experiência só encontrou portas fechadas.

Como já disse essa poderia ser a história de qualquer garoto pobre de nosso país, mas não, essa é a história de Daniel Silva, também conhecido na noite como "Katia Cristian".